GUERRA

Ataque russo em cidade no centro da Ucrânia mata 23; Zelensky pede 'tribunal especial'

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, classificou a ação como "ato aberto de terrorismo"

Cadastrado por

JC

Publicado em 14/07/2022 às 22:03
Guerra entre Rússia e Ucrânia já dura mais de um ano - Sergei SUPINSKY / AFP

Da AFP

Ataques de mísseis russos deixaram 23 mortos, entre eles três crianças, em uma cidade da região central da Ucrânia, nesta quinta-feira (14), uma ação classificada como "ato aberto de terrorismo" pelo presidente Volodymyr Zelensky.

Estes ataques, em uma zona do país que até agora estava relativamente afastada dos combates, aconteceu no momento em que começava uma reunião em Haia sobre crimes cometidos na Ucrânia.

Durante um discurso remoto neste encontro, organizado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), a Comissão Europeia e a Holanda, Zelensky pediu a criação de um "tribunal especial" para julgar "os crimes de agressão da Rússia contra a Ucrânia".

Em Vinnytsia, imagens divulgadas por equipes de resgate mostraram carros carbonizados ao lado de um prédio de dez andares queimados e destruídos na explosão.

Na conferência de Haia, na qual participam ministros das Relações Exteriores e da Justiça, Zelensky afirmou que "neste minuto, 20 pessoas foram mortas, três delas crianças. E muitas, muitas ficaram feridas".

Mais tarde, o serviço de resgate elevou o balanço de vítimas para 23 mortos e informou que continuavam as buscas por outras 39 pessoas.

De acordo com os militares ucranianos, "três mísseis" atingiram o estacionamento ao lado desta propriedade comercial no centro da cidade, que abriga escritórios e pequenas lojas.

"A cada dia, a Rússia mata civis, mata crianças ucranianas, lança mísseis contra alvos civis onde não há nada militar. O que é isto senão um ato aberto de terrorismo?", denunciou no Telegram o presidente ucraniano.

O chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kouleba, presente na reunião, voltou a denunciar "um crime de guerra russo".

Em um comunicado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou os ataques russos em Vinnytsia e pediu que os responsáveis prestem contas.

Guterres está "aterrorizado com o ataque com mísseis de hoje contra a cidade de Vinnytsia [...] O secretário geral condena qualquer ataque contra civis e infraestruturas civis, e reitera seu apelo à prestação de contas por essas violações", escreveu na nota o porta-voz Stephane Dujarric.

A União Europeia (UE) seguiu a mesma linha de Guterres e tachou o ataque russo de "atrocidade".

"A União Europeia condena, nos mais duros termos, os ataques contínuos e indiscriminados contra alvos civis, incluídos hospitais, instalações médicas, escolas e refúgios", escreveu a organização em comunicado.

Por sua vez, a chefe da redação do grupo de mídia estatal Rossiya Segodnya, Margarita Simonian, afirmou no Telegram que o exército russo lhe informou que havia atacado "a casa dos oficiais, para onde os nacionalistas foram enviados".

Bombardeio 'maciço'

Nas últimas semanas, Moscou passou a concentrar sua estratégia no sul e leste do país.

No sul, a cidade de Mykolaiv, perto de Odessa (maior porto da Ucrânia), foi alvo de um grande bombardeio na manhã de quinta-feira.

"Duas escolas, infraestruturas de transporte e um hotel foram atingidos", afirmou a presidência em seu boletim diário.

No leste, na bacia mineira do Donbass, parcialmente sob controle de separatistas pró-Rússia desde 2014, as forças leais a Moscou afirmaram que estão perto de concretizar seu próximo objetivo.

"Siversk está sob nosso controle operacional, o que significa que o inimigo pode ser atingido por nosso fogo em toda a região", afirmou um dos líderes rebeldes pró-Rússia, Daniil Bezsonov, citado pela agência russa de notícias TASS.

Segundo Serhiy Haiday, governador da região de Luhansk - que, junto com Donetsk, forma o Donbass -, "os ataques maciços de artilharia e morteiros continuam [e] os russos estão tentando avançar em direção a Siversk e abrir o caminho para Bakhmut". Um civil foi morto em um bombardeio em Bakhmut na madrugada quinta-feira.

Até o momento, a AFP não pôde verificar esta informação.

'Vitória total'

Mais ao norte, na região de Izyum, uma zona de trincheiras sob controle ucraniano, um soldado apelidado Moryak corria para reforçar as defesas.

"Nos escondemos quando atiram, e cavamos quando está tranquilo", disse à AFP o militar de 25 anos.

Ao seu lado, outro combatente acredita que é impossível que Ucrânia e Rússia cheguem a um cessar-fogo. Qual é seu objetivo? "A vitória total", respondeu.

A Ucrânia vem recebendo armamento dos países ocidentais e a União Europeia manifestou recentemente sua preocupação de que estes sejam contrabandeados para fora do país.

Diante dos temores de Bruxelas, um assessor presidencial ucraniano pediu aos legisladores que estabeleçam um comitê que supervisione o armamento recebido.

As armas fornecidas pelo Ocidente serão "registradas e enviadas ao front de batalha", disse o chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andriy Yermak, no Telegram.

Apesar das várias rodadas de negociações para acabar com o conflito, Kiev e Moscou nunca tiveram sucesso. Mas ambas as delegações obtiveram alguns avanços sobre a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro.

Na quarta-feira, uma reunião sobre a questão delicada foi organizada em Istambul, que também contou com a presença de representantes da Turquia e da ONU. Um novo encontro está programado para a próxima semana.

A Ucrânia é um dos maiores exportadores de trigo e outros cereais. Quase 20 milhões de toneladas de grãos estão bloqueadas nos portos da região de Odessa pela presença de navios de guerra russos e de minas, instaladas por Kiev para defender sua costa.

A secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, afirmou nesta quinta que a guerra na Ucrânia é o "maior desafio" da economia mundial, em declarações feitas na véspera de uma reunião de ministros das Finanças do G20 na Indonésia.

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