Em meio a surto de coronavírus, papa Francisco envia bênção dominical por vídeo

''É estranha esta oração do Ângelus, com um papa enjaulado na biblioteca. Mas eu os vejo e estou próximo de vocês'', disse o religioso durante a transmissão
AFP
Publicado em 08/03/2020 às 11:52
Esta é a primeira vez que o papa argentino recorre ao sistema de streaming Foto: ALBERTO PIZZOLI/AFP


O papa Francisco manifestou neste domingo (8), pela primeira vez por "streaming" feito da biblioteca do palácio apostólico, "sua proximidade" com os doentes de coronavírus.

Depois disso, aproximou-se da janela para compartilhar sua bênção.

"É estranha esta oração do Ângelus, com um papa enjaulado na biblioteca. Mas eu os vejo e estou próximo de vocês", afirmou, antes de se aproximar da janela, diante de alguns poucos fiéis espalhados na praça de São Pedro.

O Vaticano já tinha anunciado nesse sábado (7) que o papa faria sua oração dominical por "streaming", direto da página Vatican News, para atender às medidas exigidas pelo governo italiano de contenção do vírus.

Esta é a primeira vez que o papa argentino recorre a esse sistema, já usado no passado por João Paulo II quando estava muito doente, ou pouco depois do atentado do qual foi alvo em 1981.

"Fazemos isso para cumprir as determinações preventivas e evitar possíveis contágios", explicou Francisco, que se aproximou da janela por alguns segundos "para ver um pouco de mundo real".

Com a medida, o objetivo da Santa Sé foi evitar aglomerações na praça de São Pedro, como é habitual. A enorme esplanada estava quase vazia, com as pessoas mantendo mais de um metro de distância entre si. Não havia filas, como costuma acontecer, para passar pelos controles de segurança.

"Estas decisões são necessárias para evitar os riscos de difusão da Covid-19, devido às aglomerações nos controles de segurança para ter acesso à praça, como pedem as autoridades italianas", explicou o Vaticano em um comunicado.

"Me sinto perto das pessoas que sofrem a atual epidemia de coronarívus e de todos que se preocupam com elas", acrescentou o papa, em sua saudação final.

- Rigor nas medidas

No vídeo, Francisco também enviou uma mensagem de solidariedade aos que sofrem outra tragédia: a guerra na Síria.

"Especialmente aos habitantes do noroeste da Síria, obrigados a fugir dos recentes acontecimentos da guerra", disse ele, reiterando sua preocupação com "as crianças" e com "as pessoas indefesas" desse país.

Francisco convidou os fiéis a "viverem este difícil momento com a força da fé", o que foi percebido por alguns dos presentes na praça.

"Ele apareceu uns 30 segundos. Sentimos que podemos voltar para nossas casas, embora é claro que tenha preocupação com o que acontece no mundo", comentou Fabio Di Costanza, um jovem napolitano.

Para alguns turistas, que aproveitam uma Roma deserta, as medidas são exageradas.

"Há um pânico desnecessário", afirmou o inglês Kirsten Wilson, de 47 anos.

Para a mexicana Monserrat Pagatella, uma médica de Puebla de 43 anos, ver o papa pela janela, e não mais próximo da multidão, é antes de tudo uma medida de precaução para com o próprio Francisco.

"No México, tivemos a epidemia de influenza, que teve maior mortalidade. A verdade é que não foram tomadas medidas tão drásticas quanto na Itália", observou.

Até 15 de março, não será permitido que os fiéis participem das missas na residência Santa Marta. Além disso, o sumo pontífice celebrará a eucaristia em privado.

Já a Basílica de São Pedro permanecerá aberta, com um gradual fluxo de acesso.

A audiência semanal do papa, às quartas-feiras, "será realizadas nas mesmas condições", ou seja, por "streaming".

Há mais de uma semana o papa, de 83 anos, não sai do Vaticano.

Menor Estado do mundo, com 0,44 km2 e 450 habitantes, o Vaticano anunciou na sexta-feira seu primeiro caso de coronavírus.

O caso foi detectado em um modesto centro médico, situado próximo a uma das portas de acesso ao território desse micro-Estado cravado no coração de Roma.

O governo italiano decidiu, neste domingo, pôr em quarentena mais de 15 milhões de pessoas no norte do país, cerca de 25% da população total, em uma medida sem precedentes para tentar conter o avanço do novo coronavírus no território.

No decreto sancionado pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte, o governo também determinou o fechamento de museus, teatros, cinemas, salas de concertos, pubs, salões de jogos e outros estabelecimentos similares em todo país até 3 de abril.

As competições esportivas ficam suspensas, embora alguns eventos possam ser realizados a portas fechadas, ou seja, sem público.

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