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Irã nega "categoricamente" qualquer vínculo com o agressor de Salman Rushdie

Esta foi a primeira reação oficial de Teerã ao ataque contra o autor Salman Rushdie, ocorrida no anfiteatro de um centro cultural em Chautauqua, no estado de Nova York

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Ana Maria Miranda

Publicado em 15/08/2022 às 11:29
Escritor britânico Salman Rushdie é colocado em aeronave para socorro médico - Horatio Gates / AFP

Da AFP

Após dias de silêncio, o governo do Irã negou nesta segunda-feira (15) "categoricamente" qualquer vínculo com o agressor que esfaqueou na sexta-feira, nos Estados Unidos, o escritor britânico Salman Rushdie, autor do livro "Os Versos Satânicos", 33 anos depois da fatwa do aiatolá Ruhollah Khomeini que condenou o autor à morte.

"Negamos categoricamente qualquer relação entre o agressor e o Irã. E ninguém tem o direito de acusar a República Islâmica", afirmou Naser Kanani, porta-voz do ministério das Relações Exteriores.

Esta foi a primeira reação oficial de Teerã ao ataque contra o autor de 75 anos, ocorrida no anfiteatro de um centro cultural em Chautauqua, no estado de Nova York.

"Neste ataque, não consideramos ninguém além de Salman Rushdie e seus apoiadores dignos de culpa e até de condenação", disse Kanani durante sua entrevista coletiva semanal em Teerã.

"Ao insultar os temas sagrados do Islã e ultrapassar as linhas vermelhas de mais de 1,5 bilhão de muçulmanos e todos os seguidores das religiões divinas, Salman Rushdie se expôs à ira e à raiva das pessoas", acrescentou.

Hospitalizado com ferimentos graves após o ataque, o escritor britânico está melhorando, segundo a família. Ele não precisa mais da ajuda de aparelhos para respirar e iniciou a recuperação, informou seu agente literário Andrew Wylie.

Salman Rushdie, que nasceu em 1947 na Índia em uma família de intelectuais muçulmanos não praticantes, incendiou parte do mundo muçulmano com a publicação em 1988 de "Os Versos Satânicos", livro considerado uma blasfêmia pelos mais rigorosos, que consideraram que a obra insultava o Alcorão e o profeta Maomé.

O fundador da República Islâmica emitiu em 1989 uma fatwa que pedia a morte de Rushdie, que viveu durante anos com proteção policial.

A fatwa contra o escritor nunca foi retirada e vários tradutores de sua obra foram alvos de ataques, incluindo o esfaqueamento que matou seu tradutor japonês em 1991.

"A ira mostrada no momento (...) não se limitou ao Irã e à República Islâmica. Milhões de pessoas em países árabes, muçulmanos e não muçulmanas reagiram com revolta ao trabalho de Salman Rushdie", afirmou o porta-voz da diplomacia iraniana.

Kanani considerou "completamente contraditório condenar a ação do agressor e absolver a ação do que insulta os temas sagrados e islâmicos ao mesmo tempo".

O agressor, Hadi Matar, é um jovem americano de origem libanesa de 24 anos, que foi acusado de "tentativa de assassinato e agressão". Ele se declarou "inocente" das acusações.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse no domingo que a imprensa estatal iraniana estava "celebrando" o ataque ao intelectual.

"É desprezível", afirmou em um comunicado.

O jornal ultraconservador iraniano Kayhan elogiou Matar ao ressaltar "este homem corajoso e consciente do dever que atacou o apóstata e vicioso Salman Rushdie".

O Javan, outro jornal ultraconservador, escreveu no domingo que este é um complô dos Estados Unidos com a "provável" intenção de "propagar a islamofobia no mundo".

No Irã o tema é delicado. Várias pessoas entrevistadas pela AFP nos últimos dias em Teerã se recusaram a comentar sobre o ataque a Salman Rushdie, enquanto outros celebraram a agressão.

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