Após meses de "silêncio ensurdecedor", o Conselho de Segurança da ONU exigiu, nesta segunda-feira (25), um "cessar-fogo imediato" em Gaza, em um apelo bloqueado várias vezes pelos Estados Unidos, que nesta ocasião se abstiveram, irrigando seu aliado israelense.
A resolução, adotada entre aplausos por 14 votos a favor e uma abstenção "exige um cessar-fogo imediato para o mês do ramadã" que conduza a uma trégua duradoura e "à libertação imediata e incondicional de todos os reféns".
"Este banho de sangue durou tempo demais [...] Afinal, o Conselho de Segurança assume sua responsabilidade", disse o embaixador argelino Amar Bendjama, um dos promotores da iniciativa.
Este voto "deve ser um ponto de inflexão [...] Deve assinalar o fim desta avalanche de atrocidades contra nosso povo", acrescentou, com voz embargada, o embaixador palestino, Riyad Mansour, que qualificou este de um "dia histórico".
Embora as resoluções do Conselho sejam vinculantes, os países afetados as ignoram com frequência.
Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, "esta resolução deve ser aplicada" porque "seu descumprimento seria imperdoável", disse em mensagem publicada no X (antigo Twitter).
O ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, já havia assegurado que Israel não vai por fim à sua guerra "enquanto houver reféns em Gaza".
Diferentemente do texto americano rejeitado na sexta-feira pelos vetos chinês e russo, esta resolução não vincula suas exigências aos esforços diplomáticos de Catar, Estados Unidos e Egito, embora reconheça a existência destes diálogos direcionados a uma trégua acompanhada de uma troca de reféns e prisioneiros palestinos.
Mas a embaixadora americana, Linda Thomas-Greenfield, insistiu em estabelecer um vínculo, pressionando, assim, o Hamas.
"Um cessar-fogo pode começar assim que foi libertado o primeiro refém", disse a diplomata. "Este é o único caminho para assegurar um cessar-fogo", destacou.
Mudança de postura?
Embora a Casa Branca tenha assegurado que a abstenção americana não é uma "mudança de postura", Israel cancelou a visita de uma delegação a Washington.
Alguns observadores consideraram esta uma mudança substancial na postura de Washington, pressionado para limitar seu apoio a Israel em um momento em que a ofensiva israelense matou mais de 32.000 pessoas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Até agora, os Estados Unidos haviam se oposto sistematicamente ao termo "cessar-fogo" nas resoluções da ONU, bloqueando três textos do tipo.
A resolução aprovada hoje é fruto do trabalho dos membros não permanentes do Conselho, que negociaram ao longo do fim de semana com os Estados Unidos para tentar evitar um novo fracasso, segundo fontes diplomáticas.
A resolução pede, ainda, "a supressão de todos os obstáculos" para a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
Muito dividido há anos sobre a questão israelense-palestina, o Conselho de Segurança adotou apenas duas resoluções desde 7 de outubro, das nove submetidas à votação, embora de caráter essencialmente humanitário.
Além disso, os textos aprovados tiveram poucos resultados, já que a ajuda a Gaza continua chegando a conta-gotas, deixando a população à beira da fome extrema.
A nova resolução também condena "todos os atos de terrorismo", mas não menciona os ataques do Hamas de 7 de outubro, que causaram a morte de pelo menos 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.
O Conselho de Segurança e a Assembleia-Geral nunca condenaram especificamente os atentados do Hamas de 7 de outubro, o que irritou Israel.
Embora a resolução adotada nesta segunda tenha se concentrado em um cessar-fogo temporário durante o ramadã, vários países, entre eles a França, insistiram na necessidade de deter os combates no mais longo prazo.
O Conselho também deve "trabalhar pela recuperação e estabilização de Gaza" e "voltar a implantar um processo político destinado a estabelecer uma solução de dois Estados", insistiu o embaixador francês, Nicolas de Rivière, saudando o Conselho por quebrar seu "silêncio ensurdecedor".