RÚSSIA

Kremlin nega envolvimento em morte de Prigozhin e enquadra paramilitares

Os mercenários do Wagner tiveram uma participação ativa na intervenção na Ucrânia, mas seu líder foi qualificado de "traidor" por Putin

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AFP

Publicado em 25/08/2023 às 14:52
Presidente da Rússia, Vladimir Putin
Presidente da Rússia, Vladimir Putin - Mikhail KLIMENTYEV / POOL / AFP

O Kremlin desmentiu, nesta sexta-feira (25), ter ordenado o assassinato do chefe da milícia Wagner, Yevgueni Prigozhin, que havia se rebelado em junho contra o Exército regular, e reforçou o controle sobre as organizações paramilitares.

"É uma mentira absoluta, tem que abordar esta problemática baseando-se nos fatos", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ao ser perguntado sobre insinuações de dirigentes ocidentais de que a presidência russa estava por trás da morte de Prigozhin, supostamente morto na quarta-feira por causa da queda de um avião.

ATUAÇÃO DO GRUPO WAGNER

Os mercenários do Wagner tiveram uma participação ativa na intervenção na Ucrânia, mas seu líder foi qualificado de "traidor" por Putin quando protagonizou uma curta rebelião no final de junho contra o Estado-Maior russo e junto de seus homens iniciou uma marcha em direção a Moscou.

"Há muita especulação em torno do acidente de avião e a trágica morte dos passageiros, incluindo Yevgueni Prigozhin, e já sabemos em que sentido é especulado no Ocidente", acrescentou Peskov.

Opositores ao governo russo e ex-partidários que caíram em desgraça foram assassinados ou sofreram tentativas de assassinato, embora o Kremlin tenha sempre negado seu envolvimento em todos esses casos.

Segundo Peskov, a investigação sobre as causas da queda do avião prossegue.

INVESTIGAÇÃO DO GOVERNO RUSSO

Putin prometeu na quinta-feira uma investigação "a fundo" do caso, destacou a "contribuição de Prigozhin na ofensiva na Ucrânia e definiu o líder miliciano, a quem conhecia desde os anos 90, como alguém "que cometeu graves erros em sua vida, mas que obtinha os resultados que se propunha".

Putin, que parece decidido a evitar novos contratempos com o Wagner e outras milícias que combatem na Ucrânia, África e Oriente Médio, assinou um decreto que obriga os seus membros a prestar juramento, como fazem os soldados do exército regular.

Os milicianos estarão obrigados a jurar "fidelidade" e "lealdade" à Rússia, "cumprir estritamente as ordens dos comandantes e superiores", e "respeitar sagradamente a Constituição russa".

Prigozhin renunciou ao seu motim após um acordo que estabelecia seu exílio ao lado de seus homens em Belarus e a retirada das acusações contra ele.

FUTURO DA MILÍCIA

Após sua suposta morte, aumentaram as dúvidas sobre o futuro da milícia e de seus membros, que em seus cenários de intervenção são acusados de todo tipo de abusos, incluindo torturas e execuções extrajudiciais.

Na quinta-feira, o Kremlin disse ignorar o que acontecerá com a organização. "Sobre (seu) futuro, não posso dizer nada no momento, eu não sei", declarou Peskov.

Mas o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, parece ter isso mais claro.

"Wagner viveu, vive e viverá em Belarus", afirmou Lukashenko, citado pela agência estatal Belta. "O núcleo [do Wagner] permanece aqui (...) Dentro de alguns dias, todo mundo estará aqui, até 10.000 pessoas", acrescentou.

Após o golpe fracassado, Prigozhin seguiu indo à Rússia e foi recebido pelo menos uma vez no Kremlin em junho. No mês seguinte, participou da grande cúpula Rússia-África, continente onde o Wagner é especialmente ativo.

Na quinta-feira, Peskov negou qualquer encontro recente entre Putin e Prigozhin.

A agência russa para o transporte aéreo Rossaviatsia confirmou que Prigozhin se encontrava a bordo do jato privado Embraer Legacy, de fabricação brasileira, que voava entre Moscou e São Petersburgo.

Exames genéticos estão sendo feitos para identificar os corpos de sete passageiros e de três tripulantes.

Entre as supostas vítimas estaria o braço-direito de Prigozhin, Dmitri Utkin, ex-oficial de uma unidade especial de inteligência militar e comandante operacional do Wagner.

Na quinta-feira, moradores de São Petersburgo, cidade base do grupo, deixaram flores em um memorial improvisado.

"Para nós, [Prigozhin] era um amigo, um irmão. Acredito que para todos os soldados é um momento muito importante", afirmou Natalia, uma jovem de 31 anos.

QUEDA DE AVIÃO

O avião privado em que Prigozhin viajava caiu na quarta-feira ao norte de Moscou, exatos dois meses depois do golpe abortado do miliciano.

Os pesquisadores não evocaram a teoria do acidente nem a de uma bomba ou de um míssil, nem a de um erro de pilotagem.

Nos Estados Unidos, França, Alemanha e Ucrânia, vários responsáveis deixaram transparecer suspeitas de que o Kremlin poderia ser o responsável pelo acidente.

Na quinta-feira, Lukashenko disse que não podia "imaginar" que seu aliado Putin ordenaria a morte de Prigozhin.

"Conheço o Putin. É um homem sensato, muito tranquilo", declarou.

Nos Estados Unidos, o Pentágono assegurou não dispor "de nenhuma informação que deixe pensar que um míssil terra-ar" causou a queda da aeronave, uma hipótese mencionada no Telegram por grupos próximos ao Wagner.

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