AFP
Centenas de milhares de pessoas voltaram às ruas na França, nesta terça-feira (31), contra a reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron, que está determinado a aprová-la no Parlamento, apesar da crescente rejeição popular.
As duas medidas que cristalizam a insatisfação social são o progressivo adiamento, até 2030, da idade da aposentadoria, que passaria de 62 para 64 anos, além de antecipar para 2027 a obrigatoriedade de contribuição por 43 anos – e não 42, como agora – para receber o valor integral.
"Não quero trabalhar mais tempo. Tenho um trabalho duro e estarei destruída aos 62 anos. Não é física, nem moralmente, viável", disse à AFP Sylvie Dieppois, uma ajudante de cozinha que protestou em Rouen (noroeste).
A incógnita neste novo dia de protestos é se os sindicatos conseguirão mobilizar uma multidão maior do que em 19 de janeiro, quando 1,12 milhão de pessoas se manifestaram, segundo as autoridades, e o dobro, para os sindicatos.
Tem "mais gente" nas ruas, garantiu Laurent Berger, líder do principal sindicato, CFDT, no início da marcha em Paris. A central CGT anunciou meio milhão de manifestantes na capital. Há 12 dias, estimou, foram 400.000 (ou 80.000, de acordo com o governo).
A polícia projeta 1,2 milhão de manifestantes no máximo, no país. À espera da estimativa de Paris, os primeiros números oficiais indicam uma participação ligeiramente tendendo para alta: 40.000 em Marselha; 28.000 em Nantes; 23.000 em Rennes, entre outros.
Em contrapartida, os funcionários públicos em greve foram em menor número na educação – um em cada quatro professores, de acordo com o governo; o dobro, segundo os sindicatos –, assim como na ferroviária SNCF (36,5%), segundo uma fonte sindical.
A ponta de lança veio, desta vez, do setor de energia. As centrais nucleares registraram uma queda de produção de cerca de 3.000 MWh, informou a empresa EDF. De acordo com a CGT, entre 75% e 100% do pessoal das refinarias e dos depósitos da TotalEnergies aderiram à paralisação.
A marcha em Paris registrou alguns momentos de confronto com as forças de segurança, e 18 pessoas foram detidas, segundo a administração de polícia. As autoridades mobilizaram 11.000 agentes no país, sendo 4.000 na capital.
Os manifestantes querem que o governo desista de endurecer as condições de acesso à aposentadoria integral, mas a primeira-ministra Élisabeth Borne já avisou que o adiamento para 64 anos "não é mais negociável".
A oposição de esquerda convocou uma "moção de censura popular" nas ruas.
"Estamos vivendo um dia histórico. O sr. Macron certamente perderá", disse o líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que pediu um "referendo" sobre o projeto.
Com a já anunciada rejeição por parte da frente de esquerda Nupes e da extrema direita, o governo espera obter no Parlamento o apoio crucial do partido de direita Os Republicanos (LR). A sigla é favorável a uma reforma, mas se divide sobre se deve apoiar a atual.
Atualmente em torno de 70%, segundo as pesquisas, a rejeição popular aumenta a pressão. Além disso, conforme um levantamento da Odoxa, dois em cada três franceses têm uma opinião negativa sobre o presidente e sobre sua primeira-ministra.
Desde que chegou ao poder em 2017, Macron defendeu sua vontade de "sacudir" o sistema com suas reformas liberais, como a da Previdência, fundamental em sua agenda. A idade de aposentadoria na França é uma das mais baixas da Europa.
Depois que a pandemia da covid-19 obrigou Macron a recuar em sua primeira tentativa, o governo optou por um polêmico procedimento parlamentar que lhe permite aplicar o plano atual, se as duas câmaras do Parlamento não se pronunciarem sobre o tema até o fim de março.
Os prazos são apertados. A Assembleia Nacional (Câmara baixa) começou esta semana a examinar, em comissão, as 7.000 emendas apresentadas ao texto, antes de passar para o plenário na segunda-feira e, depois, para o Senado.