Onze crianças ucranianas levadas para a Rússia e os territórios ocupados durante a guerra foram recebidas com emoção por parentes nesta terça-feira (20), após cruzarem a fronteira procedentes de Belarus.
Esse é o quarto e mais numeroso grupo de menores repatriados graças à mediação do Catar, disse à AFP na fronteira o mediador ucraniano, Dmitro Lubinets.
Familiares aguardaram por mais de seis horas em um posto fronteiriço usado com fins humanitários para abraçar as crianças. "Estou feliz, é isso", disse Oleksandr, o mais velho do grupo de menores, cujas idades variavam de 2 a 16 anos.
Com um sorriso tímido, o adolescente disse sentir "felicidade e um pouco de nervoso". "Fora isso, está tudo bem. Meu pensamento principal é de que minha nova vida está começando."
Viktoria, 47, tia de Oleksandr, contou que a odisseia do jovem, natural de Sievierodonetsk, começou em julho de 2022, quando o carro em que fugia foi bombardeado na região de Lugansk, o que causou a morte de sua mãe e de seu irmão mais velho.
'Vamos comemorar'
Desde que começou a guerra, em fevereiro de 2022, Viktoria só havia conseguido falar com o sobrinho uma vez por telefone, e viajou três vezes até a fronteira para procurá-lo. "Parecia que a nossa situação estava bloqueada, mas tudo se resolveu", comemorou.
O adolescente foi enviado para um internato público em Lugansk, cidade ucraniana ocupada, onde ficou sem seus documentos, contou Viktoria.
Oleksandr vai morar com a tia em Zhimotir, perto de Kiev. "Vamos comemorar e apresentar a cidade para ele."
Sergiy, 36, que trabalha na área de informática em Kiev, veio buscar os sobrinhos Lev, 13, e Zhazmin, 10, pronto para se tornar um pai para eles, diz, sorrindo.
Após a morte de seus pais, as crianças haviam sido acolhidas perto de Moscou por um parente distante, "que não tinha nenhuma vontade de cuidar delas" e as enviou de volta para Mariupol, ocupada pela Rússia.
Mediação do Catar
O grupo foi recebido ontem na embaixada do Catar em Moscou. Entre eles havia duas crianças gravemente doentes, que foram levadas ao hospital.
"O Catar é quem mais está nos ajudando", contou Dmitro Lubinets, ressaltando que, antes da mediação, observava "que a parte russa estava relutante em realizar esses processos. Hoje, é muito mais fácil."
O Catar, que ajudou a repatriar 30 crianças ucranianas desde julho de 2023, está disposto a contribuir para outros retornos, informou à AFP o embaixador Hadi Al-Hajri. "Estamos abertos a todas as possibilidades: trazer prisioneiros de guerra, prisioneiros políticos e crianças."
A Ucrânia acusa a Rússia de ter deportado milhares de crianças das regiões que ocupa em seu território. Moscou nega a acusação e afirma que "o reassentamento" tem o objetivo de garantir a segurança dos menores e que está disposta a entregá-los a seus parentes na Ucrânia se assim solicitado.
O Tribunal Penal Internacional emitiu no ano passado ordens de prisão contra o presidente russo, Vladimir Putin, e a comissária para os Direitos das Crianças, Maria Lvova-Belova, por "crimes de guerra" devido a essa política, uma decisão que o Kremlin considera nula.