O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, chegou nesta terça-feira (20) ao Brasil, que está mergulhado em uma crise diplomática com Israel depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou a guerra em Gaza ao Holocausto.
Blinken chegou à Brasília no final do dia para o início de uma viagem que também o levará à Argentina, constatou um jornalista da AFP.
Na capital federal, ele se reunirá na quarta-feira (21) com Lula. O Brasil ostenta atualmente a presidência do G20 e a conversa promete ser animada.
No domingo, o presidente Lula acusou Israel de cometer um "genocídio" contra os palestinos na Faixa de Gaza e comparou a ofensiva israelense ao extermínio dos judeus pelos nazistas.
"O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula.
Israel, que recebe apoio militar e diplomático dos Estados Unidos, declarou-o "persona non grata" por meio de seu primeiro-ministro, Israel Katz.
Nesta terça, os Estados Unidos anunciaram que discordam destas declarações, as mais duras de Lula sobre a guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas.
"Obviamente, nós discordamos destes comentários. Temos sido muito claros em que não acreditamos que o que tem ocorrido em Gaza seja genocídio", disse a jornalistas o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
O Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, por sua vez, acusou seu homólogo Katz de recorrer a "mentiras" e de ter tratado Lula de forma "revoltante".
A guerra foi desencadeada pelo ataque do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, que deixou cerca de 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados israelenses.
Os combatentes palestinos também capturaram 250 pessoas, das quais 130 ainda estão sequestradas em Gaza, incluindo 30 que teriam morrido em cativeiro.
Em represália, lançou em retaliação uma ofensiva para "aniquilar" o Hamas, que provocou pelo menos 29.195 mortes, a maioria mulheres e crianças.
O secretário de Estado também participará de uma reunião de ministros das Relações Exteriores do G20, entre quarta e quinta-feira, no Rio de Janeiro, na qual também deve estar presente seu par russo, Sergei Lavrov.
Oficialmente, nenhuma reunião entre os dois está prevista, e parece improvável devido ao tumulto causado pela morte na prisão, na sexta-feira, do opositor russo Alexei Navalny.
Os países ocidentais, com os Estados Unidos à frente, responsabilizam a Rússia por sua morte.
Discordância sobre Venezuela
Esta será a primeira visita de Blinken como secretário de Estado ao país. As relações entre os Estados Unidos e o Brasil melhoraram desde o retorno de Lula ao poder em 2023, que sucedeu Jair Bolsonaro, próximo do republicano Donald Trump.
O presidente brasileiro já visitou Washington para se encontrar com seu homólogo, o democrata Joe Biden.
Os dois líderes compartilham objetivos na luta contra as mudanças climáticas, na defesa dos direitos dos trabalhadores e nos valores democráticos, mas há muitos outros temas que os separam, começando pela Ucrânia.
Lula se opõe à política de isolamento da Rússia adotada por Washington desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, por considerar que o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, e os países do Ocidente compartilham responsabilidade pela guerra.
Outro ponto de discórdia é a Venezuela: Lula permanece em silêncio, ao contrário dos americanos, diante dos obstáculos para que alguns candidatos opositores ao presidente Nicolás Maduro participem das eleições previstas para o segundo semestre deste ano.
Reunião com Milei
O Brasil tem "importantes laços e conexões com as autoridades de Maduro e é capaz de lhes enviar mensagens-chave", declarou na sexta-feira o secretário de Estado adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Brian Nichols.
Também se espera que Blinken fale com alguns países sobre o apoio ao Haiti, que enfrenta uma grave crise humanitária e de segurança, em um momento em que a comunidade internacional tem dificuldades para formar uma força policial multinacional sob os auspícios do Quênia.
O governo Biden compreendeu, após um ano do mandato de Lula, que eles "podem ser bons amigos, aliados às vezes", mas não sempre, afirmou Bruna Santos, diretora do Brazil Institute do Wilson Center.
Segundo Santos, os brasileiros consideram que o governo Biden tem pouco interesse na América Latina. "Há uma sensação de que esse relacionamento não está à altura de seu potencial", disse.
Na Argentina, Blinken se encontrará nesta sexta-feira com o presidente ultraliberal Javier Milei, frequentemente comparado a Trump.