As mudanças climáticas e a transformação digital trouxeram o desafio de repensar o modelo de desenvolvimento no Brasil e no mundo. Os argumentos de crescimento do Produto Interno Bruto e (PIB) e a geração de empregos não são mais suficientes para implantar empreendimentos a qualquer custo. O componente da sustentabilidade não pode estar dessociado do desenvolvimento econômico.
Diante da realidade, Pernambuco sai na frente no País e apresenta à sociedade o Plano de Ação e Modelo de Governança, com propostas práticas para orientar o Estado a fazer a transição para uma economia sustentável e regenerativa.
O lançamento do plano foi feito por Raquel Lyra, nesta segunda-feira (1º), durante evento no auditório do Porto Digital. O guia faz parte do Plano Pernambucano de Mudança Econômico-Ecológica (PerMeie), política pública lançada na COP-28, em dezembro de 2023, em Dubai, pela governadora.
“Nós lançamos o plano operacional em cima do PerMeie, e esse planejamento está dividido em cinco eixos, que vão desde um trabalho com a economia da biodiversidade da Caatinga até a questão da necessidade do planejamento e desenvolvimento urbano de maneira sustentável. É um guia para que possamos colocar em prática o que Pernambuco espera de nós, permitindo que o nosso Estado possa crescer de maneira sustentável, no modelo que é ambientalmente adequado”, destaca.
Inédito, o Plano de Ação foi desenvolvido pela equipe da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan), com expertise em planejamento estratégico, e que tem a economista e socióloga pernambucana Tania Bacelar como uma das sócias-fundadoras.
“É preciso deixar de usar a natureza como algo para explorar. O plano não é uma iniciativa só de governo, porque quando falamos de desenvolvimento e sustentabilidade estamos falando de longo prazo", destaca Tania.
MATRIZ REGENERATIVA
O plano traz diretrizes para que a sociedade pernambucana possa desenvolver suas políticas públicas e executá-las a partir da concepção de uma economia sustentável de matriz regenerativa e inclusiva. É uma proposta estratégica de ações e iniciativas, de curto e médio prazos, que devem ser priorizadas para um novo modelo de desenvolvimento sustentável.
“O que nós temos conversando muito é que esse plano dá as bases para a construção da nova política de atração de investimentos para Pernambuco. Queremos que nossas políticas públicas transformem nosso Estado, para que ele se torne referência em justiça econômica, social, climática e ambiental, ao mesmo tempo em que se compromete com a regeneração dos seus biomas Caatinga e Mata Atlântica”, destacou a secretária de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha, Ana Luiza Ferreira.
AÇÕES PRÁTICAS
O plano detalha, por exemplo, propostas para realizar uma transição sustentável e oportunidades econômicas e financeiras factíveis, como os projetos em energia renovável e bioeconomia; agricultura sustentável e regenerativa; e as soluções baseadas na natureza.
Entre as práticas previstas estão desde soluções de baixo carbono e de proteção a unidades de conservação; passando por estratégias para incentivar o hidrogênio verde e energia solar; o fortalecimento da economia circular, entre outras ações.
Na interlocução com o setor produtivo, a governadora citou os exemplos da mudança da matriz energética no Polo Gesseiro, no Sertão do Araripe, por meio da chegada do gás natual entregue pela Copergás às indústrias para evitar o uso da lenha da caatinga.
Outro exemplo foi o do Polo Automotivo da Stellantis, em Goiana, que vai direcionar seus próximos investimentos no Estado em tecnologia, inovação e sustentabilidade para fabricar veículos elétricos.
Questionada sobre a obra do Arco Metropolitano, um bom exemplo da interação que precisa ocorrer entre interesses econômicos e meio-ambiente, Raquel Lyra disse que o edital de licitação do trecho sul será lançado "nos próximos dias", mas não precisou data.
CONVIDADOS
"A natureza vem dando recados há muito tempo e a tragédia das enchentes no Rio Granade do Sul materializou esse aviso. Pernambuco foi o primeiro Estado que lançou um documento desses. Nem os governos estaduais nem federal lançaram uma iniciativa assim, pensando em um futuro diferente", afirma o sociólogo, cientista político e jornalista Jorge Caldeira, que participou do lançamento do Plano no Recife.
Na avaliação do economista Eduardo Giannetti, que também participou do evento, a apresentação do documento coloca Pernambuco em posição de liderança em relação ao restante do País. "Li as 100 páginas do Plano e me chamos atenção alguns pontos como a transversalidade, mostrando que o desenvolvimento econômico não pode ser tratado de forma separada, sem a discussão com outras áreas", alerta.
Outro ponto que chamou a atenção do economista foi a interiorização, numa tentativa de espalhar as oportunidades para todas as regiões de desenvolvimento do EStado, do Litoral ao Sertão.