O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, propôs nesta quarta-feira (16) que a 30ª conferência do clima da ONU, programada para 2025, aconteça na Amazônia brasileira e anunciou a criação de um Ministério dos Povos Originários, ao chegar à COP27 no Egito.
Recebido com aplausos por centenas de pessoas em Sharm el-Sheikh, Lula prometeu uma "luta muito forte" contra o desmatamento da Amazônia, que avançou com grande força nos quatro anos de mandato de Jair Bolsonaro, e que conversará "muito" com os povos indígenas.
Vamos "acabar com o processo de degradação que nossas florestas tropicais estão vivendo", disse.
Lula afirmou que o futuro Ministério dos Povos Originários é uma medida de justiça, para que os indígenas "não sejam tratados como bandidos".
Faltando seis semanas para a tomada de posse em 1º de janeiro, Lula iniciou sua agenda diplomática no Egito com encontros com o enviado especial para o clima dos Estados Unidos, John Kerry, e com o negociador chinês, Xie Zhenhua, além de outras reuniões bilaterais.
"O Brasil está de volta", assegurou Lula, de 77 anos. "O Brasil não pode ficar isolado como esteve nos últimos quatro anos, com um governo que não fez nenhum esforço para conversar com o mundo", acrescentou.
Seu discurso aconteceu no pavilhão instalado na COP27 pelo consórcio Amazônia Legal, que reúne os nove estados da bacia amazônica.
A poucos metros de distância estava o pavilhão oficial do governo Bolsonaro, que também mantém uma agenda ativa de atos públicos.
Lula declarou que apresentará ao secretário-geral da ONU, António Guterres, a proposta para que a reunião climática de 2025 "aconteça no Brasil, na Amazônia".
Ele disse que há "dois estados aptos" para organizar o encontro, Amazonas e Pará.
Durante o evento, o governador do estado do Pará, Helder Barbalho, leu uma carta conjunta dos governadores da bacia amazônica, na qual pedem a Lula "maior celeridade na tramitação dos apoios internacionais".
O tema dos apoios internacionais é um dos pontos centrais da participação de Lula na COP27, depois que Noruega e Alemanha, os principais contribuintes do Fundo Amazônia, anunciaram a intenção de desbloquear os fundos congelados desde 2019, devido à política de Bolsonaro.
Convidado pelo presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sissi, Lula chegou na terça-feira (15) no balneário de Sharm el-Sheikh.
Os delegados presentes na COP estão em complicadas negociações sobre a possível criação de um fundo de perdas e danos causados pelas mudanças climáticas.
"Fiquei feliz em me encontrar ontem à noite [terça-feira] com o presidente eleito Lula e fiquei animado pela forma como ele falou, para enfrentar o problema de uma vez por todas, para preservar a Amazônia", afirmou Kerry nesta quarta.
"Trabalharemos de forma diligente para alcançar este objetivo ao lado de nossos aliados, Noruega, Alemanha e outros países que estão profundamente comprometidos com isso há muito tempo", acrescentou.
O desmatamento médio anual na Amazônia brasileira aumentou 75% na comparação com a década anterior durante o mandato de Jair Bolsonaro.
Após a vitória de Lula, Noruega e Alemanha anunciaram que estão dispostas a retomar a ajuda financeira para preservar a floresta amazônica no Brasil. O apoio foi interrompido em 2019, pouco depois da chegada de Bolsonaro ao poder.
A Noruega é o maior contribuinte do Fundo Amazônia e, segundo o Ministério do Meio Ambiente do país, há atualmente US$ 641 milhões disponíveis.
Antes de sua chegada, Lula enviou vários nomes de sua confiança para preparar o terreno, como as ex-ministras do Meio Ambiente Marina Silva (2003-2008) e Izabella Teixeira (2010-2016).
O Brasil concentra 60% da Amazônia, um dos principais "sumidouros" de CO2 do planeta, distribuída em nove países e essencial no combate às mudanças climáticas.
O desmatamento do lado brasileiro, segundo dados oficiais, atingiu o nível máximo em 15 anos no período 2020-2021, devido ao estímulo à mineração e às atividades agropecuárias pelo governo Bolsonaro.
A devastação representa quase metade das emissões de gases do efeito estufa do país, segundo a ONG Observatório do Clima.
Presente no discurso de Lula, a deputada federal eleita e líder indígena Sônia Guajajara fez um apelo ao presidente eleito para "pensar com a população as políticas sociais" do Brasil.
Ela pediu a Lula, em particular, que conclua em seus primeiros meses de governo a demarcação de cinco territórios indígenas.
Marina Silva defendeu com veemência a criação de uma nova Secretaria Nacional para coordenar a ação climática entre os vários ministérios e destacou a meta de reflorestamento de 12 milhões de hectares.
A conferência da ONU termina oficialmente na sexta-feira (18).