POLÍTICA

Chile inicia segundo dia de histórica eleição para mudar sua Constituição

Os chilenos devem escolher entre 1.373 candidatos os integrantes da Convenção Constitucional, entre eles atores, escritores, professores, ativistas sociais e advogados

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AFP

Publicado em 16/05/2021 às 13:36 | Atualizado em 16/05/2021 às 13:36
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O Chile iniciou, neste domingo (16), o segundo e último dia de uma votação histórica para eleger os 155 redatores de uma nova Constituição, destinada a substituir a herdada da ditadura de Augusto Pinochet e responder às demandas das ruas por equidade e bem-estar social.

Os locais de votação reabriram às 8h (9h de Brasília). Os chilenos devem escolher entre 1.373 candidatos os integrantes da Convenção Constitucional, entre eles atores, escritores, professores, ativistas sociais e advogados.

A Magna Carta anterior, elaborada durante a era Pinochet (1973-1990), é considerada a origem das desigualdades sociais no Chile.

As urnas foram lacradas e guardadas no sábado à noite, dia do início da votação, nos centros eleitorais por mais de 23.000 militares e delegados do Serviço Eleitoral (Servel) sem registro de incidentes, de acordo com a imprensa local.

No sábado, mais de 20% dos 14,9 milhões de eleitores depositaram seu voto voluntário. Devido à pandemia de coronavírus, a votação foi dividida em dois dias após um atraso de cinco semanas desde 11 de abril devido a uma nova onda de covid.

Na repartição do voto por regiões e comunas, a tendência marcava uma diferença importante entre a alta taxa de participação nos setores mais ricos e um baixo influxo nas áreas mais pobres.

"Gostei de ter visto muita gente. Estamos todos participando desse evento histórico que é a Constituinte e eu diria que está tudo muito normal e muito bem organizado", comentou à AFP Camila Galleguillos, de 32 anos, que trabalha em uma agência de design.

A mudança da Constituição de Pinochet foi a forma como o sistema político chileno conseguiu canalizar as manifestações massivas - várias e muito violentas - que estouraram em 18 de outubro de 2019, deixando cerca de trinta mortos e prejuízos milionários no comércio e no mobiliário público.

Quase um mês após o início desses protestos, quando vários prédios estavam em chamas em Santiago, as forças políticas anunciaram um acordo para convocar um plebiscito para decidir sobre a mudança da Constituição, que finalmente foi realizado em 25 de outubro de 2020.

O resultado: 80% de apoio à opção "Aprovo" para a mudança constitucional em um dia que culminou em manifestações massivas; enquanto apenas 20% optaram pelo "Rejeito", uma opção que se concentrou nas três comunas mais ricas do Chile.

Além dos constituintes, os chilenos votam neste fim de semana em prefeitos, vereadores e, pela primeira vez, governadores regionais, em mais uma etapa em direção a uma sociedade mais participativa.

O processo constitucional também marca a primeira vez no mundo que uma Constituição será redigida por pessoas eleitas de forma paritária. Também fará história ao reservar 17 assentos aos 10 povos originários.

 

 

A esperança do mundo político é que o processo constituinte - que durará nove meses, prorrogável apenas uma vez por três meses - vire a página da longa transição política que começou quando o Chile recuperou a democracia em 1990.

Nunca antes os chilenos tiveram a oportunidade de participar da elaboração e votação de uma nova Constituição, com a qual, segundo várias pesquisas, os chilenos esperam ter garantidos diversos direitos sociais, como acesso à saúde, moradia e educação.

"Uma boa parte do futuro do nosso país está em jogo na redação de uma Constituição que nos una, não uma que nos separa, como a atual", declarou o pré-candidato presidencial progressista Heraldo Muñoz, após votar no sábado.

Um levantamento da empresa Criteria, divulgado pelo jornal La Tercera, mostrou no sábado que 63% dos chilenos acreditam que o resultado da nova Constituição terá "consequências positivas para o país".

Uma minoria teme, no entanto, que possa levar a uma Constituição muito esquerdista que mude radicalmente o modelo político e econômico ultraliberal do Chile.

O processo também é visto como um exemplo para resolver os problemas sociais.

"As constituições duram muitos anos, então devemos fazê-la bem, com calma, sem desqualificações. Acho que é importante em um dia como hoje, pelo que está acontecendo na América Latina, cuidar da política", comentou o ex-presidente Eduardo Frei (1994-2000).

 

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