INVASÃO DA UCRÂNIA

Putin afirma que ofensiva 'séria' da Rússia na Ucrânia ainda não começou

"Todos devem saber que ainda não começamos seriamente" a operação militar, disse Putin em uma reunião televisionada com legisladores

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Amanda Azevedo

Publicado em 07/07/2022 às 18:41 | Atualizado em 07/07/2022 às 18:55
Presidente russo, Vladimir Putin, quer se colocar como um mediador importante no Oriente Médio - MIKHAIL KLIMENTYEV / SPUTNIK / AFP

Da AFP

O presidente russo Vladimir Putin disse nesta quinta-feira (7) que a ofensiva militar da Rússia na Ucrânia ainda não começou "a sério" e desafiou as potências ocidentais que apoiam Kiev a tentar derrotar a Rússia "no campo de batalha".

Em um de seus discursos mais fortes desde o envio de tropas para a Ucrânia em 24 de fevereiro, Putin também se manifestou contra o "liberalismo totalitário" que, segundo ele, os países ocidentais querem impor ao mundo.

"Todos devem saber que ainda não começamos seriamente" a operação militar, disse Putin em uma reunião televisionada com legisladores.

"Ao mesmo tempo, não nos recusamos a realizar negociações de paz, mas aqueles que se recusam devem saber que será mais difícil para eles chegarem a um acordo conosco" mais tarde, acrescentou.

"Atualmente ouvimos que [os ocidentais] querem nos derrotar em um campo de batalha", disse ele, desafiadoramente.

"O que dizer a eles? Deixe-os tentar!", declarou, acusando "todo o Ocidente" de ter desencadeado uma "guerra" na Ucrânia.

Segundo Putin, a intervenção da Rússia na Ucrânia marca o início de uma virada para um "mundo multipolar".

"Esse processo não pode ser interrompido", disse ele.

O presidente insistiu que a maioria dos países não quer seguir o modelo ocidental de "liberalismo totalitário" ou políticas "hipócritas de padrões duplos".

"Na maioria dos países, as pessoas não querem essa vida ou esse futuro", enfatizou. As pessoas "estão cansadas de se ajoelhar, humilhando-se para aqueles que se consideram excepcionais", disse.

Bombas russas atingem leste da Ucrânia em meio à ofensiva no Donbass

As forças russas bombardearam várias cidades na bacia do Donbass nesta quinta-feira (7), incluindo a cidade de Kramatorsk, em um avanço para concluir a conquista do leste da Ucrânia.

Em Kramatorsk, capital da província de Donetsk (que junto com Luhansk formam o Donbass), uma explosão deixou uma grande cratera em um pátio localizado entre um hotel e edifícios residenciais, segundo jornalistas da AFP.

"Um bombardeio contra a parte central de Kramatorsk deixou vítimas", anunciou no Facebook o prefeito desta cidade, Oleksandr Goncharenko, pedindo à população que permaneça nos abrigos antiaéreos.

"O perigo ainda não acabou", afirmou.

As forças russas agora querem tomar Donetsk, ocupando, assim, toda bacia mineira do Donbass, já parcialmente nas mãos de separatistas pró-russos desde 2014.

O governador de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, disse que artilharia e foguetes mataram pelo menos sete civis em várias cidades da região na quarta-feira.

A cidade de Sloviansk é considerada o próximo alvo das tropas russas em seu plano de conquistar o Donbass, após quatro meses e meio de conflito.

"O inimigo pretende lançar ataques na direção de Sloviansk", bombardeando cidades vizinhas, disseram os militares ucranianos nesta quinta-feira.

Em contrapartida, as tropas de Kiev afirmaram que retomaram o controle da ilha das Serpentes. Na segunda-feira, a bandeira ucraniana voltou a ondular nesta posição estratégica no Mar Negro.

- Evacuações em Sloviansk -

Na terça-feira, mísseis russos atingiram e destruíram parte de um mercado no centro de Sloviansk, matando duas pessoas.

O prefeito da cidade, Vadim Liakh, informou na quarta-feira que a evacuação da cidade estava em andamento. "Nós tiramos as pessoas todos os dias", disse ele.

Perto de uma igreja protestante, civis embarcavam em vários veículos. "Enviei minha esposa e não tenho escolha, vou me alistar no exército amanhã", disse Vitaly, 30 anos. Sua esposa Svitlana seguiu para Dnipro (centro) em um ônibus com cerca de 150 mulheres e crianças.

Na quarta-feira ainda havia cerca de 23.000 pessoas na cidade, das 110.000 que viviam lá antes da guerra, disse Liakh, especificando que desde o início do conflito houve 17 mortos e 67 feridos.

"A cidade está bem fortificada", garantiu o prefeito.

"Temos porões, vamos nos esconder lá", disse Galyna Vasylivna, de 72 anos. "O que vamos fazer? Não temos para onde ir", lamentou a idosa.

Em Moscou, um promotor pediu nesta quinta-feira sete anos de prisão contra um político local da cidade, acusado de divulgar "informações falsas" sobre os militares no contexto da ofensiva.

No dia anterior, a Rússia adotou um texto que introduz penas de prisão severas para quem insistir em agir contra a segurança.

- "Momentos mais difíceis" -

Em nível diplomático, a renúncia do primeiro-ministro britânico Boris Johnson da liderança do Partido Conservador, o último passo antes de sua saída do poder, abalou o cenário internacional.

Johnson é um dos líderes ocidentais que mais ajudou a Ucrânia diante da invasão russa, e a Presidência ucraniana agradeceu por seu apoio nos "momentos mais difíceis".

Já o Kremlin expressou seu desejo de que "pessoas mais profissionais" cheguem ao poder no Reino Unido.

Esta renúncia ocorre às vésperas de uma reunião na Indonésia entre o G20 e potências industrializadas e emergentes, na qual participarão a Rússia e os aliados ocidentais da Ucrânia.

Essa reunião provavelmente verá "um confronto bastante difícil", disse uma fonte diplomática francesa.

A tensão também aumentou entre a Ucrânia e a Turquia depois que um navio russo de grãos partiu da costa turca.

A Ucrânia, que acusa Moscou de roubar suas colheitas de trigo, garante que o "Zhibek Zholy", que partiu quinta-feira passada do porto ucraniano de Berdyansk -sob controle russo-, transportava 7.000 toneladas de grãos obtidos ilegalmente.

Após ficar quase uma semana imobilizada na Turquia, a pedido das autoridades ucranianas, a embarcação seguiu para a Rússia nesta quinta-feira.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, mantém um relacionamento próximo, mas turbulento, com a Rússia, mas também fornece drones de combate à Ucrânia.

Segundo afirmou a NASA, com base em dados de satélite, a Rússia controla 22% das terras agrícolas da Ucrânia, o que afeta um dos principais provedores do mercado mundial de grãos.

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