Da AFP
A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) alertou nesta terça-feira (12) para o risco de uma divisão da economia global em blocos rivais no contexto da guerra na Ucrânia, e pediu aos países que não restrinjam o comércio neste período de crise.
"A guerra na Ucrânia causa imenso sofrimento humano, mas também prejudica a economia mundial em um momento crítico", disse a diretora-geral Ngozi Okonjo-Iweal, durante na apresentação anual das projeções do comércio internacional.
"A história nos ensina que dividir a economia mundial em blocos rivais e dar as costas aos países mais pobres não leva à prosperidade ou à paz. A OMC pode desempenhar um papel vital ao fornecer um fórum onde os países possam discutir suas diferenças sem recorrer à força", acrescentou.
Com poucos dados sólidos sobre o impacto econômico do conflito, os economistas da OMC tiveram que recorrer a simulações para gerar suposições razoáveis sobre o crescimento do PIB em 2022 e 2023.
Segundo eles, o PIB mundial deverá aumentar 2,8% em 2022, após um crescimento de 5,7% em 2021. O crescimento deverá subir 3,2% em 2023.
O volume do comércio mundial de mercadorias aumentaria 3% em 2022 - enquanto a OMC previa em outubro um aumento de 4,7% - e 3,4% em 2023, mas esses números podem ser revistos devido à incerteza sobre a evolução do conflito na Ucrânia.
A guerra na ex-república soviética não só criou uma crise humanitária de grande envergadura, como também afetou fortemente a economia mundial, já desestabilizada pela pandemia de covid-19.
Desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, toneladas de grãos estão paralisadas em portos ucranianos como Mariupol, cidade bombardeada e sitiada por Moscou devido à sua posição estratégica.
Embora não tenham grandes participações no comércio e na produção mundial, a Rússia e a Ucrânia são importantes fornecedores de produtos essenciais, incluindo alimentos, energia e fertilizantes.
Os embarques de grãos dos portos do Mar Negro pararam, o que pode ter consequências devastadoras para a segurança alimentar dos países pobres.
"Como resultado da redução da oferta de alimentos e do aumento dos preços dos alimentos, os pobres do mundo podem ser forçados a ficar sem", enfatizou a chefe da OMC.
A guerra não é o único fator que afeta atualmente o comércio mundial.
De acordo com a OMC, "os confinamentos impostos na China para impedir a propagação da covid-19 estão novamente perturbando o comércio marítimo num momento em que as pressões da cadeia de abastecimento pareciam estar diminuindo", o que poderia "levar a uma nova escassez de insumos manufatureiros e a uma maior inflação".
Em uma primeira análise, a OMC alertou que a guerra na Ucrânia poderia reduzir pela metade o crescimento mundial esperado para 2022 e levar, no longo prazo, a uma "desintegração da economia mundial em diferentes blocos", que seriam organizados com base em considerações geopolíticas.
Esse cenário seria "muito caro", segundo a OMC, principalmente para as regiões menos desenvolvidas.
"Isso não deve acontecer. Não é hora de nos fecharmos. Em uma crise, é necessário mais comércio para garantir acesso estável e equitativo a itens essenciais. Restringir o comércio ameaçará o bem-estar de famílias e empresas e tornará mais difícil forjar uma recuperação econômica duradoura da covid-19", concluiu a diretora da OMC.