ISRAEL

Netanyahu luta pela sobrevivência política ao som da guerra

Segundo analistas, as falhas de segurança expostas pelos combatentes do Hamas podem virar um golpe fatal para Netanyahu

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AFP

Publicado em 06/11/2023 às 9:01
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante conferência de imprensa na base militar de Kirya, em Tel Aviv - Abir SULTAN / POOL / AFP

Os israelenses, profundamente divididos desde que Benjamin Netanyahu retornou ao poder no ano passado, se uniram na guerra contra o Hamas, mas os analistas afirmam que o chefe de Governo terá que lutar por sua sobrevivência política ao final do conflito.

Após o choque em Israel pelo ataque violento do Hamas em 7 de outubro, o país expressou grande apoio à operação militar ordenada pelo primeiro-ministro, de 74 anos, para "aniquilar" o movimento palestino.

Porém, segundo analistas, as falhas de segurança expostas pelos combatentes do Hamas podem virar um golpe fatal para Netanyahu, que já enfrenta problemas jurídicos e políticos.

"O apoio a Netanyahu e sua coalizão estava acabando mesmo antes de 7 de outubro e, desde o início da guerra, caiu ainda mais", disse Toby Greene, professor de Política na Universidade Bar-Ilan de Israel e pesquisador da London School of Economics. "Se uma eleição fosse celebrada agora, ele perderia feio", acrescentou.

Netanyahu, chamado de "Rei Bibi" e "Senhor Segurança" por seus partidário e "ministro do crime" pelos críticos, domina a política israelense há muitos anos.

As pesquisas mais recentes apontam uma queda no apoio ao primeiro-ministro e a seu partido de direita, o Likud.

Muitos estão ressentidos com a falta de proteção, em particular os israelenses que moram perto da fronteira com Gaza e que foram os mais afetados pelos ataques que, segundo as autoridades israelenses, mataram 1.400 pessoas, a maioria civis.

Nos governos de Netanyahu, ex-oficial de uma unidade de comando que sempre se declarou um defensor resoluto dos judeus, a sensação de segurança de muitos israelenses foi abalada.

"Cada decisão"

Agências militares e de inteligência admitiram falhas de segurança, mas Netanyahu não assumiu qualquer culpa pelo ataque. Os aliados de Netanyahu permaneceram calados sobre o papel do primeiro-ministro e alguns rivais aderiram ao gabinete de guerra, defendendo os bombardeios israelenses que, segundo o Hamas, provocou mais de 9.700 mortes na Faixa de Gaza.

Reuven Hazan, professor de Ciências Políticas na Universidade Hebraica de Jerusalém, afirmou que Netanyahu é um político "brilhante" que está ganhando tempo. "Ele sabe que está lutando pela sobrevivência e cada decisão que toma nesta guerra é orientada a garantir sua sobrevivência", disse.

Ao ser questionado sobre uma possível renúncia, Netanyahu afirmou: "A única coisa que pretendo ver renunciar é o Hamas". O líder do governo mais à direita da história de Israel, que iniciou o primeiro mandato em 1996, admitiu que precisa apresentar "respostas" sobre os ataques, mas apenas depois do fim da guerra.

Para deixar o cargo de primeiro-ministro, Netanyahu terá que renunciar ou perder a maioria parlamentar de seu partido em coalizão com partidos judeus de extrema-direita e ultraortodoxos.

O empresário do setor de tecnologia Ammon Shashua declarou que o governo de Netanyahu deve ser afastado "imediatamente" por seus "fracassos, dissonância e incompetência".

Líder abalado

A pressão sobre Netanyahu já estava aumentando e para alguns analistas uma resolução é questão de tempo. O primeiro-ministro, que governou Israel durante quase 16 dos últimos 27 anos, enfrenta três casos de corrupção na justiça.

Nos nove meses que precederam o 7 de outubro foram registrados grandes protestos contra a reforma do Judiciário de seu governo, que os opositores chamaram de ameaça para a democracia israelense.

Antes dos atentados do Hamas, Israel estava "se despedaçando", afirmou Hazan, "mas agora não há política devido à guerra". "Em algum momento a política voltará. Então, haverá questionamentos e os protestos retornarão", acrescentou.

Quando a guerra terminar, o governo provavelmente ordenará uma comissão de inquérito – uma comissão governamental com relativamente pouco poder ou uma comissão nacional mais independente.

Se Netanyahu for considerado responsável pelos ataques, seu problema político pode tornar-se crítico. O governo alertou que a guerra vai durar meses e Netanyahu não é obrigado a convocar eleições em um prazo de três anos, mas os analistas não acreditam que ele vai durar tanto tempo.

"Todo mundo sabe que ele está abalado", afirmou Hazan. As pesquisas indicam que o candidato preferido dos israelenses no momento é o centrista Benny Gantz, um ministro sem pasta no gabinete de guerra, que estava na oposição.

"O legado de Netanyahu foi destruído tanto pela divisão que ele semeou com a reforma do Judiciário como pelas múltiplas falhas que permitiram o ataque de 7 de outubro", disse Toby Greene. "Muitos israelenses consideram que as duas questões estão relacionadas", conclui.

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