Milhares de fiéis madrugaram, nesta segunda-feira (2), para dar seu último adeus ao papa emérito, Bento XVI, na capela funerária instalada na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Bento XVI faleceu no sábado (31), aos 95 anos.
A longa fila chegava à imensa Praça de São Pedro e rodeava as famosas colunas de Bernini, guardadas por um importante dispositivo de segurança e também por centenas de jornalistas do mundo inteiro que foram cobrir o enterro do papa.
"Estou aqui desde as seis da manhã. Me pareceu normal vir homenagear o papa, depois de tudo o que ele fez pela Igreja", disse à AFP a freira italiana Anna Maria.
"Foi um grande papa, profundo e único", elogiou a italiana Francesca Gabrielli, que saiu da Toscana para se despedir de Joseph Ratzinger.
O corpo do primeiro pontífice alemão da era moderna foi transferido, na madrugada, da pequena capela privada do Mosteiro Mater Ecclesiae, onde residia desde sua renúncia em 2013, nos jardins do Vaticano, para a basílica no curso de uma cerimônia privada, informou a assessoria de imprensa do Vaticano.
Vários cardeais e membros da Cúria Romana velam o morto, enquanto o secretário particular por anos do papa emérito, o bispo Georg Gänswein, recebe as condolências das autoridades.
"Senhor, eu te amo" foram as últimas palavras pronunciadas em italiano pouco antes de ele falecer, no sábado, na presença de uma enfermeira, relatou o bispo Gänswein.
Os fiéis entram em silêncio pelo corredor central do maior templo católico do mundo, a maioria fotografando com seus celulares o corpo do papa emérito.
Alguns rezam, ou fazem o sinal da cruz, ao passar por seus restos mortais.
Um círio alto e muitas velas iluminam parte do recinto, enquanto o cheiro de incenso perfuma o ambiente.
Entre os primeiros a chegar para se despedir de Bento XVI, estavam a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e o presidente da República, Sergio Mattarella.
As autoridades de Roma estimam que cerca de 30.000 pessoas por dia visitarão a capela.
As portas da imensa basílica permanecerão abertas ao público das 9h locais (5h em Brasília) às 19h (15h em Brasília) desta segunda-feira. Na terça e na quarta-feira, a visita será das 3h às 15h (ambos, horário de Brasília). O acesso é gratuito e sem necessidade de agendamento prévio, especificou o Vaticano.
O papa Francisco prestou várias homenagens públicas ao "amado" Bento XVI, "fiel servidor do Evangelho e da Igreja", recordando sua "bondade", "nobreza", "testemunho de fé e de oração, sobretudo, nestes últimos anos de vida aposentada".
Nas imagens divulgadas pelo Vaticano no domingo, o falecido aparece deitado sobre um catafalco, vestido de branco com uma casula vermelha, cor do luto papal, com uma mitra branca debruada a ouro e um rosário entrelaçado nas mãos.
A pequena capela privada do mosteiro, onde o pontífice emérito residia desde sua renúncia em 2013, localizado em meio aos jardins do Vaticano, é um espaço particularmente sóbrio, com crucifixo, uma árvore de Natal e um presépio, contrastando com os imponentes salões e altares barrocos da Basílica de São Pedro onde agora se encontra exposto ao público.
Na quinta-feira (5), Francisco presidirá o funeral do papa emérito na imensa praça de São Pedro.
Funeral de um papa sem funções
O funeral de um papa emérito, ou seja, sem funções, não tem um protocolo específico, motivo pelo qual se decidiu seguir alguns dos passos a serem adotados no caso do falecimento de um pontífice em exercício. Esta é a primeira vez na história que um papa preside o funeral de seu predecessor.
Inédita e sóbria, a cerimônia começará às 5h30 (horário de Brasília), conforme anunciado pelo Vaticano.
Com este ato, termina a saga dos "dois papas", os dois vestidos de branco, que conviveram por quase uma década no menor Estado do mundo.
Em 2005, o corpo de João Paulo II, o último papa a morrer, foi exposto no Vaticano para receber a homenagem de inúmeros chefes de Estado e de Governo, além de fiéis que ficaram horas em longas filas.
Um milhão de pessoas compareceram ao funeral do carismático papa polonês. Embora a popularidade de Bento XVI nunca tenha alcançado a de João Paulo II, o pontífice alemão, que reinou de 2005 a 2013, foi chefe de Estado e, como tal, será homenageado por altas autoridades e fiéis.
Ao fim da cerimônia, o caixão do pontífice emérito será enterrado nas grutas vaticanas, debaixo de São Pedro, onde se encontram os túmulos dos papas, informou o Vaticano em um comunicado.
Após oito anos de pontificado marcados por múltiplas crises e escândalos, e tendo passado os últimos dez anos de sua vida rezando e estudando, Bento XVI foi acusado, no início de 2022, de ter acoberto quatro padres pedófilos quando era arcebispo na Alemanha. Uma mancha que maculou seu papado e que ele negou até o fim de sua vida.