Atualizada às 20h12
As tropas russas invadiram a Ucrânia na madrugada desta quinta-feira (24), em uma ofensiva geral que as aproximou da capital, Kiev, e deixou ao menos 137 mortos e quase 100.000 deslocados, levando a um endurecimento das sanções ocidentais em resposta.
"Cento e trinta e sete heróis, nossos cidadãos" perderam a vida, disse o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em um vídeo publicado no site do governo, acrescentando que outros 316 ucranianos ficaram feridos nos combates.
Os militares russos tomaram uma base aérea estratégica perto de Kiev, assim como a área da usina de Chernobyl, ainda contaminada pela radioatividade do acidente nuclear de 1986, quando a Ucrânia fazia parte da agora desmembrada União Soviética.
A base aérea de Gostomel caiu após um ataque realizado por soldados chegados de helicóptero de Belarus, país aliado da Rússia, relataram testemunhas.
"Os helicópteros chegaram e começaram os combates. Atiravam com metralhadoras e lança-granadas", disse uma das testemunhas, Serguiy Storojouk.
Esse aeródromo pode servir como posto avançado para o lançamento de uma ofensiva contra Kiev.
Um membro de um serviço de inteligência ocidental estimou que a Rússia tem agora "completa superioridade aérea", já que o governo de Kiev não tem mais recursos contra esse tipo de ofensiva.
Rússia comemora invasão à Ucrânia
O Ministério da Defesa russo disse que todas as missões neste primeiro dia de operações "foram concluídas com sucesso".
O presidente Vladimir Putin, que durante semanas enviou mais de 150.000 soldados nas fronteiras com a Ucrânia, anunciou o começo da ofensiva durante a madrugada desta quinta-feira.
"Tomei a decisão de uma operação militar", declarou Putin em um discurso televisionado, três dias após reconhecer a independência das regiões separatistas do leste da Ucrânia.
O exército russo afirmou que destruiu 74 instalações militares, entre elas 11 aeródromos, e que os separatistas estão avançando e assumindo o controle dos territórios.
Putin, que exige que a Otan feche suas portas à Ucrânia, garantiu que não busca a "ocupação" desta ex-república soviética, mas "uma desmilitarização e desnazificação" do país e a defesa dos rebeldes pró-russos.
As tropas russas entraram pelo norte, sul e leste da Ucrânia, causando um êxodo da população.
Quase 100.000 pessoas fugiram de suas casas e milhares buscaram refúgio no exterior, indicou a ONU.
Olena Kurilo foi ferida por estilhaços de vidro em sua casa, provocados por bombardeios em Chuguev, perto de Kharkov.
"Nunca, sob nenhuma condição, vou me render a Putin. É melhor morrer", declarou a professora de 52 anos, com o rosto coberto de bandagens.
Sanções contra a Rússia
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou restrições às exportações para a Rússia e às importações de tecnologia do país, bem como sanções contra bancos e magnatas russos.
Anteriormente, ele havia anunciado que o G7, grupo dos países mais industrializados, havia concordado em impor penalidades econômicas "devastadoras" contra a Rússia.
A União Europeia também decidiu adotar sanções com consequências "massivas e severas" contra a Rússia.
A queda de Chernobyl
O governo ucraniano anunciou a ocupação por tropas russas da usina nuclear de Chernobyl.
"Depois de uma feroz batalha, perdemos o controle do local de Chernobyl", disse Mikhailo Podoliak, conselheiro-chefe do gabinete do presidente Volodomir Zelensky.
Após a perda desta área, ainda altamente contaminada pelo pior acidente nuclear da história, desconhece-se o estado das instalações, da cobertura que isola o reator danificado e de um depósito para combustível nuclear, observou o alto funcionário.
"Esta é uma das maiores ameaças à Europa hoje", afirmou ele, que acredita que os russos poderiam organizar atividades de "provocação" no local para culpar a Ucrânia.
Manifestantes presos na Rússia
A polícia russa deteve em várias cidades cerca de 1.400 pessoas por participarem de manifestações contra a guerra na Ucrânia, segundo a ONG de direitos humanos OVD-info.
A organização afirma que pelo menos 1.391 pessoas foram detidas em 51 cidades, 719 delas em Moscou, onde a AFP testemunhou dezenas de prisões.
Nas ruas de Moscou, habitantes manifestavam sua preocupação e outros, apoio a Putin.
"Não estou feliz, estou muito nervoso", disse Nikita Grushin, empresário de 34 anos, dizendo não ter ideia de quem "está certo" nesta crise.
"Não vou criticar uma ordem do comandante supremo. Se ele acha que isso é necessário, deve ser feito", declarou Ivan, um engenheiro de 32 anos.
- Tempestade nos mercados -
A invasão atingiu os mercados internacionais. O petróleo Brent superou os US$ 100 por barril pela primeira vez em sete anos e as ações em todo o mundo despencaram nesta quinta-feira.
A Bolsa de Valores de Moscou, que interrompeu as negociações por algumas horas, sofreu perdas de mais de 30% e a moeda russa, o rublo, registrou sua baixa histórica em relação ao dólar antes da intervenção do banco central russo.