Geninha da Rosa Borges, singular e plural, única e muitas, cognominada a “Dama do Teatro Pernambucano,” ela e os seus inúmeros personagens, atriz de muitos atributos, pessoa simples, exemplo de esposa, de mãe, avó, bisavó, tetra avó, expressão viva da ternura humana.
Hoje, cem luas e toda a constelação celestial celebram o centenário da estrela maior das artes cênicas pernambucanas. Pernambuco e o Brasil comemoram um fato e um feito: a nossa Diva, fora do palco, esplende uma vida de trabalhos realizados no plano da arte e da cultura, da pedagogia e da educação; o feito consiste em chegar à casa dos 100 com a admiração de todos os pernambucanos.
Geninha é a única artista viva que participou, em 1939, do primeiro filme inteiramente falado, O coelho sai, de Firmo Neto, a quem conheci e de quem tenho saudades das conversas mantidas na Casa da Cultura.
Teve participação em duas novelas da TV Globo, A Favorita e Da cor do pecado, em ambas com especial brilhantismo.
Quando presidi a Fundação de Cultura Cidade do Recife tive a imensa honra de tê-la como diretora do Teatro de Santa Isabel, o foyer da cultura recifense, onde, segundo Joaquim Nabuco, ali se ganhou a causa da Abolição.
Geninha administrou aquele monumento com elevada competência, mas o amor à Casa e à causa foi a varinha de condão que fez a gestão prosperar como das melhores da história daquele teatro, canto e recanto de grandes espetáculos.
No livro que ela escreveu sobre o Santa Isabel, exclamou: “Não se pode falar do Recife, sem se falar no Teatro de Santa Isabel.”
O Teatro de Santa Isabel guarda, de uma época, virtudes e glórias que não se podem perder na solidão da indiferença ou na eterna exposição do esquecimento.
Depois, quando presidi a Fundarpe, sob a direção de Geninha, levamos ao Parque da Jaqueira o espetáculo Oratório da Paixão, enfocando a condição humana na poesia da acadêmica Maria do Carmo Barreto Campelo, e a Via Sacra, também de Maria do Carmo, nos espaços da Academia Pernambucana de Letras. Geninha deu o toque da teatralidade necessária à consecução da paz espiritual.
Ela representou um sem- número de peças teatrais, todas do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), dentre tantas Um sábado em trinta, a mais famosa pelo número de apresentações, e dirigiu outro tanto de peças, começando por Ierma, esta a pedido de Valdemar de Oliveira, quando estava se ultimando no leito do hospital. Ela, no papel de Lerma, e Pedro de Souza, no de João, os dois protagonizando o grande sucesso dessa peça, de Garcia Lorca.
Geninha, além de suas múltiplas atividades artísticas, licenciou-se em Letras Anglo-Germânicas e em Pedagogia. Em seguida, concluiu cursos de pós-graduação – latu senso – em Teleducação, nos Estados Unidos e no Japão.
Foi ela quem criou o Sistema Teleducativo de Pernambuco, desde 1965, ocupando vários cargos na Secretaria de Educação, todos ligados à teleducação.
Assumiu no Museu da Cidade do Recife a diretoria de eventos, na Fundarpe, a Coordenadoria de Artes Cênicas, o mesmo cargo na Fundaj e, diga-se alto e em bom som, a diretoria do Teatro de Santa Isabel, por quatro quadriênios (1983 até 2000).
Geninha, singular e plural, genial, estrela da nossa pernambucanidade, no brilho de suas cem luas, no esplendor de sua mocidade espiritual.
Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco