Itália

Primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, apresenta renúncia, mas presidente rejeita

O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, que perdeu o apoio de parte de sua coalizão, pediu para renunciar ao cargo nesta quinta-feira (14)

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Amanda Azevedo

Publicado em 14/07/2022 às 16:33 | Atualizado em 14/07/2022 às 18:24
Parlamento italiano - ANDREAS SOLARO / AFP

Da AFP e Estadão Conteúdo

Em atualização

O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, que perdeu o apoio de parte de sua coalizão, pediu para renunciar ao cargo nesta quinta-feira (14). No entanto, o presidente do país, Sergio Mattarella, rejeitou o pedido, em meio a uma crise política que poderia levar a terceira economia da zona do euro a realizar eleições antecipadas.

"Não aceito a renúncia e convidou o primeiro-ministro a se apresentar, novamente, perante o Parlamento", declarou o presidente Mattarella, em um comunicado oficial, razão pela qual não se descarta que, na próxima semana, Draghi obtenha o apoio de uma nova maioria para continuar governando.

Mario Draghi anunciou sua demissão perante o Conselho de Ministros, depois de o Movimento 5 Estrelas (M5E) se abster de votar, nesta quinta, a moção de confiança sobre um decreto-lei fundamental, por considerá-lo contrário aos seus princípios.

- O protesto dos antissistema -

A rejeição dos antissistema se deve, sobretudo, ao fato de o decreto, que inclui medidas para ajudar famílias e empresas contra a inflação, também conter um projeto de construção de um incinerador de lixo para Roma. Este último conta com sua forte oposição, por considerá-lo caro, poluente, ineficiente e ultrapassado, em termos de tecnologia.

"A maioria para a unidade nacional que apoiou este governo desde sua criação deixou de existir. O pacto de confiança, em que se baseia a ação deste governo, desapareceu", explicou Draghi, ao anunciar sua renúncia.

Este prestigioso economista e ex-presidente do Banco Central Europeu foi convidado em fevereiro de 2021 pelo presidente Mattarella a liderar uma coalizão heterogênea que reunia quase todos os partidos representados no Parlamento, com o objetivo de enfrentar a grave crise econômica e social do país.

Por isso, reiterou - como já havia explicado em várias ocasiões - que sem o apoio dos antissistema dava seu mandato por encerrado, mesmo que tivesse votos suficientes no Parlamento, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, para continuar governando.

"Desde o meu discurso de posse no Parlamento, sempre disse que este Executivo se mantém no poder apenas se tiver o objetivo claro de implementar o programa de governo que as forças políticas aprovaram com o voto de confiança (...) Estas condições não existem mais hoje", assegurou Draghi, de novo, nesta quinta-feira (14).

Segundo alguns analistas ouvidos pela AFP, o chefe de Estado se negou a aceitar a demissão do primeiro-ministro em pleno verão europeu (inverno no Brasil), porque se opõe a antecipar as eleições legislativas, previstas para o início de 2023.

Vencedor das eleições de 2018 com 32% dos votos, o partido antissistema se encontra em plena decomposição. Muitos de seus parlamentares (cerca de 50) emigraram para outras siglas e, por isso, tenta voltar a atrair seu eleitorado, de olho na corrida eleitoral do ano que vem.

"Temos que responder ao crescente mal-estar social de forma clara e decisiva. Os irresponsáveis não somos nós, são os que não dão uma resposta ao país", garantiu Mariolina Castellone, representante dos senadores do M5E.

"Hoje não participamos da votação do decreto-lei, porque não compartilhamos de se suas disposições (...) nem do método por m,eio do qual foi adotado", acrescentou.

Uma queda do governo causaria muita incerteza, em um momento complicado, devido ao aumento da inflação e às reformas necessárias e ainda pendentes para o plano de recuperação financiado pela União Europeia, de cerca de 200 bilhões de euros.

A Bolsa de Milão reagiu aos acontecimentos políticos com uma queda de mais de 3% nesta quinta-feira, em meio ao nervosismo dos mercados.

É provável que Mario Draghi, que teve de enfrentar a campanha de vacinação contra a covid-19 e a crise gerada pela guerra russa contra a Ucrânia com todas suas consequências políticas e econômicas, vá ser convidado por Mattarella, árbitro da política na Itália, para formar um novo governo.

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