Rússia alerta para 'riscos' no Mar Negro após fim de acordo de grãos

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que o fim do acordo significava "a retirada das garantias de segurança da navegação"
AFP
Publicado em 18/07/2023 às 20:23
Peskov também acusou a Ucrânia de usar o corredor marítimo aberto no Mar Negro sob o acordo de grãos com "fins militares" Foto: MINISTÉRIO DA DEFESA DA RÚSSIA/AFP


A Rússia alertou a Ucrânia, nesta terça-feira (18), contra sua ideia de continuar exportando grãos pelo Mar Negro e afirmou que não há mais "garantias de segurança" após o fim do acordo de um ano que permitia o transporte de cereais por esta rota.

"Na ausência de garantias de segurança adequadas, há alguns riscos", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Ele enfatizou que, se "algo for preparado sem a Rússia, esses riscos devem ser levados em consideração".

O porta-voz respondeu assim a uma pergunta sobre a vontade declarada da Ucrânia de continuar exportando seus grãos através do Mar Negro, com ou sem o acordo de Moscou sobre a segurança dos navios.

Ao enfatizar a posição do Kremlin, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse a seu colega turco, Hakan Fidan, que o fim do acordo significava "a retirada das garantias de segurança da navegação", o que torna novamente o noroeste do Mar Negro, por onde circulavam os cargueiros, "uma área provisoriamente perigosa".

ACORDO DE GRÃOS

Na segunda-feira, a Rússia indicou sua rejeição ao prolongamento do acordo de exportação de grãos ucranianos, assinado em julho de 2022 com mediação de ONU e Turquia, e prorrogado várias vezes posteriormente.

A título de argumento, Moscou denunciou que sua exigência de retirada dos obstáculos à exportação de produtos agrícolas e fertilizantes russos não estava sendo atendida.

Nesta terça-feira, Peskov também acusou a Ucrânia de usar o corredor marítimo aberto no Mar Negro sob o acordo de grãos com "fins militares", um dia depois de Kiev ter atacado a ponte estratégica que liga o território russo à península anexada da Crimeia.

RETALIAÇÃO RUSSA

Em retaliação, o Ministério da Defesa russo disse, nesta terça-feira, que destruiu com mísseis "as instalações onde foram preparados atos terroristas contra a Rússia", assim como o local de fabricação dos drones navais usados no ataque à ponte.

Antes do amanhecer, seis mísseis Kalibr e 21 drones explosivos Shahed-136 de fabricação iraniana lançados pela Rússia contra Odessa (sul) foram "destruídos" pela defesa antiaérea ucraniana, afirmou o governador da província, Oleh Kiper, no Telegram.

"Infelizmente, os destroços dos mísseis derrubados e a onda expansiva da derrubada danificaram a infraestrutura portuária e várias residências particulares", disse ele, sem especificar a extensão dos danos.

UCRÂNIA 

Segundo a Força Aérea ucraniana, 31 drones foram derrubados em todo o país, dos 36 que a Rússia lançou durante a noite.

O oblast (província) de Odessa, às margens do Mar Negro, abriga os principais terminais marítimos para o acordo de exportação de grãos ucranianos entre Kiev e Moscou, que expirou às 18h00 de segunda-feira, no horário de Brasília.

Esse pacto permitiu a exportação de mais de 32 toneladas de grãos ucranianos no ano passado, principalmente milho e trigo. Isso ajudou a estabilizar os preços mundiais dos alimentos e a prevenir o risco de desabastecimento.

Ontem, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse que, "mesmo sem a Rússia, é preciso fazer o possível para que possamos utilizar esse corredor [para as exportações] no Mar Negro". "Não temos medo", frisou.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu que milhões de pessoas terão que "pagar o preço" da decisão da Rússia, que, segundo ele, "afetará as pessoas mais pobres em todo o mundo".

Nesse mesmo sentido, a União Africana (UA) "lamentou" hoje a decisão russa e lembrou que a organização regional "apoiou" o acordo "desde o início".

Na frente de batalha, o Exército russo anunciou, nesta terça-feira, que avançou 1,5 quilômetro durante "operações ofensivas" perto de Kupiansk, no nordeste da Ucrânia, área onde Kiev constatou uma concentração de tropas russas.

O comandante das forças terrestres ucranianas, Oleksandr Sirski, afirmou nesta terça que a situação é "difícil", mas está "sob controle" no leste da Ucrânia.

Por sua vez, o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior conjunto dos Estados Unidos, garantiu hoje que as forças de Kiev estão se deparando com posições russas reforçadas com minas e trincheiras, mas que "estão abrindo passagem de forma lenta, deliberada e constante através de todos estes campos minados, e é uma luta difícil".

Por outro lado, na ponte da Crimeia, "a circulação de veículos foi restabelecida no sentido contrário" em uma de suas faixas, informou o vice-primeiro-ministro russo, Marat Khusnullin.

Na segunda-feira, uma fonte do serviço de segurança ucraniano (SBU) disse à AFP que o ataque à ponte, que matou dois civis, foi obra da Marinha e do serviço secreto ucraniano, com ajuda de drones navais.

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