30 ANOS DO PLANO REAL: Fundação FHC quer ser o principal centro de referência sobre o Plano Real no Brasil
Dos formuladores do Real, Edmar Bacha foi o primeiro a doar seu acervo à Fundação FHC, que quer se tornar referência em documentação sobre o Plano
Guardiã do acervo privado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2003), a Fundação FHC trabalha para ser o principal centro de referência em documentação sobre o Plano Real no Brasil. Um dos formuladores do plano de estabilização da moeda, o economista Edmar Bacha foi o primeiro a doar seu acervo pessoal à instituição.
A expectativa é que o movimento se repita entre os demais "pais do Real", permitindo concentrar, em um só lugar, os registros do plano de estabilização da moeda que completa 30 anos na segunda-feira (1º).
Diretor-executivo da Fundação FHC, o cientista político Sergio Fausto defende que os acervos do Plano Real sejam depositados na instituição, que tem capacidade para organizar e guardar o material. "Temos o firme propósito de nos tornar o principal centro de referência de documentação sobre o Plano Real no País. Não ganhamos esse jogo ainda, mas vamos conseguir", acredita.
O empenho da Fundação FHC será convencer os demais integrantes da equipe econômica a depositar seus acervos na instituição.
"Essas doações teriam uma função pública, facilitando o acesso à documentação sobre o Plano Real e uma época da história do País. Muitas vezes esses registros ficam na casa das pessoas da família e corre o risco de se perder. Se as pessoas se dispuserem a depositar os documentos na Fundação se tem a garantia de que a documentação será bem organizada, conservada e colocada à disposição do público", destaca Fausto.
TAMANHO DO ACERVO
A Fundação FHC mantém, aproximadamente, 50 mil documentos digitalizados e organizados à disposição do público, entre textos, cartas, livros, anotações, fotografias, objetos, vídeos, áudios e outros. A estimativa é que existem outros 400 mil a serem digitalizados.
O acervo Presidente Fernando Henrique Cardoso reúne os arquivos de FHC e de três membros de sua família: Ruth Cardoso, Joaquim Ignacio Baptista Cardoso (avô) e Leônidas Cardoso (pai), além da biblioteca do casal.
Além desses, a Fundação também tem a guarda de documentos dos ex-ministros da gestão FHC: Paulo Renato Souza (Educação) e Sergio Motta (Comunicações). A legislação brasileira prevê que os acervos presidenciais, embora privados, são considerados de “interesse público”, e seus donos devem se responsabilizar pela preservação e pela disponibilização para consulta pública.
EXPOSIÇÃO 'UM PLANO REAL'
Um pequeno museu também funciona na Fundação, onde há 14 anos está em cartaz a exposição "Um plano real, a história da estabilização do Brasil". A mostra trata do processo de controle da inflação e da estabilização da moeda brasileira, desde o início da redemocratização, em 1984, até a implantação do Plano Real, em 1994.
A exposição começou exclusivamente presencial, na sede da Fundação, em São Paulo, mas a partir de 2020 ganhou versão virtual, em função da pandemia da covid-19. A exposição é bastante visitada por jovens do ensino médio.
"O Plano Real é um divisor de águas na vida brasileira dos últimos anos. Sem ele, provavelmente seríamos hoje um País desorganizado, sem nenhuma perspectiva de futuro. Eu também me pergunto se a democracia teria resistido, porque a estabilidade econômica também foi muito importante para garantir estabilidade política ao Brasil", destaca o diretor-executivo da Fundação FHC, Fausto.
O cientista político afirma que o Plano Real trouxe estabilidade econômica, mas não livrou o Brasil inteiramente das suas dificuldades. "Os problemas do Brasil continuam a existir, mas o País que tínhamos há 30 anos era infinitamente pior do que o País que nós temos hoje", compara.
VIDA BRASILEIRA EM DEBATE
Além de ser um centro de memória histórica, com a preservação dos acervos, a Fundação FHC é, ainda, um espaço de debates sobre a democracia e o desenvolvimento do País. As duas atividades têm o propósito de contribuir para ampliar a compreensão e disseminar conhecimento sobre o Brasil e seus desafios, sem perder de vista o que acontece no mundo.
O ciclo de debates foi inaugurado em maio de 2004, reunindo políticos e intelectuais do Brasil e do exterior, entre eles, Bill Clinton e Manuel Castells.
Ao longo de seus 20 anos de história, a Fundação FHC já realizou mais de 600 seminários, contribuindo para a democracia, o desenvolvimento, a cidadania e a geopolítica se manterem vivas na pauta de discussões do Brasil.