Sem Carnaval, saiba o que está sendo feito em Pernambuco para ajudar quem trabalharia na festa
Prefeituras vivem realidades distintas na busca por recursos e alternativas para socorrer financeiramente quem depende da folia
Seria Carnaval. Nas primeiras horas da noite desta sexta-feira (12), as ruas do Centro do Recife que levam em direção ao Marco Zero da cidade estariam abarrotadas de foliões. No sábado, o Galo da Madrugada arrastaria uma multidão. Os papangus de Bezerros estariam na rua no domingo, enquanto as ladeiras de Olinda e Nazaré da Mata receberiam o colorido das fantasias dos brincantes. Por todo o Estado, o momento seria de festa, mas a tragédia da covid-19, que abateu todo o mundo, impactou também essa celebração local. Não poderia ser diferente, e, justamente por ser, pegou a todos despreparados. Se para quem só se diverte, o cancelamento da festa é uma lástima, para quem tira o sustento do Carnaval o momento é ainda mais penoso. Do catador de latinhas ao comércio de fantasias, o prejuízo é imenso e demanda aos gestores municipais uma corrida contra o tempo em busca de alternativas e recursos que possam amenizar a situação.
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Sem os cinco dias de folia, a conta, por baixo, expõe uma fatura negativa de R$ 500 milhões (valor estimado movimentado no Estado durante a folia). O bloco na rua atrai turistas, gera demanda para comércio e serviços, contribuindo diretamente para a arrecadação. Os gestores já contam com um caixa abalado pelos gastos extraordinários gerados pela pandemia em 2020, mas neste momento não podem deixar na mão a população que sobrevive da renda gerada no Carnaval. Sem esse esforço, os danos socioeconômicos podem ser muito piores.
O Recife se prontificou a enviar à Câmara Municipal um Projeto de Lei (PL) para criar o Auxílio Municipal Emergencial (AME - Carnaval do Recife). A proposta do prefeito João Campos (PSB) é pagar mais de R$ 4 milhões para cerca de 160 agremiações e 900 atrações artísticas, entre cantores, grupos, bandas e orquestras que se apresentaram na programação montada pela Prefeitura para celebrar o Carnaval 2020.
“Nosso sonho era realizar mais um grande Carnaval, mas fica adiado para 2022. Com essa medida, mostramos zelo com a cultura do Recife", afirmou Campos.
O auxílio emergencial será pago com apoio da iniciativa privada. A Ambev, patrocinadora máster dos ciclos festivos da cidade, deverá fazer um aporte de R$ 1,5 milhão. A entra na ajuda emergencial pois já tinha fechado com a prefeitura contrato para patrocinar a festa em 2021, já que desde o ano passado a negociação era bianual. O patrocínio, que envolve todos os ciclos festivos da cidade foi de R$ 12 milhões no ano passado, sendo mais da metade do montante usado no Carnaval.
O auxílio pago agora equivale a 50% do valor unitário de cachê, para atrações artísticas, ou de subvenção, para agremiações, tendo por base o Carnaval de 2020, respeitando um teto de R$ 10 mil para cada pagamento, sem nenhuma contrapartida obrigatória dos beneficiários, segundo a prefeitura.
“A gente está vivendo um ano atípico, um momento muito difícil para todo mundo. Na cultura, o impacto da pandemia é muito forte, já vinha há muito tempo. Carnaval significa o momento em que a cultura praticamente ficou impedida de viver o seu ciclo natural, a sua ativação normal, e tem as pessoas que vivem da cultura, fazem da cultura sua paixão, seu ofício”, explica o Secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello. O calendário de pagamentos, no entanto, só deverá ser formalizado após votação, aprovação e sanção do projeto.
Realidade dos municípios
A realidade dos recursos disponibilizados no Recife, porém, não é a mesma de todos os municípios pernambucanos que são considerados também importantes pólos da festa.
Em Olinda, por exemplo, a suspensão do Carnaval 2021 tem gerado uma “discussão prioritária”, conforme afirma a prefeitura em nota, mas nenhuma ação efetiva chegou a ser anunciada a poucos dias do que seria o período festivo este ano.
“O objetivo é garantir amparo à extensa cadeia produtiva do ciclo carnavalesco, que envolve diretamente agremiações, artistas e trabalhadores da cultura, na realização do maior ciclo festivo da cidade. O segmento vem dialogando com a prefeitura, que ainda estuda os caminhos possíveis para minimizar as perdas, inevitáveis diante do impacto da pandemia da covid-19, reforça o executivo municipal, que deverá divulgar “em breve” novidades.
Em Nazaré da Mata, que sedia o tradicional encontro de maracatus rurais, os brincantes dizem que até agora “não foi anunciado incentivo nenhum”. Sem qualquer iniciativa pública, os maracatus esperavam poder pelo menos colocar as bandeiras dos maracatus nas ruas e saudar a tradição com uma queima de fogos, mas teme uma atuação punitiva do Ministério Público, que acompanha a possibilidade das sedes serem abertas, a fim de evitar aglomerações.
No principal polo do Agreste, a cidade de Bezerros, que conta com o desfile dos Papangus, está tentando otimizar os recursos para garantir o mínimo aos ambulantes, artesãos e aos masqueiros (confecção de máscaras) da região.
“O Estado, através da secretaria de Turismo, disse estar à disposição, mas em recursos não chegou nada. O que estamos tentando fazer é com o caixa mesmo da cidade, que já pegamos numa situação bem difícil após a eleição (de 2020)”, conta a prefeita Lucielle Laurentino (DEM).
Só o Carnaval do Papangu atrai em média quatrocentos mil foliões, demandando investimentos da ordem dos R$ 2 milhões. O impacto econômico gerado chega a R$ 10 milhões - receita que não entrará este ano no bolso dos trabalhadores e tampouco complementará o erário. Os 1,2 mil empregos diretos gerados na folia viram um acréscimo negativo a uma conta que a prefeitura precisa resolver.
A pretensão é trazer os ambulantes para ações de conscientização, com distribuição de máscaras e orientações contra a covid-19, garantindo algum pagamento a partir dessa atividade, além de manter, mesmo sem festa, a decoração na cidade, gerando também renda aos artesãos. O poder público local também está instruindo os ambulantes em relação à regularização do cadastro para recebimento de um auxílio de R$ 255 que será pago pela Ambev.
A companhia privada criou a ação junto ao app de entrega de bebidas Zé Delivery, com o intuito de minimizar os impactos econômicos da não realização das festas. A intenção é pagar o valor a 20 mil ambulantes em todo o País. As inscrições podem ser feitas no www.ajudeumambulante.com.br.
O vendedor receberá um valor de R$ 150. Os R$ 105 restantes para complementar os R$ 255 do programa virão de um código, que será distribuído com consumidores para utilização em compras no Zé Delivery. A cada uso no aplicativo, o vendedor ambulante vai receber R$ 5.
No dia 28 de janeiro, quando fora anunciada a suspensão do ponto facultativo da segunda-feira (15/02) e terça-feira (16/02), o governo do Estado, através do secretário de Turismo e Lazer de Pernambuco, Rodrigo Novaes, comprometeu-se a anunciar um projeto de lei com auxílio financeiro para os artistas que iriam se apresentar durante o Carnaval 2021. Até então, com recursos da Lei Aldir Blanc, o Estado repassou cerca de R$ 50 milhões em auxílios emergenciais para a categoria.