A reunião de cúpula dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) começou nesta terça-feira (22) em Johannesburgo, centrada na abertura do bloco de países emergentes a novos membros, assim como em maneiras de ampliar sua influência política e econômica globalmente.
"O BRICS não pode ser um clube fechado. O G7 (das maiores potências ocidentais) é um clube fechado. Mesmo quando o Brasil chegou à sexta economia do mundo, a gente era convidado, não participante. O G7 é o clube dos ricos. Não queremos isso. Queremos criar uma instituição multilateral e que a gente possa propor algo diferente", disse o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em seu programa "Conversa com o Presidente" nas redes sociais.
Lula também defendeu a adesão da Argentina ao bloco fundado em 2009, ao qual a África do Sul se juntou um ano depois.
Ao menos 40 países manifestaram o desejo de aderir ao BRICS, entre eles Argentina, Irã, Bangladesh e Arábia Saudita. Vinte e três deles já se candidataram formalmente à adesão.
A multiplicação de candidaturas "nos mostra que a família dos BRICS está ganhando importância, estatura e influência no mundo", afirmou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, no final do primeiro dia de cúpula.
Ramaphosa recebeu Lula e o presidente chinês, Xi Jinping, além do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
O ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, representa seu país no encontro que termina na quinta-feira (24).
O presidente russo, Vladimir Putin, que é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) devido à guerra na Ucrânia, participa do encontro por videoconferência.
Antes do início da cúpula, Xi destacou na capital Pretória "o novo ponto de partida histórico" nas relações entre China e África do Sul.
CÚPULA DO BRICS
A 15ª reunião de cúpula dos BRICS acontece em um momento de divisão no cenário internacional, que aumentou com a invasão russa da Ucrânia.
África do Sul, China e Índia se recusaram a condenar a ofensiva da Rússia. O Brasil se negou a enviar armas à Ucrânia ou a impor sanções a Moscou.
Ramaphosa insistiu no domingo em sua política de não alinhamento e afirmou que a África do Sul "não se deixará arrastar a uma competição entre as potências mundiais".
Em um parque vazio perto do centro de conferências que recebe a reunião de cúpula, alguns manifestantes exibiam bandeiras ucranianas e faixas com a frase "Lavrov, volte para casa".
"Estamos aqui para enviar uma mensagem aos BRICS e aos convidados da cúpula para exigir a retirada das forças militares russas da Ucrânia", declarou à AFP Lesya Karpenko, 41 anos, integrante de uma associação ucraniana na África do Sul.
REPRESENTAÇÃO DO BRICS
O bloco representa atualmente 23% do PIB mundial, 42% da população e mais de 16% do comércio global.
Apesar da disparidade entre seus membros, os BRICS concordam na reivindicação de um equilíbrio político e econômico mundial mais inclusivo, em particular diante dos Estados Unidos e da União Europeia.
Ao menos 40 países expressaram o desejo de entrar para o bloco, incluindo Argentina, Irã, Bangladesh e Arábia Saudita, e 23 nações já apresentaram formalmente o pedido de adesão.
Mas os cinco membros atuais, distantes geograficamente e com economias de crescimento díspar, têm "opiniões divergentes sobre os países que deveriam entrar para o bloco e as condições de acesso", afirmou Jannie Rossouw, da Universidade Witwatersrand en Johannesburgo, à AFP.
A África do Sul trabalhou nos últimos meses em uma lista de "diretrizes" para a entrada de novos membros, afirmou no domingo a ministra das Relações Exteriores, Naledi Pandor.
O tema da expansão divide, em particular, Índia e China, as duas economias mais fortes do bloco. Pequim deseja ampliar sua influência, enquanto Nova Délhi desconfia das intenções do rival regional.
"A longo prazo, a rivalidade entre China e Índia provavelmente é o maior desafio enfrentado pelos BRICS", opina Rossouw.
Além disso, o processo de tomada de decisões dentro do bloco, que exige consenso, representa um "obstáculo importante" para uma possível ampliação, destaca Jakkie Cilliers, do Instituto de Estudos de Segurança de Pretória.
Durante a reunião de cúpula, 50 líderes participarão em um programa chamado "Amigos dos BRICS", uma demonstração do interesse provocado pelo bloco. O governo sul-africano também anunciou a presença do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.