Uma querida amiga, professora de sempre, me sugeriu artigo sobre a importância do centenário da Semana de Arte Moderna realizada no "Theatro" Municipal de São Paulo. Não sou profundo conhecedor do assunto, mas topei o desafio.
A Semana de Arte Moderna foi uma revolução de ideias inspirada no vanguardismo europeu e na busca por uma nova estética dos processos artísticos. Pretendeu abraçar uma arte mais com a cara do Brasil. Romper com o formalismo, o academicismo e o tradicionalismo que até então reinavam. Ultimamente, temos sofrido nesse quesito. Basta atentar para a pouca e até fria cobertura da morte de um nome da dimensão de Gal Costa e o alarde que se promove, sobretudo nas redes sociais, da intimidade e dos "hits" das celebridades do momento e das "pérolas" que desafiam o vernáculo e dominam as grades televisivas. Nunca foi tão difícil lecionar o gosto pelos clássicos quanto hoje.
Estudos apontam que o brasileiro lê em média 4 livros por ano, excluídos os didáticos. Um terço da população jamais comprou um livro. Os franceses leem 21 livros por ano em média. Museus são avaliados em pesquisas como locais da elite, inacessíveis, luxos só para os ricos. Na música, a "pimentinha" Elis Regina msegue sendo profética: "O Brasil não conhece o Brasil". Nomes que fora daqui são havidos como gênios (caso de Pixinguinha), aqui são ilustres desconhecidos para a maioria. Já os "influencers" fazem fortunas e acumulam seguidores, tanto quanto conteúdos irrelevantes. Aonde será que nós erramos?
De quebra, o orçamento público para a cultura não raro está entre os primeiros a sofrerem cortes sempre que a economia assim o exige. Mário de Andrade, nome-síntese do modernismo, se reviraria no túmulo vendo essa paisagem passar. Mas não desanimaria. Lutaria. A cultura merece reverter o desmonte e voltar a ser um gênero de primeira necessidade. Há tempo de frear a queda, desde que se unam escolas, Poder Público, famílias e comunidades. Ou então, apaguem-se as luzes que ainda restarem acesas. Não sejamos seguidores de Jim Jones. Sejamos resistência.
Mudando de assunto
O que dizer dos que confundem liberdade de expressão com liberdade de agressão? O protesto confere ao indivíduo o direito de sustentar pela derrubada da democracia e a rebeldia ao resultado das urnas?
Quando se assiste a uma figura acima de picuinhas e de arengas ridículas como Gilberto Gil, um artista mundialmente admirado, ser hostilizado por um outro brasileiro lá no Catar, para onde não é barato viajar, o que isso retrata? Quando magistrados são admoestados no exterior, xingados dos piores nomes, é essa a mentalidade que pretendeu seguir no poder por mais quatro anos?
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado