Da AFP
Representantes do governo e de povos indígenas do Equador assinaram nesta quinta-feira (30), em Quito, com a mediação da Igreja Católica, um ato de compromisso que pôs fim a 18 dias de protestos contra o governo de Guillermo Lasso e o alto custo de vida, informaram jornalistas da AFP.
O acordo prevê uma redução de cinco centavos por galão no preço do diesel e da gasolina, além dos 10 centavos já cedidos pelo governo. Os índios exigiram um corte de 40 centavos.
O documento, que inclui "a fim das mobilizações e o retorno gradual (dos manifestantes) aos territórios", foi assinado pelo presidente da poderosa Confederação das Nacionalidades Indígenas (Conaie), Leônidas Iza, e pelo ministro do Governo (Casa Civil), Francisco Jiménez.
O pacto também prevê a revogação de um decreto para a entrega de novos campos petrolíferos e a reforma de outro para limitar a extração de minerais em territórios indígenas e zonas de proteção hídrica.
"De acordo com a ata que assinamos, vamos suspender essa medida de fato", declarou Iza, confirmando o fim dos protestos com bloqueios de estradas em nível nacional, as mais longas já protagonizadas pela Conaie.
Lasso, que assumiu o poder há 13 meses e se salvou de um processo de impeachment em meio à crise política, se manifestou no Twitter: "Alcançamos o valor supremo que todos aspiramos: paz em nosso país".
"Terminou a paralisação. Agora, começamos juntos a tarefa de transformar esta paz em progresso, bem-estar e oportunidades para todos", acrescentou.
Antes da reunião, o vice-presidente da Conferencia Episcopal Equatoriana (CEE), monsenhor Alfredo Espinoza, anunciou para representantes de ambas as partes que o Executivo estava disposto a ampliar de 10 para 15 centavos de dólar o desconto nos combustíveis.
A Conaie, que participou de revoltas que derrubaram três presidentes entre 1997 e 2005, disse no Twitter que em noventa dias avaliará o cumprimento dos acordos, que serão acompanhados por meio de uma "mesa de diálogo".
Nos arredores da CEE, milhares de indígenas com escudos feitos à mão se concentravam, aguardando instruções de suas lideranças.
Mortos e feridos no protesto do Equador
Os protestos, com bloqueios de estradas e manifestações que levaram a confrontos com a força pública, deixam seis mortos, mais de 600 feridos, entre agentes e manifestantes, e cerca de 150 detidos, segundo várias fontes.
"Os presentes expressam sua convicção sobre a importância do diálogo e do consenso (...) para a reconciliação nacional", disse o monsenhor Luis Cabrera, presidente da CEE.
O governo de Lasso suspendeu o diálogo na terça-feira, um dia após seu início, depois de acusar os manifestantes de um ataque a um comboio militar e policial, que deixou um policial morto e outros 12 feridos.
O Executivo decretou nesta quarta-feira estado de exceção em quatro das 24 províncias do país devido a "atos violentos" e o desabastecimento de alimentos, remédios, oxigênio para uso hospitalar e combustíveis.
O Equador estimou perdas de cerca de US$ 50 milhões por dia de manifestações, que também ameaçavam interromper a produção de petróleo.