Sessenta anos depois, Chile espera novo terremoto de grande magnitude

Com uma magnitude de 9,5, o terremoto de Valdivia, em 22 de maio de 1960, foi o mais poderoso já registrado no mundo
AFP
Publicado em 21/05/2020 às 12:53
Terremoto no Chile em 1960 Foto: STF / AFP


Foi um cataclismo. Por mais de cinco minutos, o chão tremeu. Rachaduras gigantes se abriram e terminou com um tsunami. Sessenta anos após o terremoto de Valdivia, o mais poderoso do mundo, o Chile lidera a construção antissísmica sem se acostumar com esses desastres.

Muitos já haviam almoçado naquele domingo, 22 de maio de 1960, e comentavam o terremoto de magnitude 8,1 que atingiu a cidade vizinha de Arauco no dia anterior, quando, às 15h11, o chão começou a tremer como nunca antes.

"Sentiram que o mundo estava acabando. Viram como grandes rachaduras se abriram no chão e tiveram que pular sobre elas. Viram as colinas subirem e descerem e o chão se mover como uma cobra subindo e descendo", descreve Cristian Farías, geofísico e diretor do Departamento de Obras Civis e Geologia da Universidade de Temuco, depois de ouvir sobreviventes.

Finalmente, o terremoto do dia anterior acabou sendo um precursor do grande terremoto de Valdivia, que com uma magnitude de 9,5 é o mais poderoso já registrado no mundo.

Levou mais de uma década para determinar que a magnitude do terremoto era 32 vezes maior que a medida originalmente, acrescenta Farías.

O especialista lembra que a primeira medição foi feita à mão, com um lápis e uma régua, em um sismograma que dava a magnitude máxima medida naquele momento: 8,5.

Outros dados do terremoto são eloquentes. A extensão foi entre 900 e 1.000 km, cobrindo grande parte do sul do país. Tão extenso que alguns especialistas optaram por chamá-lo de "o grande terremoto no Chile de 1960".

O terremoto deslocou as placas de Nazca e Sul-americana até 40 metros e durou pelo menos cinco minutos, mas como as ondas sísmicas levam tempo para se propagar, há registros de até 14 minutos de duração.

Menos de uma hora depois, o tsunami que se seguiu destruiu o pouco que restava, com ondas de até 10 metros que devastaram cidades como Puerto Saavedra, Corral e Queule.

Quinze horas depois, as ondas atravessaram o Pacífico e chegaram às cidades costeiras do Japão, onde mataram mais de 130 pessoas, passando pelo Havaí, Califórnia e Nova Zelândia, onde outras vítimas foram registradas.

E como se isso não bastasse, 33 horas depois, o complexo vulcânico de Cordón Caulle entrou em erupção.

Segundo o Instituto de Resiliência a Desastres, o terremoto deixou mais de 5.700 mortos e danos de mais de 700 milhões de dólares.

Boa construção sem cultura de desastres

Desde antes dessa tragédia, o Chile já havia começado a avançar nos padrões de construção antissísmica, mas o terremoto deu um impulso definitivo.

Hoje, é um dos líderes nesse assunto, com o desenvolvimento de mecanismos de dissipação e amortecimento sísmico.

"Cada um dos terremotos no Chile representou um marco, mas o dos anos 60 foi o maior em relação à modernização e atualização das normas sísmicas de construção", disse à AFP Sergio Barrientos, diretor do Centro Sismológico Nacional. Mas o mesmo não acontece com a cultura antissísmica de prevenção.

"Depois de 1960, começaram a se preocupar em construir melhor e isso foi alcançado, mas as tarefas pendentes são habitar áreas seguras e a cultura antissísmica", diz Magdalena Radrigán, pesquisadora em política e gestão de desastres.

Por exemplo, em Puerto Saavedra, onde seus habitantes viram das montanhas como o tsunami devastou a cidade, a população continua construindo na orla costeira.

"No Chile, na minha opinião, não existe cultura antissísmica, não há cultura de desastre. Embora todos saibam para onde correr, não têm kits de emergência em suas casas; não sabem onde estão as áreas seguras, não temos esse conhecimento incorporado", ressalta.

Embora a grande energia liberada em 1960 permita prever que por vários anos outro grande terremoto não deva acontecer na área, especialistas pedem que estejam preparados "para surpresas".

Nas costas próximas a Valdivia há registros de pelo menos cinco outros tsunamis iguais ou maiores que a magnitude nove.

"E para cada terremoto de 9,5, pode-se esperar vários de 8, que são tremendamente fortes e também podem causar muitos danos", diz Barrientos.

Ele acrescenta que "para cada terremoto de magnitude 8, existem 10 de magnitude sete na mesma região".

Cristian Farías concorda que é difícil que outro mega terremoto ocorra nessa área no curto prazo, mas não no resto do Chile, onde existem grandes janelas sísmicas nas quais um grande terremoto pode ocorrer a qualquer momento.

 

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