ORIENTE MÉDIO

Israel anuncia investigação por ação policial durante funeral de jornalista palestina

Uma ação das forças de segurança do país quase fez o caixão cair, o que suscitou críticas internacionais

Cadastrado por

Katarina Moraes

Publicado em 14/05/2022 às 18:38 | Atualizado em 14/05/2022 às 18:40
Enlutados carregam o caixão da jornalista veterana da Al-Jazeera, Shireen Abu Akleh - HAZEM BADER / AFP

Com informações da AFP

A polícia israelense anunciou neste sábado (14) que investigará a atuação de seus agentes durante o enterro em Jerusalém da jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh. Uma ação das forças de segurança do país quase fez o caixão cair, o que suscitou críticas internacionais.

Milhares de palestinos compareceram ao funeral da jornalista do canal Al Jazeera, que morreu na quarta-feira ao ser atingida por um tiro na cabeça quando cobria uma operação militar israelense no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada. 

A repórter usava um colete à prova de balas com a palavra "Imprensa' e um capacete.

Os incidentes explodiram quando a polícia tentou dispersar a multidão depois que o caixão saiu do hospital em Jerusalém Leste, uma área palestina ocupada por Israel. O caixão da jornalista quase caiu, mas foi salvo no último momento, como exibido pelas emissoras de TV locais.

"O comissário da polícia de Israel, em coordenação com o ministro da Segurança Pública, ordenou uma investigação sobre o incidente. As conclusões serão apresentadas ao comissário nos próximos dias", afirmou a polícia em um comunicado.

Ao mesmo tempo, a polícia israelense alega que seus agentes "se viram expostos à violência de grupos de agitadores". A comunidade internacional criticou a intervenção da polícia de Israel durante o funeral de Shireen Abu Akleh.

"As imagens da intervenção policial israelense no cortejo fúnebre nos perturbaram profundamente", afirmou o secretário de Estado americano Antony Blinken.

A União Europeia (UE) condenou o "uso desproporcional da força e o comportamento desrespeitoso da polícia israelense com os participantes no cortejo fúnebre".

Em uma postura unânime, algo incomum, o Conselho de Segurança da ONU "condenou de maneira veemente o assassinato" da jornalista e pediu uma "investigação imediata, exaustiva, transparente e imparcial para garantir a prestação de contas".

Para a Fundação Desmond Tutu, as cenas da intervenção policial "são arrepiantes e lembram a brutalidade infligida aos enlutados em funerais de militantes contra o apartheid" na África do Sul.

"Se os cantos nacionalistas não pararem, teremos que dispersá-los usando a força e impedir a celebração do funeral", disse um policial israelense com um megafone na sexta-feira para a multidão reunida dentro do hospital São José, de acordo com um vídeo divulgado pela força de segurança.

A polícia acusou a multidão de jogar garrafas de vidro e outros objetos contra os agentes.

De acordo com o Crescente Vermelho palestino, 33 pessoas ficaram feridas durante o funeral e a polícia israelense anunciou a detenção de seis pessoas.

Após a intervenção policial, a multidão seguiu o caixão até uma igreja da Cidade Antiga, onde aconteceu uma missa, e depois até o cemitério.

A Autoridade Palestina, o canal Al Jazeera e o governo do Catar acusam o exército israelense pelo assassinato da jornalista de 51 anos.

Corpo de Shireen Abu Akleh, morta enquanto cobria confrontos na Cisjordânia - AL JAZEERA / AFP

Em um primeiro momento, Israel afirmou que a repórter "provavelmente" morreu ao ser atingida por tiros de combatentes palestinos. Mas depois, o governo indicou que não poderia descartar a responsabilidade dos soldados israelenses.

De acordo com um comunicado divulgado na sexta-feira pela Promotoria palestina da cidade de Ramallah (Cisjordânia), "os resultados iniciais da investigação mostraram que a única origem dos tiros contra Shireen foram as forças de ocupação israelenses".

As autoridades do Estado hebreu querem receber a munição recolhida após a morte da jornalista para um exame balístico e apresentaram uma proposta para que especialistas palestinos e americanos acompanhem a investigação.

Mas a Autoridade Palestina, liderada por Mahmud Abbas, rejeitou a ideia de uma investigação conjunta com Israel e anunciou que deseja enviar o caso ao Tribunal Penal Internacional (TPI).

"As autoridades israelenses cometeram este crime e não confiamos nelas", disse Abbas.

O funeral aconteceu em um dia de novos confrontos perto de Jenin durante as operações do exército. Um policial israelense foi morto por combatentes palestinos e 13 palestinos ficaram feridos.

O exército israelense efetuou várias operações no campo de refugiados de Jenin, reduto das facções armadas palestinas, onde vivem os autores dos recentes atentados em Israel.

E um palestino ferido em abril em confrontos com a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Leste, morreu neste sábado.

De acordo com a agência palestina Wafa, a vítima é Walid Al-Sharif, de 23 anos, natural de Beit Hanina, em Jerusalém Leste.

Desde meados de abril, os confrontos na área da Esplanada deixaram mais de 300 feridos, a grande maioria palestinos.

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