O Exército de Israel lançou ontem a maior ofensiva militar contra a Cisjordânia em duas décadas, matando oito pessoas no território palestino. A operação combinou mais de mil soldados, blindados e ataques de drones contra o campo de refugiados na cidade de Jenin, a terceira maior da Palestina, com 17 mil habitantes.
A última vez que Israel realizou ataques tão extensos na Cisjordânia foi durante a segunda intifada, no início dos anos 2000. O governo israelense afirmou que os mortos na operação de ontem eram terroristas palestinos.
Houve intensa troca de tiros entre forças israelenses e militantes armados. Primeiro, durante a madrugada, ataques aéreos de Israel atingiram infraestruturas de Jenin. Segundo o Exército, os locais estavam sendo usados por militantes palestinos para ataques contra soldados israelenses.
Em seguida, forças terrestres avançaram sobre a área. O Exército de Israel alegou que a operação pretendia capturar armas e militantes palestinos, considerados terroristas.
Operações na Cisjordânia, governada pela Autoridade Palestina, são raras. A Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, é um palco mais frequente de tensão.
Nos últimos meses, no entanto, o número de atentados de militantes palestinos saídos do território contra colonos israelenses tem aumentado. Desde janeiro, 23 israelenses morreram na Cisjordânia.
As retaliações israelenses provocaram a morte de 140 palestinos - metade deles seriam membros de grupos radicais, segundo Israel.
Por muito tempo um símbolo da militância palestina e um refúgio para grupos armados que se opõem à ocupação israelense da Cisjordânia, Jenin é um reduto da Jihad Islâmica, apoiada pelo Irã.
Oficiais militares israelenses dizem que mais de 50 ataques a tiros foram realizados na área de Jenin contra alvos israelenses nos últimos seis meses.
"O campo virou uma zona de guerra no sentido pleno da palavra", afirmou Mohamed Sbaghi, membro do comitê que ajuda a administrar o campo de Jenin. Segundo ele, os moradores temiam uma incursão em larga escala, mas não esperavam algo tão forte. Três mil famílias foram retiradas do local.
Os EUA afirmaram que Israel tinha o direito de "defender sua população", mas pediu que os civis sejam protegidos.
Um porta-voz do Exército israelense, o coronel Richard Hecht, afirmou que o objetivo da operação era "quebrar a mentalidade de segurança" do campo de refugiados. Pelo menos 19 pessoas suspeitas de ataques contra israelenses encontraram abrigo no local nos últimos meses, segundo os militares.
O Ministério da Saúde palestino afirmou que 8 palestinos foram mortos e 50 ficaram feridos. Autoridades israelenses garantiram que estiveram o tempo todo em contato com representantes da Autoridade Palestina e da Jordânia.
Os conflitos entre israelenses e palestinos na Cisjordânia voltaram a escalar no ano passado, no momento em que Israel passou a ter o governo mais à direita de sua história. As operações se tornaram cada vez mais frequentes, com a justificativa de punir os responsáveis por planejar e realizar ataques contra israelenses.
A violência aumentou à medida que o governo israelense avançou sobre a Cisjordânia ocupada, com número recorde de novas unidades habitacionais de colonos aprovadas. A expansão nos assentamentos é um dos entraves à resolução do conflito e é vista por parte da comunidade estrangeira como uma violação do direito internacional.
No norte da Cisjordânia, nominalmente sob o governo da Autoridade Palestina, grupos armados palestinos começaram a crescer durante esse período, com a adesão de jovens que não reconhecem o presidente palestino Mahmoud Abbas, e os ataques contra israelenses aumentaram.
A resposta do premiê, Binyamin Netanyahu, foi ordenar operações militares mais agressivas. Israel argumenta que as ações são necessárias para evitar ataques terroristas, enquanto os palestinos dizem que uma ocupação aberta e intensificada torna a violência inevitável.