A China, criticada por sua falta de transparência sobre a epidemia de covid-19, anunciou neste sábado (14) pelo menos 60 mil mortes relacionadas ao vírus desde que retirou as restrições de saúde no país há um mês.
Após três anos impondo algumas das restrições mais draconianas do mundo, a China suspendeu abruptamente a maior parte de suas disposições de saúde contra o coronavírus no início de dezembro, após protestos contra a gravidade dessas medidas em várias cidades do país.
Desde então, o número de pacientes aumentou consideravelmente. Os hospitais estão sobrecarregados com pacientes idosos e os crematórios registram um grande número de corpos. Apesar disso, as autoridades até agora relataram apenas um pequeno saldo de mortes.
Em dezembro, Pequim revisou sua metodologia de contagem de mortes por covid-19 e agora apenas pessoas que morreram diretamente de insuficiência respiratória relacionada ao coronavírus estão incluídas nas estatísticas.
Essa mudança controversa de metodologia significa que um grande número de falecimentos não é mais registrado como causado pela covid-19.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) criticou esta nova definição chinesa de morte por covid como "muito limitada".
O diretor-geral da organização internacional, Tedros Adhanom Ghebreyesus, solicitou neste sábado "um seleção cronológica mais detalhada dos dados por província”, em conversa telefônica com Ma Xiaowei, segundo um comunicado da entidade.
Em uma conversa telefônica com Ma Xiaowei, diretor da Comissão Nacional de Saúde da China, Tedros pediu que "este tipo de dado detalhado continue a ser compartilhado" com a OMS e com a sociedade.
No sábado, as autoridades de saúde divulgaram sua primeira avaliação da pandemia desde a suspensão das restrições sanitárias no mês passado.
"Um total de 59.938" mortes relacionadas com a covid-19 foram registradas "entre 8 de dezembro de 2022 e 12 de janeiro de 2023", disse Jiao Yahui, chefe do gabinete de administração médica da Comissão.
O número inclui 5.503 mortes causadas por insuficiência respiratória diretamente devido ao vírus e 54.435 mortes provocadas por doenças subjacentes combinadas com a covid, explicou Jiao. Este saldo, porém, que não inclui os óbitos registrados fora dos hospitais, está provavelmente subnotificado.
A OMS expressou várias dúvidas sobre os dados epidemiológicos de Pequim, solicitando informações mais rápidas, regulares e confiáveis sobre o número de hospitalizações, mortes e um sequenciamento mais completo do vírus em tempo real.
O governo chinês rejeitou as críticas e pediu à OMS que assuma uma postura "imparcial" em relação à covid-19.
Na quarta-feira, as autoridades de saúde chinesas disseram que "não era necessário" no momento focar no número exato de mortes relacionadas ao vírus.
"A principal tarefa durante a pandemia é tratar os pacientes", disse o epidemiologista Liang Wannian.
Liang Wannian também argumentou que não havia consenso internacional sobre como classificar uma morte relacionada à covid.
Se "não for possível chegar a um consenso, cada país classificará de acordo com sua própria situação", afirmou Liang.
A China poderia determinar os números de falecimentos examinando o excesso de mortalidade após o fato, sugeriu Wang Guiqiang, chefe do departamento de doenças infecciosas do Hospital nº 1 da Universidade de Pequim.
No momento da coletiva de imprensa da última quarta-feira, apenas 37 mortes relacionadas à covid haviam sido contabilizadas desde o mês passado na China, que tem uma população de 1,4 bilhão de habitantes.