O amor em tempos de coronavírus

O popular aplicativo de encontros Tinder emitiu um aviso para seus usuários
AFP
Publicado em 09/03/2020 às 14:13
Entre as recomendações, a OMS não disse nada sobre relações sexuais Foto: JOHN THYS/AFP


Para acessar os quartos do Mask, um clube libertino de Paris, é necessário usar uma máscara, de preferência com renda ou no estilo veneziano. Mas em tempos de coronavírus, a versão cirúrgica também funciona.

“Colocamos álcool em gel e máscaras cirúrgicas na entrada. Mas, no momento, não planejamos fechar”, afirmou um responsável desse estabelecimento, que enfrenta uma queda de 30% nas frequências há uma semana, quando começaram a surgir os casos do novo coronavírus na França.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) multiplicou as recomendações para se proteger do COVID-19 em situações específicas do dia a dia, mas não disse nada sobre relações sexuais.

Em todo o mundo, recomenda-se abandonar o cumprimento com um beijo ou aperto de mão, embora beijos apaixonados e trocas fluidas levantem questões.

O popular aplicativo de encontros Tinder emitiu um aviso para seus usuários: “Proteger-se do coronavírus é mais importante”. Entre dois ‘matchs’, há uma “carta de advertência” que os direciona para as recomendações da OMS.

“O Tinder está ciente de que seus membros, às vezes, se veem pessoalmente. Dado o contexto atual, o Tinder quis lembrá-los das precauções que deveriam tomar”, explica um porta-voz da empresa com 50 milhões de usuários.

No entanto, o vírus também pode ajudar a se conectar.

“Você acha que todos vamos morrer?”. Nos aplicativos, o tema é uma maneira fácil de quebrar o gelo.

'Um ambiente de fim do mundo'

Celia, uma parisiense de 39 anos, esperava com impaciência o fim de semana para conhecer sua última conquista. “Existe um ambiente de fim do mundo com esse vírus, é um momento que me faz querer viver mais intensamente”, admite. Infelizmente, seu amigo cancelou o encontro de última hora porque estava “com um pouco de febre”.

Durante seu segundo encontro com Olivier, Camille diz que foram feitas “muitas perguntas relacionadas ao coronavírus”. Os dois, de trinta anos, se encontraram no cinema. Durante o filme, “ele propôs que eu bebesse de seu canudo, pensei por alguns segundos antes de aceitar”, conta essa arquiteta.

Em um pub no centro de Paris, o coronavírus é “um bom tópico de conversa”. “Nos ajuda a abordar as mulheres”, admite um grupo de quatro homens, na casa dos quarenta anos, enquanto pedem uma bebida no balcão.

Na rua Oberkampf, uma das áreas mais festivas do leste de París, Jeanne, 30 anos, passou “uma noite como muitas outras, com flertes e muita dança”. “Quando você coloca quatro gramas de álcool em cima, esquece rapidamente os riscos de contaminação”, conta a jovem.

Na noite de sábado, antes que caia a proibição de qualquer reunião com mais de 1.000 pessoas na França, é o momento de trocar casais em Monarch, outro clube libertino da cidade do amor, onde o techno e o carnal coabitam.

Estrategicamente localizados perto dos banheiros do clube, voluntários de uma associação preparam seu material. Mas não se trata de máscaras ou álcool em gel, e sim preservativos, luvas de látex e canudos descartáveis em caso de uso de drogas. Tudo para amar um ao outro com segurança e proteger-se de doenças sexualmente transmissíveis, começando pela AIDS.

“Existem riscos maiores que o coronavírus, certo?”, questiona um dos voluntários.

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