O Bahia anunciou nesta quinta-feira (24) que reintegrará o meia-atacante Índio Ramirez ao elenco profissional. O jogador colombiano havia sido afastado temporariamente após ter sido acusado de cometer uma injúria racial contra o volante Gerson, do Flamengo, no jogo entre as duas equipes, realizado no último domingo (20), no Maracanã, pela 26ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro.
Em nota oficial, o Tricolor de Aço argumenta que os laudos das perícias em língua estrangeira contratadas para investigar o caso não comprovaram as acusações. "O clube entende que, mesmo dando relevância à narrativa da vítima, não deve manter o afastamento do atleta Índio Ramírez ante a inexistência de provas e possíveis diferenças de comunicação entre interlocutores de idiomas diferentes", afirma o comunicado, mencionando que o papel da agremiação "é de formação e transformação, sempre preservando os direitos fundamentais e a ampla defesa" e que o colombiano "deverá ser reincorporado ao elenco tão logo os profissionais da comissão técnica e psicólogos entendam adequado".
O posicionamento divulgado pelo Bahia também discorre sobre racismo, cita o trabalho do Núcleo de Ações Afirmativas e diz ser "o primeiro time de futebol do mundo a lançar um programa de imersão para debater os aspectos estruturais do racismo", chamado "Dedo na Ferida". O clube também assumiu um compromisso de "adotar um conjunto imediato de medidas estruturais", entre as quais incluir uma "cláusula antirracista, xenofóbica e homofóbica" nos contratos, propor um "protocolo antidiscriminatório" para jogos realizados no país e promover aos atletas uma imersão a respeito do tema durante a pré-temporada.
A nota informa que o Tricolor contata, desde o último domingo, "lideranças ligadas a movimentos sociais de enfrentamento ao racismo, como o Observatório de Discriminação Racial, e instituições como a Defensoria Pública e o Ministério Público do Estado [da Bahia], com quem está construindo um Termo de compromisso antirracista". O comunicado encerra fazendo menção à acusação do próprio Ramírez contra o atacante rubro-negro Bruno Henrique, que o teria chamado de "gringo de m...".
"Além de negros, somos nordestinos e conhecemos bem o poder do preconceito e da exclusão pela xenofobia. Diante disso e das provas constituídas, caberá ao atleta Ramírez decidir pela denúncia ou não quanto ao tema - e ao Bahia apoiar a decisão", conclui o posicionamento do Bahia, afirmando que "seguirá acompanhando os desdobramentos que ocorrerem fora das instâncias do clube, seja na Polícia Civil ou no Superior Tribunal de Justiça Desportiva".
O caso ocorreu após Ramírez marcar o primeiro gol do Bahia na partida de domingo, aos sete minutos do segundo tempo. Segundo Gerson, o meia teria dito a ele: "Cala a boca, negro". A acusação foi registrada na súmula, apesar de o árbitro Flavio Rodrigues de Souza afirmar não ter presenciado o episódio. O duelo terminou com vitória rubro-negra por 4 a 3. Depois do jogo, o camisa 8 do Flamengo publicou um manifesto contra o racismo no Instagram.
Na segunda-feira (21), o Bahia publicou um vídeo, a pedido de Ramírez, com a versão dele sobre o ocorrido. O colombiano afirmou não falar bem português, negou ter sido racista com Gerson e afirmou ter pedido ao rival que jogasse "rápido". No dia seguinte (22), o volante do Flamengo prestou depoimento a respeito da acusação na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na região central do Rio de Janeiro. Ele esteve acompanhado pelo vice-presidente jurídico do clube rubro-negro, Rodrigo Dunshee de Abranches.