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A falta que falar mal do Galo faz

Bonito, feio, depenado. Mas que mora no nosso coração. Esse ano, não poderemos falar mal da alegoria do Galo da Madrugada. Que falta faz!

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Fernando Castilho

Publicado em 11/02/2021 às 11:39 | Atualizado em 11/02/2021 às 15:16
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Uma consulta no Google sobre o termo “Galo da Madrugada” nos levará a mais de 2,4 milhões de menções. Não acontece por acaso. E muito menos sem uma enorme polêmica sobre o figurino que a ave está trajando. Afinal, o Galo da Madrugada é um dos ícones do Carnaval de Pernambuco, assim como é o frevo e a sombrinha colorida.

Mas por que a fantasia do nosso “Gallus Domesticus” provoca tanto debate? Bom, para começo de conversa, o Galo já foi objeto de vários artigos científicos e análises comportamentais de vários pesquisadores brasileiros. Também existe o fato de estar no The Guinness World Records, como o maior bloco de Carnaval do mundo.

Pela primeira vez em 43 anos, o Galo da Madrugada não estará nas ruas saudando o Carnaval

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E exatamente por essa importância é que a não existência de uma alegoria do Galo da Madrugada este ano está provocando uma enorme frustração. Porque pela primeira vez em mais de 25 anos o Carnaval do Recife não terá a escultura ancorando o início da festa.

Estamos envolvidos numa pandemia que não só nos tirou o Galo da Madrugada, mas todo o Carnaval. Aglomerar, que é um verbo símbolo da festa ao redor da escultura, virou um verbo proibido. Uma tristeza que já nos provoca saudades. Vai passar, mas este ano não tem Galo na ponte para se fotografar e contestar sua indumentária.

 

TIÃO SIQUEIRA/JC IMAGEM
Galo da madrugada 2020. - TIÃO SIQUEIRA/JC IMAGEM
Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
- Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
A edição de 2018 não deixou sem assunto quem quis brincar o Carnaval no maior bloco de rua do mundo - Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
Arnaldo Carvalho/JC Imagem
- Arnaldo Carvalho/JC Imagem
Foto: Rodrigo Lobo/Arquivo JC
- Foto: Rodrigo Lobo/Arquivo JC
Foto: Arnaldo Carvalho/ JC Imagem
- Foto: Arnaldo Carvalho/ JC Imagem
Foto: Marcos Michael/Acervo JC
- Foto: Marcos Michael/Acervo JC
Foto: Marcos Michael/Acervo JC
- Foto: Marcos Michael/Acervo JC
Foto: Alexandre Auler/Acervo JC
- Foto: Alexandre Auler/Acervo JC
Foto: Hélia Scheppa/Acervo JC
- Foto: Hélia Scheppa/Acervo JC
Foto: Renato Spencer/Acervo JC
- Foto: Renato Spencer/Acervo JC
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Foto: André Nery/JC Imagem
- Foto: André Nery/JC Imagem
Foto: Marcos Michael/Acervo JC
- Foto: Marcos Michael/Acervo JC

E todo esse debate se ancora na abordagem da figura de mais de 15 metros disposta na Ponte Duarte Coelho, a partir da quinta-feira, não antes de uma enorme expectativa na sua montagem.

Mas basta a alegoria ser parcialmente montada para se iniciar um enorme debate sobre o figurino, sua performance cênica, seu físico revelado na própria escolha da fantasia e, é claro, as cores de seus adereços.
O curioso é que o Galo da Madrugada desperta paixões. Em 2020, sua fantasia cheia de traços de neon deixou maravilhados os foliões que o consideram a melhor roupa dos últimos anos. Foi um dos raros momentos em que ele obteve quase a unanimidade.

Dos últimos anos? Há controvérsias.

Pronto! Bastou essa avaliação para despertar um guerra nas redes sociais. Porque cada folião tem o seu galo imaginário ou sentimental. Afinal, para muita gente, a roupa do Galo da Madrugada de um ano está relacionada ao seu melhor Carnaval e ao amor conquistado com ele, aos pés dele ou a partir de uma selfie tirada com ele ao fundo. O Galo, portanto, também faz a função de cupido.

Mas o que pouca gente lembra é que o Galo nem sempre esteve assentado na ponte que liga o bairro de Santo Antônio à Avenida Conde da Boa Vista.

No governo do então prefeito Jarbas Vasconcelos, ele dividiu as atenções com os reis do Maracatu numa escultura fluvial ao lado da ponte da Boa Vista. Advinha quem ganhou as atenções? A escultura do Galo sobreviveu anos depois sendo colocado sobre a ponte interditada a partir das quarta-feira que antecede o Carnaval.

Uma consulta às imagens das roupas do Galo da Madrugada nos levará a composições esquisitas. Como a de 2019, apelidada pela população de Galo Chester porque, definitivamente, estava acima do peso.
Mas temos dezenas de imagens que provocaram intensos debates como o ano em que apareceu com o nome de Galo Circense numa homenagem ao Circo. Ou no ano em que veio fantasiado de materiais recicláveis, para alegria dos ambientalistas.

O fato é que o simples aviso de que a escultura do Galo da Madrugada será montada já provoca especulações nas rede socais. E, é claro, muito memes. Em termos de montagens de humor do Carnaval, o Gala da Madrugada ganha disparado.

A questão da escultura do Galo virou um da própria agremiação que passou a cuidar de sua produção. Também foi objeto de brigas de artistas plásticos quando Sávio, o criador da escultura original, foi substituído.

Mas o debate se ancora, de fato, na questão da roupa. Por exemplo: no ano que um galo apareceu esguio e fino, o debate se concentrou na acusação de que ele teria sido lipoaspirado e se transformado num galeto.
Injustiça. O objetivo do artista foi de mostrar uma silhueta mais fina e mais jovem, afinal, o Galo da Madrugada já rompeu a barreira dos 40 anos.

O galo também já foi comparado a vários artistas: Pablo Vittar, Reginaldo Rossi, Capiba e Alceu Valença, apenas para citar os mais lembrados.

Uma das marcas desse debate que acontece a partir da quarta-feira que antecede a abertura do Carnaval é que todo mundo tem o seu galo preferido.

Em tempos de pandemia, com o Recife perdendo receitas e mais de 10 mil vidas, não há mesmo clima para se festejar o Galo da Madrugada.

A esperança é que ano que vem ele nos surpreenda e venha com uma grande fantasia. O Galo da Madrugada pós pandemia tem tudo para virar mesmo um grande debate nas redes sociais.

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