O democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump tiveram um frenético último dia de campanha, nesta segunda-feira (7), véspera das eleições de meio de mandato que marcarão o restante da gestão do presidente dos Estados Unidos e que podem abrir caminho para o retorno de seu antecessor à Casa Branca.
Os democratas disputam a maioria no Congresso em uma eleição que Biden descreveu como "definidora" para a democracia americana, embora questões atuais, como a inflação, tenham dominado a campanha.
Segundo pesquisas, os republicanos devem conquistar a maioria dos 435 assentos da Câmara dos Representantes nesta terça-feira (8), que será completamente renovada.
O Senado é mais incerto, mas as esperanças dos democratas de manter a Câmara Alta, que controlam graças ao voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris, estão por um fio.
As eleições para senadores na Pensilvânia, Nevada, Wisconsin, Geórgia, New Hampshire e Ohio estão equilibradas.
O Partido Republicano sonha com uma "onda vermelha", a cor dos conservadores.
Kevin McCarthy, possível futuro líder dos republicanos na Câmara dos Representantes, cogitou em entrevista à CNN a possibilidade de abrir investigações sobre a administração Joe Biden, desde a retirada caótica de tropas do Afeganistão à gestão da pandemia de covid-19. Um possível processo de impeachment do presidente democrata não é descartado pelos republicanos.
Se os democratas forem derrotados, o Congresso estará nas mãos da oposição quando Biden ainda tiver dois anos de governo pela frente.
A campanha expôs as enormes divisões na principal potência mundial em todas as áreas: social, racial, econômica ou política.
Enquanto os candidatos republicanos ameaçam não reconhecer os resultados se perderem, a aquisição do Twitter pelo bilionário Elon Musk alimenta preocupações sobre uma onda de desinformação.
Em um tuíte publicado nesta segunda-feira, Musk pediu aos americanos que votassem nos republicanos. "A divisão do poder freia os piores excessos de ambos os partidos, por isso recomendo votar em um Congresso republicano, já que a presidência é democrata", tuitou.
Enquanto isso, a Rússia coloca lenha na fogueira.
"Interferimos (nas eleições americanas) e continuaremos a fazê-lo. Com cautela, precisão, cirurgicamente, da nossa maneira", afirmou Yevgeny Prigozhin, um empresário próximo ao Kremlin.
Prigozhin é alvo de sanções dos EUA por seu suposto papel na interferência nas eleições presidenciais de 2016, que levaram Donald Trump ao poder.
Agora, suas ameaças surgem no momento em que o ex-presidente republicano alimenta o suspense sobre uma nova candidatura para as eleições de 2024.
Em um comício no fim de semana, Trump - que continua a fazer falsas alegações de que a eleição de 2020 foi roubada - acusou os democratas, a quem chamou de "radicais e insanos", de causar "o declínio e a queda dos Estados Unidos".
O bilionário estará em Ohio nesta segunda-feira, um emblemático estado industrial do Centro-Oeste americano que ele conseguiu seduzir: a classe média, majoritariamente branca, que vive no campo ou na periferia, e que acredita ter perdido protagonismo com a globalização.
Com seu índice de aprovação em torno de 42%, Biden evitou amplamente os estados mais disputados.
Com isso, os candidatos democratas recorreram ao charme de suas estrelas, como os ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton, para ganhar um último impulso antes da votação.
No sábado, Biden se encontrou com Obama na Pensilvânia, como parte de uma agenda agitada que nos últimos dias também o levou a Illinois, Flórida e Nova York. Nesta segunda-feira, o presidente fez um comício perto da capital, em Maryland.
Biden tem conquistas para divulgar, como a redução dos preços dos medicamentos prescritos, o aumento da fabricação de microchips e investimentos recordes em infraestrutura, o que levará anos para os americanos sentirem os efeitos.
Consciente disso, o presidente tuitou nesta segunda-feira: "Farei o que for preciso para baixar a inflação".
De acordo com as pesquisas, a maioria dos americanos está preocupada com a economia e acredita que o país está indo na direção errada, incentivando os candidatos republicanos a buscar vitórias em distritos que antes pareciam inacessíveis.
Os conservadores também esperam eleger parte dos 36 governadores e inúmeros cargos municipais que são disputados nessas eleições que costumam punir o partido no poder.
Os democratas concentraram seus argumentos finais no direito ao voto, na proteção do acesso ao aborto e no auxílio social. Já Biden também bate na tecla da ameaça representada pelo crescente apoio dos republicanos de Trump às teorias da conspiração.
Os republicanos reagem dizendo que votar nos democratas significa inflação descontrolada e aumento da criminalidade, na tentativa de transformar esta eleição em um referendo sobre o presidente.
O Departamento de Justiça indicou que enviará observadores a 24 estados para monitorar o processo e observar possíveis irregularidades, uma medida de rotina, mas que é acionada quando as tensões aumentam.
No total, cerca de US$ 17 bilhões terão sido gastos nessas eleições de meio de mandato, segundo o site Opensecrets, o que representa um recorde.
Mais de 42 milhões de americanos já votaram antecipadamente.