Peregrinação de paz do papa enfrenta obstáculos no Sudão do Sul

Muitos esperam que Francisco possa reviver o processo de paz abandonado
Lucas Moraes
Publicado em 02/02/2023 às 15:08
Papa Francisco celebrou uma missa multitudinária em visita a República Democrática do Congo Foto: Simone Risoluti / VATICAN MEDIA / AFP


AFP

O papa Francisco inicia uma tão esperada "peregrinação pela paz" no Sudão do Sul devastado pela guerra na sexta-feira (3), mas resta saber se seu apelo à reconciliação será ouvido pelas autoridades.

É a primeira visita de um papa desde que o país de maioria cristã conquistou a independência em 2011, após uma luta de décadas com o Sudão, de maioria muçulmana.

Mas a independência não trouxe paz ao país mais jovem do mundo, imerso na violência.

O papa se encontrará com o presidente Salva Kiir e seu vice-presidente e rival Riek Machar, a quem implorou que deponham as armas após a guerra civil que deixou 380.000 mortos no Sudão do Sul e o país em ruínas.

O papa causou impacto em 2019 no Vaticano quando se ajoelhou diante de Kiir e Machar e beijou os pés dos dois rivais.

"Seu povo aspira a um futuro melhor, que só virá com a reconciliação e a paz", disse Francisco aos líderes, surpresos com o gesto.

Mas quatro anos depois, a violência continua, alimentada pelas elites políticas.

"As pessoas ainda estão morrendo em todo o país", disse à AFP Ferenc David Marko, pesquisador do International Crisis Group.

"As coisas estão piores do que no auge do conflito", acrescentou.

Ponto de virada

Muitos esperam que Francisco possa reviver o processo de paz abandonado, paralisado desde aquele momento extraordinário em Roma.

"Quero acreditar que esta visita será um ponto de virada", disse o padre James Oyet Latansio, secretário-geral do Conselho de Igrejas do Sudão do Sul.

O papa "tem uma capacidade única, creio eu, de engajar a liderança do país e o que é necessário para que o país alcance uma paz duradoura", disse em janeiro Nicholas Haysom, enviado especial da ONU ao Sudão do Sul.

Francisco será acompanhado na visita pelo arcebispo de Canterbury, Justin Welby, e pelo moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, Iain Greenshields.

As autoridades da Igreja têm "enorme credibilidade e autoridade moral" no Sudão do Sul, disse John Ashworth, um missionário aposentado com 40 anos de experiência no Sudão e no Sudão do Sul.

Nos piores momentos das guerras de libertação, a igreja negociou a paz e deu abrigo e assistência a civis de todos os lados na ausência de apoio governamental ou internacional.

Apesar disso, os líderes da igreja foram excluídos das negociações de paz, o que reduziu sua influência política. "A igreja ainda é uma voz respeitada, mas não tão respeitada quanto costumava ser", disse Ashworth.

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