Lideranças corais

Santa Cruz: Opiniões diferentes sobre participação da torcida ao ajudar clube nesta crise

Tricolor deve passar por bastantes dificuldades de pagamentos de salários e dívidas caso a pandemia da covid-19 dure por muito tempo

Klisman Gama
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Klisman Gama
Publicado em 08/04/2020 às 22:00 | Atualizado em 08/04/2020 às 22:01
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Com gol de Toty, o Tricolor venceu sua primeira partida na Copa do Nordeste 2020 - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

O Santa Cruz vem passando por dificuldades financeiras assim como diversos outros clubes no país para manter os pagamentos em dia, além do seu funcionamento no geral como instituição, pela pandemia do novo coronavírus. Com isso, o clube tem conversado com patrocinadores para manter os valores integrais dos pagamentos acertado em contrato, mas com a possibilidade de flexibilizar para uma forma que não fique tão ruim para nenhum dos lados. A mesma coisa é pedida para o sócio. Com a virada do mês, o Tricolor constatou a perda de vários associados que, por dificuldades trazidas pela crise, não conseguem manter o pagamento em dia. Assim, diversos tipos de alternativas são buscadas por pessoas da própria direção e outros torcedores que estão de fora, mas que acompanham e vivem o clube de diferentes maneiras.

O repórter João Victor Amorim, da Rádio Jornal, conversou com três representantes, com visões diferentes, para avaliar o que o Mais Querido pode fazer neste cenário. Confira cada um deles. 

GESTÃO ATUAL

Antônio Luiz Neto é o presidente do Conselho Administrativo do Tricolor e foi mandatário do clube entre 2011 e 2014. Na visão dele, o Santa Cruz deve se valer da força da torcida neste momento para conseguir superar a crise que vai assolar a todos que fazem parte do futebol. Ainda mais, acredita em um cenário diferente do vivido dentro do esporte, após a ordem se restabelecer quando a pandemia passar.

"O que eu diria e aconselharia, é uma grande aproximação com a torcida, que é o grande motor do Santa Cruz. Eu teria uma grande aproximação traria ela para junto, para que a gente pudesse, com humildade e um um time brioso, raçudo, da casa, somado com pessoas experientes que viessem, até no fim da carreira dar qualidade para o nosso time, seguir os mesmos caminhos que foram seguidos pelo Santa Cruz em 1969, quando fez o time que iniciou o pentacampeonato. E até o mesmo que fiz em 2011, quando nós iniciamos aquela caminhada que fez o Santa Cruz chegar no seu centenário campeão pernambucano e jogando na Série B do Campeonato Brasileiro.

A torcida é o Santa Cruz e o Santa Cruz é a torcida. Claro que você não se pode se desvincular disso. E associado a isso, eu faria um trabalho que já vem sendo feito por Constantino Júnior, um trabalho de marketing que buscasse patrocínios. A gente sabia que não era fácil e agora pior ainda. Porque, infelizmente, essa pandemia que atingiu o mundo e certamente, mesmo no retorno, trará novos tempos e a obrigatoriedade de rever a situação. Certamente Constantino já está vendo isso. Eu acho que (está conduzindo bem) sim. Não é fácil nem para ele, nem para ninguém. Pode ser presidente do Corinthians, do Flamengo, de qualquer time do mundo. A dificuldade é muito grande e muito séria".

OPOSIÇÃO

Joaquim Bezerra fez parte do começo da gestão de Antônio Luiz Neto no Santa Cruz, sendo vice-presidente. Porém, se dissociou e tornou-se oposição ao atual grupo que está na liderança do clube. A opinião do ex-dirigente é de que o Mais Querido priorize logo acertos financeiros com funcionários, jogadores e comissão técnica neste momento para reduzir as despesas. Ele também classificou como "pedir demais" o fato de solicitar ajuda de patrocinadores e sócios neste momento, já que a situação está complicada para todo mundo.

"O Santa Cruz já vive uma crise financeira e de gestão há mais de 30 anos. A covid-19 hoje só agrava uma crise que já existe. O que o clube deveria fazer, em vez de estar na mesma prática de estar pedindo dinheiro a empresários e ao torcedor, era simplesmente chamar o quadro de jogadores, comissão técnica e funcionários e fazer eles verem a situação atual do clube. O agravamento dessa situação por conta da covid-19  e pedir a compreensão de todos e a colaboração de utilizar as medidas que estão sendo oferecidas pelo governo. Porque todos são funcionários CLT, com exceção de alguns da comissão técnica, e entrar nessa prerrogativa de suspensão do contrato do trabalho, redução de jornada, enfim.

Tudo que o Governo Federal está fazendo para que possa amenizar o problema das empresas, ser utilizado. Acho que o clube está demorando muito para sentar e fazer esse acordo com jogadores e funcionários, porque receita com patrocinadores vai ser difícil conseguir, e receita vinda de outras fontes não vai existir também, porque está tudo parado. Pedir colaboração de empresários e de sócios, que também estão passando pela mesma crise, é pedir demais para pessoas que já são sacrificadas no dia a dia contribuindo com o Santa Cruz".

 OUTRAS LIDERANÇAS

Jhonny Guimarães é um dos líderes do movimento Intervenção Popular Coral, que busca a reforma do estatuto do Santa Cruz para tornar o clube mais democrático, segundo as reivindicações dos torcedores. Ele acredita que o torcedor que tiver condições poderia ajudar o clube. Mas crê que aqueles que gerem o Tricolor perderam uma oportunidade de se reaproximar do torcedor, graças às  várias interrupções no processo da reforma estatutária. Com o vínculo mais forte, ficaria mais fácil de pedir esse auxílio em uma hora tão difícil como esta.

"É importante a gente parar para pensar como o Santa Cruz vai atravessar essa crise. Primeiro tendo consciência de que é um clube que nos pertence enquanto torcedores e a gente tem uma responsabilidade sim de cuidar dele neste momento. Não é um problema só da gestão de resolver essa situação. Fomos informados que muitos sócios deixaram de pagar, e sabemos que muitas vezes a situação individual é complicada. Queria fazer um apelo para que, quem puder, chegar junto e ajudar com a sua regularização do seu plano de sócio, é importante.

Eu acredito que essa gestão, que é reflexo das outras gestões das últimas décadas, errou na construção até esse momento. Neste momento de crise, a relação entre clube e torcedor está desgastada. Então eles vão ter uma dificuldade natural maior do que o normal para passar por esse momento. Nos últimos meses a gente teve uma oportunidade grande do clube se reaproximar da torcida com a luta pela reforma do estatuto. Se nos últimos meses o clube através do seu presidente, seus diretores, dos conselheiros e pessoas de outros poderes tivessem aproveitado essa deixa para se reaproximar da torcida, aberto o clube, ouvido o torcedor, a gente teria hoje uma relação muito mais harmoniosa. Então quando você vê ex-presidentes vindo a público pedindo que o torcedor ajude, você está fazendo apelo em uma relação já desgastada".

 

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