Quando o debate eleitoral esquenta, muito se fala sobre intenção de votos, rejeição de candidatos e chances dos postulantes em disputa. Porém, quase sempre os protagonistas do processo ficam em segundo plano: os eleitores.
Na maior parte das vezes, se fala em “o eleitor” ou “o eleitorado”, desconsiderando aspectos importantes que fazem desse conjunto não um bloco homogêneo, mas uma soma de partes que guardam peculiaridades. No entanto, com a complexidade dos fenômenos sociais nos tempos atuais, percepções mais cirúrgicas estão sendo demandadas.
Um dos segmentos que ganhou protagonismo em 2022 foi o dos jovens, visto que, há pouco mais de seis meses do pleito, o TSE indicava que neste ano tínhamos o menor número de adolescentes entre 16 e 17 anos aptos a votar em 20 anos.
O alistamento realizado pela Justiça Eleitoral no mês de março registrou um salto de 45,63%, quando comparado a fevereiro, entre adolescentes de 15 a 17 anos. De qualquer forma, pouco mais de 1 milhão de jovens nessa faixa etária se cadastraram para votar, o que corresponde a 17,1% dessa população. Olhando para 2018, a queda é de 31%. A redução é ainda mais significativa quando se compara com os dados de 2004, chegando a 60%.
Falando sobre jovens, os mais velhos devem lembrar-se das imagens de jovens em 1983, que carregavam, em passeatas, faixas onde se lia “Diretas Já”. Inscrições que transmitiam um desejo compartilhado, e precisavam ser carregadas por, pelo menos, duas pessoas.
Trinta anos depois – nas jornadas de junho de 2013 - vários eram os desejos, às vezes conflitantes entre si, que iam registrados em folha de cartolina, que podem ser carregadas por uma única pessoa. Cada pessoa, um cartaz, um jeito de pronunciar prioridades e expectativas.
A diferença das imagens traz uma luz sobre a mudança na política: não há mais como se presumir uniformidade no voto "jovem", e as análises atuais precisam ser sensíveis a esse fato. A juventude não é mais a mesma, não se insere no mundo da política da mesma forma.
Tampouco é o mesmo cenário político que se tem: se naquele momento, o direito ao voto era o desafio que se colocava para o conjunto da sociedade, e a juventude vocalizava de maneira praticamente uníssona essa aspiração, hoje, outras prioridades são expressas por outras pessoas, não havendo mais um desejo único a ser compartilhado por aqueles que iniciam a idade adulta.
Não se pode dizer que a atuação política dos jovens se reduz às plataformas digitais. Mas a propagação dos discursos de ódio contribui para uma visão negativa da política, o que certamente afasta os jovens e os leva a enxergar a política como ameaça e não como solução. Trazê-los de volta não é simplesmente uma tarefa discursiva; requer disposição para uma renovação genuína, cujos protagonistas devem ser capazes de enxergar além dos seus próprios interesses.
Priscila Lapa e Arthur Leandro, cientistas políticos