Da AFP
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, encorajou na noite desta terça-feira (13) suas tropas a "aguentar" os ataques russos na região leste do Donbass, em uma batalha que ele considera "vital" para o curso da guerra.
"É vital permanecermos no Donbass", disse o presidente em sua mensagem diária à população. "A defesa da região é essencial para dar uma indicação de quem vai dominar [no terreno] nas próximas semanas", afirmou. "Temos que aguentar", completou Zelensky em um vídeo gravado do lado de fora da sede do governo em Kiev.
As forças russas intensificaram o cerco à cidade industrial de Severodonetsk, que já controlam em grande parte, e tentam isolar as defesas ucranianas destruindo as três pontes que a ligam à vizinha Lysychansk.
Ambas as cidades, separadas pelo rio Donets, são o último reduto de Kiev em Lugansk, uma das duas regiões que, juntamente com Donetsk, compõem a bacia de mineração do Donbass.
Diante desse ataque, as autoridades ucranianas estão multiplicando seus pedidos de armas de países ocidentais, um pedido ao qual o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, aderiu neste terça-feira.
"A Ucrânia deveria ter mais armas pesadas, porque depende absolutamente disso para poder lidar com a brutal invasão russa", disse Stoltenberg após uma reunião com líderes de sete aliados europeus em Haia.
Nesse sentido, Zelensky denunciou que "os russos têm dez, cem vezes mais armas" do que as tropas ucranianas e sua vice-ministra da Defesa, Anna Maliar, denunciou que seu país recebeu apenas "10% das armas que indicamos precisar".
Os Estados Unidos já começaram a entregar armas pesadas à Ucrânia e, nesta quarta-feira, seu secretário de Defesa, Lloyd Austin, presidirá uma reunião em Bruxelas com aliados para discutir uma possível aceleração das entregas.
"Bombardeiam e bombardeiam"
Para a Rússia, controlar Severodonetsk abriria o caminho para avançar em direção a outra grande cidade do Donbass, Kramatorsk, um passo importante para conquistar toda esta região que já está parcialmente sob controle de rebeldes apoiados por Moscou desde 2014.
"Os russos tentam cercar os ucranianos em Severodonetsk, Lysychansk e em algumas localidades próximas, como Pryvillia e Borivske", disse o governador de Lugansk, Serguei Gaiday. De acordo com ele, as forças de Moscou receberam reforços de "dois grupos de batalhões táticos".
"A situação é muito grave", acrescentou o governador, que na segunda-feira admitiu que as forças ucranianas foram expulsas do centro de Severodonetsk após semanas de resistência.
Oleksandr Striouk, prefeito de Severodonetsk, informou a destruição de uma terceira ponte que ligava a cidade com Lysychansk após "bombardeios em larga escala", mas afirmou que a cidade não está isolada. "Há canais de comunicação, mas são complicados", disse.
O prefeito também informou que "540 a 560 pessoas" estão refugiadas nos túneis subterrâneos da fábrica de produtos químicos Azot, que foi bombardeada.
O exército russo anunciou que pretende organizar um corredor humanitário na quarta-feira para os civis entrincheirados na fábrica Azot, que serão enviados à zona de Lugansk controlada pelos separatistas pró-russos.
Em Lysychansk, cujo terreno elevado possibilita que as forças ucranianas ataquem os russos em Severodonetsk de uma posição privilegiada, os danos são imensos e a cidade está sem fornecimento de água potável, energia elétrica e cobertura de telefonia.
Restam poucos moradores, expostos a morrer a qualquer momento em uma explosão. "Eles bombardeiam e bombardeiam e não sabemos o que fazer", disse Yevgueniya Panicheva, cujos vizinhos morreram quando uma bomba caiu em seu jardim.
Em relação a Mariupol, que caiu no final de maio, o governo ucraniano indicou ter recebido os corpos de 64 militares que morreram em Azovstal em uma troca com a Rússia, que também recuperou um número não especificado de corpos.
Crítica do papa
O papa Francisco, que já fez diversos apelos à paz desde o início do conflito, condenou a "brutalidade" das tropas russas contra um povo ucraniano "corajoso".
"O que vemos é a brutalidade e a ferocidade com que esta guerra está sendo travada pelas tropas, geralmente mercenárias, utilizadas pelos russos. Os russos preferem enviar chechenos, sírios, mercenários", lamentou Francisco.
Na frente diplomática, a Rússia anunciou nesta terça que proibirá a entrada em seu território de 49 cidadãos britânicos, jornalistas e representantes do setor da Defesa.
Além do Donbass, os combates também acontecem no sul da Ucrânia. O comando sul das tropas ucranianas relatou batalhas aéreas e ataques de helicópteros russos contra posições ucranianas em Mykolaiv e Kherson.
Em Mykolaiv, um importante porto no estuário do Dnieper, o avanço russo parou nos arredores da cidade e o exército ucraniano cavou trincheiras na região.
Os ucranianos temem que os russos organizem em breve um referendo na região de Kherson, perto da península da Crimeia, e em outras áreas ocupadas pelas forças russas, visando a anexação à Rússia.