Maioria dos alemães sabia do Holocausto, aponta novo documentário

O conhecido diretor britânico Luke Holland entrevistou mais de 300 idosos alemães e austríacos
AFP
Publicado em 03/09/2020 às 16:26
Neste dia 27 de janeiro, o exército soviético chegou a Auschwitz, parte da rede de extermínio criada por Adolf Hitler Foto: Foto: JANEK SKARZYNSKI / AFP


A maioria dos alemães sabia que o Holocausto estava sendo perpetrado durante a Segunda Guerra Mundial, apontaram os produtores de um novo documentário nesta quinta-feira.

O conhecido diretor britânico Luke Holland entrevistou mais de 300 idosos alemães e austríacos, muitos dos quais eram ex-membros da SS, para filmar "Final Account", que estreará no Festival de Cinema de Veneza.

Holland, que morreu em junho, fez amizade com ex-nazistas por mais de uma década, persuadindo-os a falar sobre o que sabiam e revelando em sua obra monumental, que atraiu aplausos entusiasmados da crítica.

O Hollywood Reporter classificou o documentário como "excepcional", observando que pode ser a última vez que se ouve depoimentos de "participantes ativos nos horrores dos campos de concentração".

O produtor Sam Pope observou que o incrível trabalho de Holland se deve ao fato de ter passado anos de sua vida conquistando a confiança dessas pessoas.

Enquanto muitos lutavam com suas consciências, outros não se arrependiam e se orgulhavam de ter servido na SS, "na qual todos os homens podiam ser 100% confiáveis", disse um deles.

Outros negaram o Holocausto, embora admitissem abertamente que sabiam de massacres.

"Não culpe Hitler", observou um deles. "A ideia estava correta, mas (os judeus) deveriam ter sido expulsos do país", em vez de serem mortos, acrescentou.

Pope disse que as entrevistas com não combatentes, principalmente mulheres, refutam a ideia de que poucas pessoas comuns, tanto na Alemanha quanto na Áustria, sabiam o que estava acontecendo.

Como se fosse uma frase de efeito, muitos afirmaram que "foi depois da guerra que souberam desses crimes horríveis", disse o produtor aos repórteres.

"No desenvolvimento dessas entrevistas, acredito que essa probabilidade se torna cada vez menor", disse.

"Mesmo sem ter estado ali ou participado, certamente você conhecia alguém que estava ou ouviu boatos. Por exemplo, seu irmão, que era soldado, chegou em casa um dia e lhe contou histórias", disse Pope.

No entanto, uma das cenas mais assustadoras do filme aconteceu na Alemanha moderna, quando jovens neonazistas gritam com um ex-soldado SS idoso que tenta fazer com que eles se "envergonhem de serem alemães" ao falar sobre sua culpa.

A longa e chocante troca aconteceu ao redor da mesa na Wannsee House, a mansão localizada nos arredores de Berlim, onde a Solução Final, a deportação e o extermínio de todos os judeus nos territórios ocupados pela Alemanha foram traçados.

Com ativistas de extrema direita tentando invadir o prédio do Reichstag (parlamento) em Berlim no fim de semana, as lições da história são claras, disse Pope.

"Essas ideologias poderosas e imperfeitas ainda estão presentes e ganham força, não só na Alemanha e na Áustria, mas em todo o mundo", alertou.

Na legenda do filme, Holland, que cresceu falando alemão e cuja família materna morreu no Holocausto, recusou-se a condenar seus entrevistados, a maioria deles na casa dos 90 anos. "Os perpetradores não nascem, eles se tornam", escreveu.

No entanto, ele não parava de fazer perguntas cada vez mais difíceis aos homens e mulheres de quem se tornara amigo.

A coprodutora Riete Oord disse que "ficou muito claro que muitos sabiam exatamente o que estava acontecendo, mas reprimiram para si mesmos.

Há um homem que diz: "Se 99 pessoas na minha frente achassem que não havia problema em massacrar judeus, eu também aceitava. O anormal se torna muito normal sob tais circunstâncias".

 

 

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