Antigo crítico que se tornou fervoroso apoiador de Donald Trump, o senador americano J.D. Vance foi escolhido nesta segunda-feira (15) como companheiro de chapa do ex-presidente para as eleições de novembro, um nomeação que completa sua vertiginosa transformação em uma nova cara do Partido Republicano.
Senador por Ohio, de 39 anos, ex-soldado e autor de "best-sellers", estabeleceu um perfil eclético e nunca deixou de defender no Congresso as principais causas do ex-presidente republicano (2017-2021), como o combate à imigração e a defesa do protecionismo econômico.
"Tenho boa memória. Se hoje você luta politicamente contra Trump e os candidatos que ele apoia, não venha pedir minha ajuda dentro de um ano para aprovar sua legislação ou os projetos que você valoriza", advertiu o congressista no início do ano.
Seus adversários zombaram de seus comentários e correram para assinalar a ironia da situação: antes de defender Trump com unhas e dentes, Vance não se continha ao criticar o bilionário.
Uma vez disse que era "um cara que nunca estará a favor de Trump" e também descreveu o magnata como "idiota" e "nocivo", chegando a se preocupar que ele pudesse ser "o Hitler dos Estados Unidos".
Após a tentativa de assassinato do ex-presidente no sábado, o republicano apontou o dedo para "a campanha de [o presidente Joe] Biden", que apresenta Trump como "um fascista autoritário que deve ser detido a todo custo".
"Essa retórica levou diretamente à tentativa de assassinato do presidente Trump", acusou.
Antes de entrar nas altas esferas da política em Washington, o passado de Vance era, no mínimo, atípico. Cresceu no seio de uma modesta família monoparental no "Rust Belt", uma região do nordeste dos Estados Unidos profundamente marcada pelo declínio industrial, e depois se alistou no exército.
Estudou Direito em uma das universidades mais prestigiadas do país, antes de embarcar em uma carreira no Vale do Silício.
Mas foi um livro, "Hillbilly Elegy", publicado em 2016, que o colocou no mapa. Neste relato autobiográfico, que se tornou um best-seller e foi adaptado para o cinema, Vance narra sua infância caótica em uma América branca marcada pelo desemprego e pelos vícios, e dá voz a uma classe trabalhadora desiludida e "degradada", cheia de ressentimentos.
Fé dos trumpistas
Apenas mais tarde ele se aproximou do movimento trumpista. Seu livro atraiu a atenção do filho mais velho do ex-presidente, Donald Trump Jr., de quem se tornou amigo íntimo. Diz-se que este último desempenhou um papel importante em sua nomeação para o posto de vice-presidente.
Vance adotou os principais temas de Trump, bem como seu tom combativo e seu discurso populista, e ganhou o apoio do bilionário em sua campanha para o Senado em 2022.
"O governo de Biden quer ver Trump morrer na prisão e arruinar sua família. É o maior ataque à democracia da história", criticou no X em março.
E continuou: "Se você é covarde demais para falar, não está preparado para este momento da política americana".
Nova direita
Este pai de três filhos se tornou uma figura popular na televisão, onde é um enérgico e leal defensor do candidato republicano às presidenciais de novembro.
Embora esteja perfeitamente alinhado com as posições de seu chefe em matéria de migração e economia, Vance parece estar mais à direita em outras questões, como o aborto. Ele se manifestou contra as exceções à proibição, mesmo em casos de estupro ou incesto.
Vance se tornou até mesmo um rosto do movimento da "Nova Direita", jovens conservadores que tentam levar o movimento isolacionista e anti-imigração de Trump em uma direção mais radical, descreveu o Politico em março.
"Ao contrário dos apoiadores republicanos mais convencionais de Trump, a corte da Nova Direita de Vance vê Trump apenas como o primeiro passo de uma revolução populista-nacionalista mais ampla que já está remodelando a direita americana", dizia o artigo.
"E, se conseguirem o que querem, em breve remodelarão os Estados Unidos como um todo", concluiu.