Os clubes do interior de Pernambuco seguem sua luta para manter a saúde financeira durante a quarentena em virtude do novo coronavírus. Os sete times fora do Trio de Ferro do Recife devem protocolar, no começo de abril, o pedido de um conselho arbitral entre as 10 agremiações que disputam o Estadual visando o encerramento dele. Isso porque, financeiramente, não é mais viável para as equipes a continuidade da competição ainda sem nenhuma previsão de volta. Na grande maioria deles, os contratos se encerram no dia 30 de abril, data em que o futebol ainda não poderá ser retomado, a partir dos cálculos do surto da Covid-19 feito pelo Ministério da Saúde para o fim do isolamento social. Ou seja, existe a opinião de acabar da maneira que está, preservando as posições para que se distribua as vagas para os campeonatos nacionais e sem rebaixamento de nenhum time, ponto que é debatido pelos clubes há um tempo.
"Como nós temos uma Série D e não sabemos se ela vai começar em maio, junho, julho, nesse momento, agora, seria melhor encerrar (o estadual). Porque, encerrando, com os jogadores faríamos um acordo e aí ficaríamos zerados com eles. Quando começasse a Série D, contrataríamos novamente o jogador que estava no Afogados ou em outro clube. Na minha opinião, é melhor encerrar com cada um nas suas posições como ficou e não cairia ninguém. É a minha opinião. Só que, a Série A2, neste ano, não iria existir. É minha opinião, não tem nada a ver com a dos demais presidentes", comentou o presidente do Afogados, João Nogueira.
"Logo mais começam os campeonatos brasileiros, e não vai se tirar datas desses campeonatos para o Estadual. Vai faltar data. Em 2017 foi uma luta para achar uma data entre Sport e Salgueiro, sendo só dois clubes. Agora temos 10 clubes. Então quando a gente sugeriu, foi no sentido de que se não tem como prever nada, vamos tentar prever o ano que vem. Se encerra o campeonato agora, se não quiser declarar um campeão, não tem problema. Mas essa classificação que foi conseguida dentro de campo, ela fica valendo para campeonatos futuros. E sugerimos isso, para que a federação fizesse um arbitral e fosse votado, para que ela ficasse protegida com isso daí. Então foi isso o que os clubes do interior quiseram fazer e acredito que isso vai acontecer com o tempo e vai se chegar a esse consenso", acrescentou o presidente do Salgueiro, José Guilherme.
Afogados da Ingazeira e Salgueiro são dois dos três representantes do Sertão no Campeonato Pernambucano. E ambos vivem um panorama financeiro totalmente diferentes neste momento. Do lado da Coruja, graças aos avanços de fase na Copa do Brasil, desbancando até o Atlético-MG, a equipe está com dinheiro em caixa e pode ir bancando salários e custos durante esta parada, com contratos de jogadores indo até o fim de abril. No Carcará, é mais difícil. Apesar de estar em dia com atletas e funcionários, o clube ainda acredita que conseguirá pagar a folha salarial de março. Porém, daí em diante, é uma incógnita. O caso da equipe salgueirense é diferente por ter atletas com contratos mais longos, já visando a disputa da Série D, que o próprio Afogados também jogará.
"Nossos contratos com os atletas se encerram agora no dia 30 de abril e, se não tiver nenhuma novidade até lá, depois vamos fazer novas contratações, novos contratos com aqueles que interessarem ao clube, e aqueles que não interessarem, dispensamos. O Afogados, nesse ponto (financeiro), está despreocupado. Estamos sossegados. Até que enfim a gente está sossegado, porque é difícil lidar com o futebol, ainda mais aqui no interior do estado, do Nordeste. Dependemos da prefeitura, de alguns patrocínios, e às vezes não sobra (dinheiro). E aí pedimos emprestado, fazemos rifa, bingo, para ajudar essa dificuldade financeira. Na Copa do Brasil nos saímos muito bem nas duas primeiras fases, ainda temos mais uma para decidir, e aí isso manteve bem o caixa do Afogados", afirmou João Nogueira.
"Já conversei com eles. Eles perguntam como vai ficar e eu não sei. Disse para irem para casa, comprar mantimentos, cuidar deles e da família. Vamos todos ter consciência disso, guardar, se esforçar, para quando voltar, saber o que fazer. Prever o que vou pagar ou não, é difícil porque todos dependemos de alguma coisa. Vários clubes do interior tem de patrocínio da prefeitura. As prefeituras estão mobilizadas com esse negócio (combate a Covid-19). Como o cara vai pagar clube de futebol com o povo na rua morrendo, precisando de saúde, de remédio? Não tenho a mínima condição de chegar na prefeitura de Salgueiro, que toda vida nos ajudou, pedir o pagamento. Todo mundo vai perder, não adianta. Eu não tenho como dizer a quem vou pagar ou não vou. É como eu disse aos jogadores, vamos esperar, um mês após o outro, e ver como que vai ficar", finalizou José Guilherme.