IRÃ: mais de 1,2 mil manifestantes detidos e dezenas de mortos em meio a protestos

As tensões entre Irã e os países ocidentais se acentuaram nesta segunda, com a Alemanha convocando o embaixador do Irã
Lucas Moraes
Publicado em 26/09/2022 às 19:22
IRÃ Dias de revolta popular após morte de jovem Foto: AFP


AFP

Mais de 1.200 manifestantes foram detidos no Irã - anunciaram autoridades locais nesta segunda-feira (26), no 10º dia de protestos noturnos contra a morte da jovem Mahsa Amini, quando ela estava sob custódia da polícia da moral.

De acordo com o balanço oficial, 41 pessoas morreram desde o início dos protestos, em sua maioria manifestantes, mas também integrantes das forças de segurança, desde o início das mobilizações para denunciar a morte da jovem de 22 anos.

Pelo menos 76 pessoas morreram na repressão das autoridades às manifestações que se estendem por mais de uma semana no Irã, em protesto pela morte da jovem Mahsa Amini - informou a ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega.

"Segundo as informações coletadas pela Iran Human Rights, pelo menos 76 pessoas morreram nas manifestações" em 14 províncias do país, disse a ONG em um comunicado, especificando que "seis mulheres e quatro crianças" estão entre os mortos.

A IHR disse ter conseguido "vídeos e certidões de óbito que confirmam disparos com balas reais contra os manifestantes".

Amini foi detida por supostamente violar as regras que exigem o uso de um véu para cobrir totalmente o cabelo e que proíbem o uso de calças rasgadas e roupas brilhantes.

As tensões entre Irã e os países ocidentais se acentuaram nesta segunda, com a Alemanha convocando o embaixador do Irã. Na véspera, a União Europeia havia denunciado a repressão das manifestações, e o Irã convocou os embaixadores de Reino Unido e Noruega.

O governo canadense anunciou, nesta segunda, uma série de sanções contra vários funcionários e entidades iranianos.

"Aplicaremos vários indivíduos e entidades, incluindo a chamada polícia da moral do Irã", disse o primeiro-ministro Justin Trudeau em uma entrevista coletiva, unindo-se àqueles que "exigem que o governo iraniano ouça seu povo, ponha fim à repressão das liberdades e dos direitos e permita que as mulheres e todos os iranianos vivam suas vidas e se expressem pacificamente".

 'Mulher, vida, liberdade'

No domingo, os protestos continuaram no país.

"Na verdade, durante o dia, nossa vida cotidiana não é afetada", disse Aaraam, uma advogada de 30 anos, em Teerã. "Mas feriram os sentimentos do povo. Como iraniana, fico com meu coração na mão ao ver como o povo do meu país está abalado e como defende suas reivindicações legítimas", completou.

Na capital Teerã, a multidão gritou frases contra o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, de 83 anos, incluindo "morte ao ditador", de acordo com imagens divulgadas pela ONG Iran Human Rights (IHR).

"Mulher, vida, liberdade", gritaram as manifestantes.

Algumas ativistas arrancaram os véus e jogaram em uma fogueira, enquanto outras cortaram o cabelo. Seu grito foi acompanhado em manifestações realizadas, no fim de semana, em cidades do mundo todo, como Londres, Paris, Nova York, Istambul e Atenas.

Nos maiores protestos registrados no Irã em quase três anos, as forças de segurança usaram balas letais e de borracha, de acordo com grupos de defesa dos direitos humanos, enquanto os manifestantes responderam com pedras, queimaram viaturas policiais e incendiaram edifícios públicos.

A IHR, com sede em Oslo, informou, nesta segunda, que pelo menos 76 pessoas morreram nos protestos, mas destacou que os cortes de Internet dificultam a confirmação do balanço dos protestos, que acontecem em várias cidades.

"Segundo as informações reunidas pela Iran Human Rights, pelo menos 76 pessoas morreram nas manifestações" em 14 províncias do país, afirmou a ONG, em um comunicado, acrescentando que "seis mulheres e quatro crianças" estão entre os mortos.

A IHR disse ter obtido "vídeos e atestados de óbito que confirmam disparos com balas reais contra os manifestantes".

Mais de 1.200 pessoas foram presas no norte do país, única zona do Irã sobre a qual as autoridades divulgaram um balanço. Cerca de 450 pessoas foram detidas em Mazandaran, e mais de 700, na província vizinha de Gilan, segundo veículos da imprensa oficial.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CJP) informou que 18 repórteres foram detidos desde o início dos protestos.

Ontem, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, lamentou a resposta iraniana aos protestos, que chamou de "desproporcional (...) injustificável e inaceitável".

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, elogiou, na semana passada, as "mulheres corajosas" do Irã durante um discurso na Assembleia Geral da ONU.

Complô estrangeiro

O Irã atribui o movimento de protesto a "complô" fomentados no exterior, señalando hacia su archienemigo, Estados Unidos, y sus aliados.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, criticou a "abordagem intervencionista americana nas questões do Irã (...) incluindo as ações provocadoras de apoio aos agitadores".

Em paralelo, autoridades iranianas voltaram a organizar manifestações em defesa do hijab e dos valores conservadores. No principal evento pró-governo celebrado no domingo na praça Enghelab (Revolução) de Teerã, os manifestantes expressaram apoio às leis sobre o véu.

"Mártires morreram para que este hijab estivesse em nossas cabeças", disse a manifestante Nafiseh, 28 anos, que se opõe ao uso voluntário do hijab.

Uma das mais altas autoridades religiosas do país, o grande aiatolá Hossein Nuri Hamedani, pediu às autoridades, por sua vez, que "ouçam" os manifestantes.

"As autoridades têm de ouvir as reivindicações do povo, resolver seus problemas e demonstrar sensibilidade em relação aos seus direitos", declarou Hamedani, um ferrenho defensor do guia supremo Ali Khamenei, em um comunicado publicado ontem em sua página on-line.

O principal movimento reformista do país, o Partido Popular União Islâmica do Irã, pediu o fim do código obrigatório de vestimenta.

O IHR informou no domingo que sindicatos iranianos convocaram professores e alunos a boicotarem as aulas nesta segunda e na quarta-feira em apoio aos protestos.

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