O Departamento de Justiça dos Estados Unidos publicou nesta sexta-feira (26) uma versão editada da declaração juramentada que convenceu um juiz a autorizar as buscas na residência do ex-presidente Donald Trump na Flórida.
O texto, que não contém revelações explosivas, devido à grande quantidade de passagens editadas, dá uma ideia de como Donald Trump manteve documentos potencialmente confidenciais em sua casa de Mar-a-Lago, na Flórida, e sobre a preocupação despertada nas autoridades por sua aparente imprudência.
Os investigadores estavam particularmente inquietos com a manutenção, em um cômodo não seguro, de documentos potencialmente ultrassecretos, que poderiam, inclusive colocar em risco agentes de inteligência americanos que atuam encobertos.
O mandado divulgado explica que as investigações começaram depois que o Arquivo Nacional (Nara, na sigla em inglês), responsável por registrar as atividades presidenciais, indicou em fevereiro ao Departamento de Justiça que recebera da equipe de Donald Trump 15 caixas com documentação que reunia "arquivos altamente confidenciais".
A investigação aberta na época pelo FBI confirmou que essas caixas continham 184 documentos classificados, entre eles 25 de alto sigilo, o que levou os investigadores a acreditarem que "outros documentos que incluíam informações altamente secretas de defesa nacional" ainda estavam em Mar-a-Lago.
Esses arquivos, bastante sensíveis, "não haviam sido manipulados adequadamente nem armazenados em um local adequado", detalha uma carta do Departamento de Justiça aos advogados de Donald Trump citada no documento difundido nesta sexta.
Em 8 de agosto, agentes do FBI realizaram uma diligência na residência de Mar-a-Lago e levaram cerca de 30 caixas que continham uma grande quantidade de documentos altamente classificados.
Durante a operação, os agentes fizeram buscas em 58 cômodos e 33 banheiros, segundo o mandado judicial, o que enfureceu os partidários do ex-presidente.
Diante da tempestade política gerada por esse episódio, o secretário de Justiça e procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, foi obrigado a organizar uma coletiva de imprensa incomum, na qual assegurou que havia "aprovado pessoalmente" a diligência do FBI.
Citando o grande interesse público despertado por essa operação sem precedentes na casa de um ex-presidente, o juiz federal Bruce Reinhart ordenou ao departamento que divulgasse o documento, mas aceitou os argumentos do Departamento de Justiça de que havia uma "necessidade urgente" de ocultar partes significativas do mesmo.
Após a publicação do mandado nesta sexta, Donald Trump voltou a denunciar, em sua rede Truth Social, que é alvo de uma "caça às bruxas", e indicou que os documentos judiciais não contêm "nada" relacionado a "nuclear", como haviam sugerido alguns meios de comunicação americanos. "Neste momento, estamos vivendo em um país sem lei, que resulta ser, também, uma nação fracassada!", afirmou o ex-presidente republicano.
"Deixemos que o Departamento de Justiça se encarregue disso", reagiu o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao ser questionado sobre seu antecessor. Ao partir para sua residência familiar em Delaware, Biden informou que carregava documentos confidenciais, mas ressaltou que contava em sua casa com "um espaço completamente seguro".
Trump entrou com uma ação na última segunda-feira instando um tribunal a nomear uma parte independente para revisar os arquivos levados durante a diligência do FBI e determinar quais poderiam conservar o carimbo de "confidencial", o que, potencialmente, poderia bloquear o acesso dos investigadores aos documentos.
A lista de elementos apreendidos pelo FBI, que já veio a público, inclui numerosos documentos classificados como "ultrassecretos". Toda a questão agora é saber do que tratam.
Os investigadores suspeitam que o republicano violou uma lei americana sobre espionagem que regula muito estritamente a posse de documentos confidenciais. Trump, por outro lado, garantiu que os documentos haviam sido desclassificados.
O ex-presidente também é alvo de investigações sobre sua tentativa de anular os resultados das eleições presidenciais de 2020 e por seu papel na invasão de seus apoiadores ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, e cogita voltar a disputar a presidência em 2024.