O presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu pela primeira vez o tom com relação ao governo venezuelano de Nicolás Maduro, devido à exclusão da principal candidata opositora das eleições presidenciais, ao expressar uma forte condenação junto a seu contraparte francês, Emmanuel Macron.
Em uma coletiva de imprensa conjunta nesta quinta-feira (28) em Brasília ao fim de uma visita de Estado de três dias de Macron, Lula considerou "grave" a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro em 28 de julho.
"É grave que a candidata não possa ter sido registrada (...) Não tem explicação jurídica, política", declarou Lula, que se disse "surpreso" com a notícia.
A Venezuela encerrou o prazo de registro de candidatos na segunda-feira sem que a principal coalizão da oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), pudesse inscrever Yoris.
Presidente francês se posicionou
Macron, por sua vez, condenou "veementemente a exclusão de uma candidata séria e crível deste processo" e instou uma recuperação de sua possibilidade de participar das eleições.
Entenda o caso
Yoris, uma acadêmica de 80 anos, não conseguiu acessar o sistema de inscrição, que estava bloqueado, segundo denunciou a PUD.
Após verificar essa impossibilidade, a principal aliança opositora venezuelana conseguiu registrar outro candidato provisório, Edmundo González Urrutia.
Maduro, que aspira a permanecer no poder por 18 anos, registrou sua candidatura à reeleição na segunda-feira.
As chancelarias do Brasil e da Colômbia manifestaram esta semana "preocupação" com o desenrolar do processo eleitoral venezuelano.
Lula e o presidente colombiano, Gustavo Petro, são vistos como próximos ao governo de Maduro. A Venezuela, porém, reagiu chamando-os de "intervencionistas".
Lula disse que o Brasil "vai tentar assistir a essa eleição". "Quero que as eleições sejam feitas igual a gente faz aqui no Brasil, com a participação de todos", acrescentou.
Emannuel Macron no Brasil
Macron foi recebido nesta quinta com toda pompa no Palácio do Planalto por Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.
O casal o aguardava na rampa de acesso ao edifício modernista, enquanto o francês caminhava sobre um tapete vermelho, ladeado por "Dragões da Independência".
Os dois líderes assinaram 20 acordos em áreas como meio ambiente, inteligência artificial, cooperação financeira, entre outros.
O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) também estava na agenda, e eles o discutiram "com toda honestidade", segundo Macron.
Novo acordo
Na quarta-feira, diante de um público de empresários em São Paulo, o presidente francês criticou o acordo, que classificou como "muito ruim" para ambos os países, e propôs fazer "um novo".
O pacto, negociado desde 1999, prevê eliminar a maioria das tarifas entre as duas regiões e criar um espaço de livre comércio com mais de 700 milhões de consumidores.
Mas após um consenso político alcançado em 2019, a oposição de vários dos 27 países da UE, incluindo a França, bloqueia sua adoção definitiva. Lula, por outro lado, aposta em seu sucesso.
Consultados sobre o assunto nesta quinta, Lula e Macron disseram estar "tranquilos" com seus argumentos e minimizaram as diferenças.
"O Brasil não está negociando com a França. O Mercosul está negociando com a União Europeia", disse o presidente brasileiro.
Após 11 anos um presidente francês visitou o Brasil
Esta foi a primeira visita de um presidente francês ao Brasil em 11 anos.
Macron visitou na terça-feira Belém do Pará, onde em 2025 será realizada a COP30 contra a mudança climática.
Nessa cidade amazônica, anunciou, junto com Lula, um programa para arrecadar 1 bilhão de euros (mais de 5 bilhões de reais) para investir em projetos de economia sustentável na Amazônia Legal e na da Guiana Francesa.
No coração da floresta, o líder francês condecorou com a Legião de Honra, a mais alta distinção francesa, o cacique Raoni, símbolo da luta pela proteção da Amazônia e de seus povos indígenas.
Ambos os presidentes também estiveram na quarta na base naval de Itaguaí, perto do Rio de Janeiro, para a inauguração do submarino "Tonelero", o terceiro de uma série de propulsão convencional fabricados com cooperação francesa.
Macron e Lula demonstraram grande sintonia durante a visita, com a publicação de fotos dos dois sorridentes ou de mãos dadas, que até se tornaram objetos de memes, ao serem comparados a um casal apaixonado.
As cenas contrastaram com as tensas relações que o líder francês teve com o ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022).