O governo Lula lançou nesta segunda-feia (22) o Nova Indústria Brasil, uma política industria que promete R$ 300 bilhões em financiamento com dinheiro público para o setor até 2026. O BNDES vai administrar o plano de investimentos e destinar R$ 250 bilhões no apoio a projetos de neoindustrialização.
Apesar do otimismo do governo Federal, economistas fazem críticas, comparando a iniciatva com o antigo programa "Nova Matriz Econômica", criado em 2008. Na época, Lula cumpria o seu segundo mandado e quem comandava a ecomnomia era o ministro Guido Mantega. O governo gastou muito dinheiro dos bancos públicos para estimular o desenvolvimento econômico, mas a iniciativa não vingou.
Presidente do Insper por 10 anos, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do governo Lula (2003 a 2005) e com décadas de experiência nos setores público e privado, o economista Marcos Lisboa participou de entrevista no programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta terça-feira (23), comentando o Nova Indústria Brasil e a conjuntura econômica nacional.
Apresentado por Igor Maciel, o Passando a Limpo contou com a participação dos jornalistas Fernando Castiho Romoaldo de Souza, além da advogada Ingrid Zabela e do economista Edgard Leonardo.
A NOVIDADE É NÃO TER NOVIDADE
A boa notícia é que não tem novidade. A gente tá vendo, infelizmente, que o Brasil insiste em fazer as mesmas coisas há muito tempo. Os fracassos têm sido recorrentes nessa agenda. É um imenso desperdício de recursos públicos. O custo de vida para a sociedade fica maior e os ganhos não não acontecem. A questão da questão da energia elétrica, por exemplo, falava-se numa intervenção no setor elétrico em 2013, com promesa de que geraria custos mais baixos para as famílias e para algumas empresas, mas a energia aumentou e aconteceu exatamente o oposto.
LOBBY PRIVADO
Tem essa crença de que o Governo deveria dar subsídios para aumentar o investimento. Aí começa uma rotina de reuniões com o setor privado, em que cada lobby vai lá e fala assim: olha, no meu caso eu preciso de tanto. E o governo acha que isso vai gerar é desenvolvimento. Eu tô dando o benefício da dúvida aqui de que, de fato, as lideranças conduziram um processo e têm boa fé e acham que isso vai dar certo. Na verdade deu errado em 2008, 2009, 2010. Não, mas dessa vez vai fncionar, né?
VAI GERAR DESENVOLVIMENTO?
A evidência empírica que a gente tem, baseada em microdados, é que dinheiro para grande empresa vira subsídio para dividendos de acionista. Não vira produção, não vira emprego, não vira produtividade e não vira crescimento econômico. Vamos lembrar a sequência de auxílio que o governo deu para a indústria automobilística. Eu acho que os acionistas estrangeiros ficaram muito gratos, mas a sociedade brasileira nem tanto.
EXEMPLO DO PORTO DIGITAL
A gente descuida muito no Brasil do desenho da política pública. A gente tem histórias sucesso no Brasil e um exemplo é o Porto Digital do Recife. Tem um subsídio pequeno, tem uma governança muito cuidadosa e envolve vários atores da sociedade. Tem bons resultados para mostrar. Eu tive em outubro no Rec'n'Play, um megaevento com 50 mil inscritos. Então a gente tem boas histórias, mas que envolvem investimento em educação e formação de capital humano, além de desenho cuidadoso da política pública e estímulo à concorrência, não à proteção de empresas ineficientes.
NÃO É SÓ DAR DINHEIRO
Eu acho que falta técnica, falta conhecer a evidências gerais dos países. Não é simplesmente dar dinheiro. A Coreia tdo Sul criou programas para estimular o desenvolvimento da produtividade de diversos setores, mas tinha meta. Se você tem for um exportador tem que ter um metas e resultado. Senão o dinheiro vai vai acabar.
SUCESSO DO AGRONEGÓCIO
O agronegócio brasileiro conseguiu ganhos imensos de produtividade nos últimos 50 anos, com muito investimento setor público em tecnologia, em parceria com o empreendedorismo privado. Olha o que tá acontecendo no sul do Piauí, no sul do Maranhão, no oeste da Bahia. O aumento de produtividade do agronegócio tá gerando emprego, melhorando a qualidade de vida da população e, finalmente, reduzindo a desigualdade regional, como já aconteceu com o Centro-Oeste. Isso contou com muita política pública de apoio à inovação e à formação de gente, em parceria com setor privado. Isso é muito diferente da política pública que protege.