A relação entre o torcedor e um clube é algo único. Um sentimento que muitas vezes é até difícil de descrever. Em Pernambuco, são milhares de apaixonados pelo Náutico, Santa Cruz e Sport. E alguns deles enxergam na coleção de camisas um jeito de eternizar a paixão entre o indivíduo e o time do coração. São os casos de Wagner Soares, rubro-negro e que tem mais de 100 mantos do Leão; Sérgio Lêdo, tricolor e que possui mais de 160 camisas do Santa Cruz; e Antônio Botelho, alvirrubro e também colecionador de mais de 600 camisas do Náutico.
AS MAIS ESPECIAIS: CAMISAS DE KUKI, BIZU, PAULO LEME E COMPANHIA
Antônio Botelho é um empresário de 40 anos e que mora nos Aflitos. No entanto, sua paixão pelas camisas começou logo na infância. Segundo o alvirrubro, quando ele era perguntado sobre o que queria ganhar de presente, ele respondia que gostaria de receber mantos do seu clube ou de outro do futebol brasileiro. E foi assim, aos 12 anos, que o colecionador do Náutico foi alimentando essa semente de colecionar camisas. Hoje, só do Timbu ele está com mais de 600 uniformes, de diferentes ídolos e gerações.
"Eu tinha 12 anos e já gostava muito de futebol. Então ao invés de brinquedos, eu sempre pedia a minha família para quando fosse meu aniversário e quisessem me presentear, que comprassem camisas de qualquer clube brasileiro", disse Botelho, que completa dando um conselho para quem quer começar a colecionar. "Escolha um foco, tenha um objetivo. Por exemplo: camisa do time X usada em partidas. Coleção é cíclica, hora você está mais empolgado, hora você dá uma parada, mas a chama do colecionismo nunca morre", completou o torcedor alvirrubro.
São incríveis 600 uniformes do Náutico, de diferentes ídolos e gerações. Camisas de Kuki, Bizu, Mário Tílico, Paulo Leme e outros grandes jogadores que já defenderam as cores vermelha e branca. No entanto, Botelho não consegue definir uma camisa como a mais especial, mas elege os mantos usados nas decisões de Campeonato Pernambucano onde o Timbu saiu vencedor como aquelas que ele têm um carinho maior.
"Já me perguntei isso várias vezes, mas na coleção não existe uma especial. As que eu mais amo são as das finais de Campeonato Pernambucano onde o Náutico foi campeão: 1989, 2001, 2002, 2004 e 2018. E estou atrás da de 2019 (onde o Timbu foi campeão da Série C). Todas elas foram usadas nas partidas. Eu sempre consigo com o próprio jogador do Náutico ou com alguém do time adversário que trocou camisa no fim do jogo", disse Botelho.
Mesmo com várias camisas, têm duas que o colecionador queria ter mas ainda não conseguiu. "Queria ter uma da Seleção Brasileira de 1958 ou de 1970. E do Pelé", afirma Botelho, que completa falando sobre os mantos mais difíceis de se conseguir. "Costumo dizer que não existem camisas difíceis, mas sim aquelas que a gente não trabalhou o suficiente para comprá-las", declarou o alvirrubro.
Em 2016, o colecionador disse que procurou o Náutico para saber se o clube tinha alguma camisa histórica no museu alvirrubro. No entanto, o Timbu não tinha. Portanto, Botelho resolveu dar aquelas camisas repetidas que ele têm em sua coleção para enriquecer o memorial e, como agradecimento, recebeu um certificado do Náutico.
"O clube me deu esse certificado como um agradecimento. Eu procurei saber e o Náutico não tinha uma camisa de futebol no museu. Então como eu tenho muitas camisas do Náutico, eu peguei todas as repetidas e doei para o clube. Falei com os conselheiros e conseguimos comprar algumas camisas de um cara que tava vendendo para doar para o museu do clube. Esse certificado foi no dia da inauguração do museu do Náutico", pontuou o colecionador.
Com as 600 camisas que Botelho têm do Náutico, nem se ele usasse uma por dia dava para vestir todas em um ano. No entanto, o colecionador afirma que só veste as mais recentes. "Eu uso com bastante cuidado, mas tem muitas que não uso. As mais recentes eu chego a usar", detalha Botelho.
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AS MAIS ESPECIAIS: CAMISAS DE TIAGO CARDOSO, DO TRI-SUPERCAMPEONATO PERNAMBUCANO E UM PRESENTE DO PAI
Sérgio Lêdo é um empresário de 29 anos e que mora no bairro de Casa Forte. Mas desde pequeno compra as camisas do Santa Cruz. De tanto investir nos mantos do Tricolor, se deparou em 2007 que estava com inúmeras camisas. A partir daí, resolveu se assumir como colecionador de fato e passou a buscar outros mantos da equipe coral que ele não tinha. Até a data da publicação desta matéria, ele está com mais de 160 camisas, podendo aumentar esse número a qualquer momento.
"Eu sempre gostei muito do Santa Cruz. Sempre foi meu hobby predileto ir para jogos e acompanhar o meu time. Aí a cada ano que passava eu ia comprando as camisas do ano. Aí chegou em 2007 e eu vi que estava com muitas camisas. Daí, passei a correr atrás das camisas de anos anteriores em que eu não tenho. A cada ano que o Santa vai lançando eu vou comprando", explicou Lêdo.
Nas mais de 160 camisas do Santa Cruz, existem várias histórias de ídolos que defenderam as cores do Tricolor e que conquistaram títulos. Sérgio diz que vários mantos da sua coleção são especiais, mas destaca três como inegociáveis. Uma delas, inclusive, está até enquadrada. "A primeira é uma camisa usada por Tiago Cardoso no jogo de volta da Copa do Nordeste de 2016, onde a gente foi campeão. É uma camisa usada pelo ídolo mais recente do clube e no maior título da história do clube, muito especial", pontuou Lêdo.
"A outra é uma que consegui recentemente, que é uma camisa de 1983, camisa do tri-supercampeonato pernambucano do Santa Cruz. Era louco por ela e consegui. E, por fim, a primeira camisa oficial do Santa Cruz que eu ganhei do meu pai em 2001. Não vendo essas três por nada nesse mundo", que completa dizendo que não usa todos os uniformes do Tricolor. "Eu só uso as camisas de três ou quatro anos para cá. As camisas mais antigas eu nunca nem vesti. A de 1983, por exemplo, eu tiro uma foto e posto na minha página no Instagram (@escamadecobra) e guardo. Ficar com elas até morrer. Passar para filhos, netos e por aí vai", conta Lêdo.
Mesmo tendo mais de 160 camisas só do Santa Cruz, Sérgio Lêdo ainda sente dificuldades em achar alguns uniformes. Para ele, os mantos mais difíceis de se encontrar são os mais antigos. "Essa de 1983, por exemplo, foi bem difícil. Duas camisas de 1995 também foram bem difíceis, mas consegui. Uma da CCS de 1993 também é difícil, mas consegui", detalha Lêdo, que completa dando dicas para quem quer começar a colecionar camisas.
"Minha dica é você começar pelas camisas mais recentes porque são mais fáceis de você conseguir. Até diria não do mesmo ano, já que são mais caras, mas aquelas do ano passado ou retrasado, que são mais baratas. Aí depois você vai criando laços com aquelas pessoas que conseguem essas camisas e vai comprando", pontua Sérgio Lêdo, que explica os motivos dele seguir colecionando camisas do Santa Cruz.
"Minha maior motivação para continuar colecionando é a minha paixão pelo clube. Cada camisa que chega na minha mão, é como se fosse um presente dado pela minha mãe, aquele que não tem valor financeiro, mas sim valor emocional. Gosto de procurar, conhecer pessoas diferentes, porque esse ramo do colecionismo a gente conhece várias pessoas diferentes. Grande parte das camisas do Santa Cruz que eu consegui foi através de um amigo meu que é rival. São coisas que a gente só consegue pelo colecionismo", diz o colecionador.
Sérgio Lêdo diz que consegue suas camisas através de outros colecionadores e sites, mas também destaca outro modo: a abordagem em dias de jogos do Santa Cruz a torcedores nas arquibancadas do Arruda. Uma dessas abordagens aconteceu na final do Campeonato Pernambucano de 2016, onde o Tricolor foi campeão contra o Sport na Ilha do Retiro.
"Eu sempre levo um dinheiro a mais todo jogo do Santa Cruz, porque lá é que você tem contato com o maior número de torcedores. Quando estou andando de carro, também levo um dinheiro e uma camisa do ano, por exemplo, porque aí posso oferecer em troca de alguma que eu não tenha. Tem uma história curiosa na final do Estadual de 2016. Eu fui sem camisa porque o meu pai pediu. Na arquibancada, vi um cara com uma camisa da CCS de 1992, aí fiquei louco", declara Lêdo.
"Aí cheguei nele, me apresentei e elogiei a camisa. Aí ofereci R$ 100, mas na época ela valia mais. Aí ele virou e disse: nem se tu botasse os R$ 300 que ela vale eu vendia. Essa camisa foi um presente. Aí pedi desculpas a ele e ele me disse que essa não vendia de jeito nenhum. Aí pedi desculpas e saí todo envergonhado", finalizou Lêdo.
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AS MAIS ESPECIAIS: COPA DO BRASIL DE 2008, NETO BAIANO E JUNINHO
Diferentemente de Antônio Botelho e Sérgio Lêdo, Wagner Soares começou a colecionar mais recentemente, em 2014. No entanto, nesse período de seis anos, o torcedor rubro-negro já têm mais de 100 camisas do Sport, incluindo algumas bem especiais na história do clube, como por exemplo a da final da Copa do Brasil de 2008, da Copa do Nordeste de 2014 e também uma em que ele conseguiu de um jogador vendo um jogo na Ilha do Retiro.
"Então, até 2014 eu tinha cerca de 15 camisas variadas, que eu comprava porque gostava e nunca tinha pensado em colecionar de fato. Usava elas pra jogar futebol com os amigos, para treinar, para tudo mesmo, sem nenhum zelo em especial. Até que certo dia um amigo veio aqui em casa e disse: 'Bacana tua coleção'. Fiquei com isso na cabeça e fui pesquisar a fundo sobre esse mundo e fui vendo que existe uma infinidade de colecionadores, aqui em Recife, fora do Estado e inclusive fora do país. Daí eu escolhi um foco que são as camisas do Sport e estou colecionando até hoje", disse Wagner.
Uma coleção que tinha 15 camisas variadas foi tomando forma e, com o passar do tempo, foi se tornando um acervo rubro-negro no Rosarinho, bairro onde o autônomo de 29 anos mora. Dentre as mais especiais, uma usada no maior título do Sport no século 21, outra autografada por um ídolo recente do Leão e uma onde ele conseguiu do próprio jogador na Ilha do Retiro.
"Bem, todas são especiais, pois cada uma tem uma história e o bacana de colecionar é isso, porém as mais especiais são três. Uma da Copa do Brasil 2008, usada em jogo, número 18 (Usada possivelmente por Roger ou Enilton); uma da Copa do Nordeste 2014 usada por Neto Baiano e autografada por ele; e uma de 2016 usada por Juninho, que foi a camisa que ele jogou no jogo contra o Joinville pela Copa do Brasil 2017 na Ilha do Retiro. Ele fez o gol, jogou a camisa e eu peguei. Devolvi na hora e depois do jogo ele me deu de presente", disse o colecionador.
Mesmo com mais de 100 camisas do Sport, existem três uniformes que Wagner gostaria bastante de ter, mas ainda não conseguiu. "O Padrão 1 do Sport de 1991 e 1992 que são com patrocínio da Banorte e,principalmente, o padrão 1 de 1994 com patrocínio Coca-Cola", destacou o colecionador, que completou afirmando que não usa mais da metade dos mantos da sua coleção. "Têm cerca de 50 a 60 camisas que eu peguei e nunca usei, seja porque não cabe em mim ou seja porque a mesma está muito velhinha e eu prefiro não usar para não desgastar mais", pontuou Wagner.
O rubro-negro de 29 anos consegue as camisas através de grupos de colecionadores nas redes sociais. No entanto, o padrão 3 do Sport de 2006 ele demorou bastante para achar. Na opinião do colecionador, esse uniforme é, sem dúvidas, o mais difícil dele ter encontrado durante esse período em que ele coleciona. "A mais difícil com certeza foi o padrão 3 de 2006, uma camisa toda vermelha da Topper. Desde que eu comecei a colecionar, eu nunca vi essa camisa nem para vender. Porém, eu consegui ela numa troca com um amigo meu no mês passado", comentou Wagner.
Durante esses seis anos colecionando camisas, Wagner foi criando vários laços afetivos com colecionadores de Pernambuco e de todo o Brasil. Amigos que foram eternizados através de coleções de uniformes. Para o torcedor do Sport, essa é uma das grandes motivações de seguir no ramo. "Existem fatores para continuar, entre eles as histórias e amigos que eu crio com o tempo. Mas também saber que muito da história do meu clube está comigo, no meu guarda-roupa ou então sendo usada e levada comigo para onde eu for", destaca o colecionador, que finaliza dando dicas para quem quer começar a colecionar.
"O principal conselho é: trate isso como um hobby e não como uma necessidade. Lembre-se que, por mais que você ame a sua coleção, isso tudo é só pano. Isso significa que, se algum dia você precisa se desfazer por algum motivo mais sério, não pense duas vezes, pois camisas vão e vem, o tempo todo. E se você tem cinco ou 50 camisas, não importa, ame sua coleção da mesma maneira", finalizou o colecionador.
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