Num processo eleitoral marcado por desencontros e indefinições, as eleições do Sport não devem acontecer nesta sexta-feira, dia 18 de dezembro. O pleito, aliás, ainda não tem data para acontecer. Apesar do Conselho Deliberativo ter aprovado o adiamento para março, liminares de pré-candidatos determinam que as eleições aconteçam em dezembro, enquanto do outro lado o Sport recorreu para derrubar essas liminares que mantêm as eleições neste mês.
Diante deste cenário marcado por indefinições, a reportagem do Jornal do Commercio pediu para os cinco pré-candidatos à presidência do Sport avaliarem toda essa condução do processo eleitoral do Rubro-Negro. Vale lembrar que o advogado Eduardo Carvalho e o ex-diretor de futebol Nelo Campos são contra o adiamento das eleições para março, enquanto os advogados Delmiro Gouveia e Pedro Lacerda, além do economista Luiz Carlos Belém, são favoráveis ao adiamento. Confira abaixo o que cada um falou sobre esse processo eleitoral do Sport.
A hora é de união e de deixar a política um pouco lado. O nosso foco neste momento deve ser todo voltado para a permanência do time na Série A do Brasileirão. Após o campeonato, aí sim, vamos discutir o processo eleitoral do clube sempre buscando a união para o Sport. Sem contar que até o momento só foram colocados nomes e não projetos e planos de governo para a disputa a presidência do Sport. A respeito das liminares impetradas por alguns candidatos, eu lamento, porque enquanto torcedor do Sport, eu reforço que não é momento para se realizar um pleito da magnitude que é uma eleição no Sport, principalmente em um período de pandemia como estamos passando.
Meu sentimento é de tristeza desde o dia em que aconteceu a virada de mesa no dia 30 (de novembro), em um dos dias mais tristes da história do Conselho Deliberativo do Sport. É um caso de tristeza você ter que colocar uma ação judicial contra seu próprio clube, em uma coisa que jamais imaginei que iria acontecer. Mas coloquei porque eu não represento mais a mim, mas represento um grupo de apoiadores e sócios que se revoltaram com a a atitude tomada. Gostaria muito que a gente estivesse debatendo ideias, projetos e soluções para os problemas do Sport, debatendo renovação, profissionalização... debatendo coisas concretas para o Sport, para que a gente estivesse, nas vésperas das eleições, num clima cordial e democrático, num clube democrático em que a gente vive. Isso era o que eu gostaria que estivesse acontecendo.
Que a gente estivesse se preparando para a gente fazer uma grande festa, respeitando as regras da covid-19, fazendo um pleito democraticamente na sexta-feira. Mas infelizmente o Sport está sendo resolvido eleitoralmente num tribunal. É triste, mas é lutar pelo direito dos sócios e apoiadores, daqueles que acreditam em mim. Não cheguei aqui por acaso, cheguei aqui porque, além do nosso projeto, desenvolvido por 28 pessoas, hoje a gente tem mais de 600 seguidores em grupos de WhatsApp, fora os seguidores no Twitter que também acreditam na gente e se revoltaram com os acontecimentos daquele dia. E que a gente teve que trabalhar e buscar na Justiça o caminho normal para quem não concorda com aquele ato antidemocrático na minha opinião. Um ato que não condiz com a história do Sport e nem com o estatuto do Sport. Para falar o mínimo, vou chamar de uma virada de mesa dos anos 1980 e 1990, que fazia muito tempo que não acontecia no futebol mas aconteceu no Sport.
O grupo Novo Sport lançou sua candidatura em julho. Já preocupados com o processo eleitoral do Sport, que anos após anos é resolvido faltando 30 dias para acabar as eleições, e também preocupados com o ano atípico devido a essa pandemia, a mudança nos meses do campeonato, e vendo que também não estava existindo nenhuma movimentação dentro do clube, para que a gente estivesse tido a preocupação da sucessão ou manutenção do presidente, nós lançamos nossa campanha em julho e começamos a conversar com outras lideranças dentro do clube. Da mesma forma que fizemos em 2016, mas em outro formato. Procurei novas lideranças do clube e convidei para formar uma chapa, tendo pessoas novas e com história no clube, para que a gente fosse uma opção na sucessão de Milton ou uma segunda opção caso Milton fosse concorrer. Acontece que nunca se chegava num consenso, a maioria dizendo que não era o momento para se tratar disso, mesmo eu lembrando que as eleições seriam no meio do campeonato, e num momento crítico.
A intenção original era antecipar a eleição para que a nova diretoria pudesse fazer algo caso o time estivesse em uma maneira desconfortável. Fomos formando nossa chapa e concluímos nossa chapa em setembro. Formamos também o nosso marketing e o jurídico, dois alicerces que já estão montados. Mais uma vez, aos 45 do segundo tempo, outros candidatos começaram a sair um ou outro, e deixaram para o final a definição, o que provou situações conturbadas no clube, com fake news, candidato desistindo do processo por pessoas tendo um comportamento inadequado... e aí isso acendeu uma luz vermelha. E aí alguns membros do Conselho Deliberativo entenderam que não era o momento para fazer as eleições, foi feita uma reunião do Conselho e a data das eleições foi alterada por 90% do Conselho. Alguns candidatos ficaram insatisfeitos, uma decisão democrática dentro do estatuto, e recorreram a Justiça. E aí eu fiquei esperando o resultado da justiça para saber se as eleições iriam ser agora ou depois.
Mas eu quero lembrar outro detalhe. Para que se tenha eleições de forma digital, é preciso que tenha 60 dias para se implantar o sistema. Então mesmo agora a justiça determinando a volta das eleições, num momento em que está proibido eventos com aglomerações acima de 300 pessoas, as eleições teriam que ser de forma virtual. Sendo virtual, nós teríamos que esperar 60 dias para que essas eleições aconteçam. Para concluir, queria dizer que estamos prontos e preparados. Nosso time está montado, estamos esperando uma definição da Justiça para levar a fundo o nosso projeto para a torcida, e se Deus quiser assumirmos o clube após as eleições e tirarmos o clube dessa situação delicada em que ele se encontra, com ele permanecendo na Série A.
Todo esse processo eleitoral permite que os sócios e sócias do Sport cheguem a uma conclusão inquestionável: existe, de fato, um grupo que comanda o Sport há mais de 60 anos que não quer permitir que aconteçam eleições democráticas e abertas para os sócios e sócias terem o direito de escolher uma nova gestão. Não existe mais condições através de notas oficiais ou de petições que sejam apresentadas nos processos judiciais, nada mais poderá impedir que a nação rubro-negra e a sociedade pernambucana tenham certeza de que o que está acontecendo na Ilha do Retiro é, sim, um golpe. Por que eu afirmo isso: porque tudo ia relativamente bem, mas às vésperas das inscrições da chapa, em virtude desse grupo não ter encontrado um candidato de consenso, esse processe de golpe foi instalado mediante a um requerimento esdruxulo, que foi aprovado as carreiras pelo Conselho Deliberativo adiando, sem prévia data marcada, as eleições do Sport.
É indispensável que essa história seja contada do começo para que a nação rubro-negra lembre-se dos detalhes e não se perca nesse maranhado de factoides que estão sendo levantados. No dia 25 de novembro, tivemos conhecimento de um áudio por meio do qual ex-presidente Milton Bivar informa ao ex-presidente Arsênio Meira que tudo estaria pronto, faltando apenas que o grupo indicasse um grupo de consenso. Isso não aconteceu. O ex-presidente Wanderson Lacerda, quando teve a palavra durante a reunião, apelou que as eleições fossem adiadas por conta da saúde mental e física dos sócios e sócias do Sport por conta da covid-19. O apelo dramático feito por Wanderson para que as eleições fossem adiadas porque o time, os jogadores de futebol, estariam, segundo Wanderson, intranquilos com as eleições. O que demonstra, mais uma vez, que o pedido de adiamento não tem nada a ver com a covid-19.
Diante dessa decisão do Conselho, nós não tivemos outra alternativa se não ingressar com uma ação judicial, e obtivemos uma liminar do juiz que determina que as providências sejam adotadas pelo presidente em exercício do Sport no sentido de realizar as eleições na segunda quinzena de dezembro, de preferência até o 18. Se a atual administração tivesse o interesse em cumprir a ordem judicial, teria demonstrado que teria tomado todas as atitudes necessárias na tentativa de viabilizar as eleições do dia 18. E, ao mesmo tempo, demonstrando a impossibilidade, informaria ao juiz que, se não pudesse ser no dia 18, seria no dia 20, 22, 24. O que demonstra que a atual gestão do Sport não quer que as eleições sejam realizadas agora. O juiz da 12ª Vara terá que examinar tudo que está acontecendo. E, uma vez constatado que o Sport obedeceu ou tentou obedecer essas medidas, vamos ver a próxima determinação. Se por acaso ficar comprovado que o Sport não tomou nenhuma medida para realizar as eleições, vamos examinar com cautela para saber qual medida vamos examinar dentro do processo. Uma delas, no extremo, que não é desejada por ninguém, seria a nomeação de uma pessoa capacitada a tomar as medidas para realizar as eleições do Sport na maior brevidade possível.
A gente vive num momento onde a pandemia do coronavírus tomou proporções gigantescas em Pernambuco, no Brasil e no mundo. É uma temeridade pensar em realizar qualquer atividade que aglomere e que reúna um número expressivo de pessoas. Sócios aptos a voto no Sport são mais de 12 mil. É um momento em que o bem maior que nós temos, que é a vida, precisa ser preservado. O processo eleitoral do Sport tramitava dentro da regularidade, dentro de tudo que precisava ser feito por parte do Executivo. Acontece que esse aumento brutal de internamentos e óbitos fez com que ficasse absolutamente inviável pensar em eleições neste momento. Independente desse aspecto, o Sport passa por um processo de reconstrução depois de gestões desastrosas que acabaram com o clube. O Sport hoje é uma entidade em situação falimentar.
Então é chocante pensar que o mesmo grupo que sustentou as duas últimas gestões anteriores a de Milton Bivar, agora se coloquem querendo voltar ao poder do clube. É impossível e inadmissível pensar que um pequeno grupo pode representar o pensamento de milhões de torcedores do Sport. Somos a nação rubro-negra, um clube que se reveste em uma nação. Para administrar o Sport, tem que contar com a experiência dos mais antigos, a força dos mais novos, numa simbiose, numa força coletiva para resgatar esses valores que foram tão maltratados pelas últimas duas gestões do clube (antes de Milton). Então o sentimento do processo eleitoral é esse. Tenho muita convicção que a Justiça vai acatar o recurso do clube, que foi bem formulado. E o Tribunal de Justiça de Pernambuco, até de forma coerente respeitando o decreto do Governo do Estado, vai acatar o recurso, vai preservar a vida do sócio e de todos que estariam envolvido nas eleições. E, no momento correto, quando a pandemia estiver mais sob controle, o Sport vai ter o processo eleitoral.