Sem futebol há 60 dias, Santa Cruz faz 'engenharia' para sobreviver financeiramente

Diretoria tricolor vem buscando administrar o clube em meio à pandemia do novo coronavírus, mas esbarra na falta de recursos
JC
Publicado em 17/05/2020 às 7:56
O presidente do Santa Cruz, Constantino Júnior (E), vem buscando ao lado do executivo de futebol Nei Pandolfo (D) contornar as dificuldades financeiras do clube Foto: Foto: Rodrigo Baltar / Santa Cruz


Na última sexta-feira (15), o Santa Cruz completou dois meses da última vez que entrou em campo - na vitória contra o Decisão, por 2x1, no estádio José do Rego Maciel, pela 8ª rodada do Campeonato Pernambucano. E, neste domingo (17), a Cobra Coral também chegou aos 60 dias sem atividades no clube em virtude da pandemia do novo coronavírus. Nesse período de incertezas, o Tricolor do Arruda segue buscando alternativas para sobreviver financeiramente às dificuldades impostas pela covid-19, tendo de conviver sem as rendas das bilheterias, patrocinadores que suspenderam seus contratos e sócios que também interromperam suas mensalidades.

"Nosso recurso hoje é difícil. A gente tinha em torno de R$ 200 mil a R$ 250 mil por mês na arrecadação de sócios, mas no mês de abril essa receita caiu para aproximadamente R$ 80 mil. Então, é uma diminuição substancial dos nossos recursos. Mas estamos nos esforçando e criando novas formas de receitas e diminuindo o custo operacional", comentou Fred Dias, diretor de futebol do Santa Cruz. E, de fato, o departamento de marketing do clube vem desenvolvendo outras maneiras de captação de recursos... Como foi feita na campanha do jogo virtual da estreia do estádio do Arruda, que arrecadou para o clube mais de R$ 17 mil, além das vendas das máscaras personalizadas do tricolor que já renderam mais de R$ 20 mil para os cofres do clube - os dois valores foram utilizados para o pagamento dos salários dos funcionários.

Mesmo com toda dificuldade econômica que vem atravessando, a diretoria do Santa Cruz não demitiu nenhuma pessoa do seu quadro de funcionários. E, com relação aos jogadores, para que houvesse um alívio nas contas do clube, a direção coral entrou em acordo com o elenco e aderiu, no mês passado, a MP 936; reduzindo os salários e a carga horária dos atletas em 30%. "A gente vem trabalhando com os recursos que temos e estamos mostrando, com transparência, para nossos atletas, nossa comissão técnica e funcionários, que existem recursos provenientes de outra negociações de atletas, outras fontes de receita e que terminam sendo bloqueadas. A gente tenta esses desbloqueios, pois estão nos atrapalhando (para manter as contas do clube em dia). Os jogadores estão conscientes da situação, sabem que estávamos honrando todos os compromissos antes da parada do futebol (por conta da pandemia do novo coronavírus). Eles compreenderam, estamos conversando todos os dias com eles e, aos poucos, vamos conseguindo fazer os pagamentos necessários", explicou Fred Dias.

Com a paralisação do futebol, a Cobra Coral passou a conviver com os atrasos salariais e, atualmente, está prestes a quitar por completo a folha de março - aos funcionários já foram pagos. Deixando em aberto apenas os vencimentos do mês de abril - que já serão pagos com a redução da MP 936. "Fizemos os pagamentos dos atletas que ganham de um salário mínimo a dois salários mínimos, dos 100% na carteira, porque o clube cumpre e faz cumprir a Lei Pelé, no tocante às remunerações do seus atletas. Já os jogadores que recebem acima de um determinado valor e que esse valor também esteja vinculado ao direito de imagem, esses receberam um valor de 40% a 75% do seu vencimento da carteira, mas ainda não fizemos o cumprimento do direito de imagem", detalhou o dirigente tricolor.

Logo no início da paralisação do futebol, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) concedeu uma ajuda financeira de R$ 4 milhões aos clubes que disputam a Série C do Brasileiro, com cada agremiação recebendo uma quantia de R$ 200 mil - o Santa Cruz também foi agraciado com esse montante, que foi disponibilizado pela CBF na primeira semana do mês de abril. Uma outra receita que poderia ter entrado nos cofres do clube era a referente a negociação do zagueiro João Victor, mas o Vitória suspendeu o pagamento da parcela de compra dos direitos econômicos do defensor.

SEM FÉRIAS

Indo de encontro às medidas adotadas pelas diretorias dos clubes das Séries A e B, no Arruda, nada de férias para os jogadores corais. Mesmo com dois meses sem futebol, a direção tricolor segue sem conceder o período de um mês descanso obrigatório por lei ao seu elenco, que segue fazendo os trabalhos físicos em isolamento e, semanalmente, recebem orientações virtuais da comissão técnica do Santa Cruz, que passa vídeos e correções de forma coletiva (numa plataforma de reunião online) e também de maneira individualizada (quando o erro a ser corrigido for de um atleta específico).

Apesar de todos os 40 clubes das divisões superiores já terem concedido férias aos seus elencos, o Santa não está nessa sozinho na Terceira Divisão. Outros dez clubes (Remo, Paysandu, Treze-PB, Manaus, Ferroviário-CE, Imperatriz-MA, Ituano-SP, São Bento-SP, Volta Redonda-RJ, Ypiranga-RS) também adotaram a mesma postura e seguem acreditando que é possível terminar a competição nacional até o final do ano, sem comprometer o período de férias dos atletas.

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