Em maior ou menor proporção, os últimos anos foram difíceis para todos. Na lista das questões que nos impactaram, mesmo que de forma diferente, estão a reflexão coletiva sobre a vida a partir da pandemia, o futuro do trabalho, as incertezas dos negócios, do emprego, e o rompimento das relações pessoais devido aos diferentes pontos de vistas. É uma lista reduzida, mas capaz de causar efeitos de longo prazo. E é exatamente sobre isso que inicio este ano refletindo. Sobre o quanto essa dinâmica de divisão de expectativas e a busca pela imposição das opiniões pessoais sobre o todo prejudica - fortemente - os mais pobres.
Por quanto tempo aqueles que passam parte da vida sem acesso aos seus direitos mais básicos ainda precisarão sofrer assistindo à falta de prioridades da sociedade e dos governantes? O País precisa retomar seu ritmo econômico, com geração de oportunidades, confiança do empresariado e o compromisso do ente público com aquilo que é de sua exclusiva responsabilidade.
E o conjunto da sociedade deve entender que tais questões não estão no endereço alheio. Seja para cobrarmos ou para participarmos da solução, todos estão, de alguma forma, envolvidos. É imperativo refletir e agir agora sobre a miséria brasileira. Independente de lado, não há mais tempo para prolongar esse debate. As necessidades dos mais vulneráveis não têm partido. É desumano da nossa parte lançar para as pessoas mais humildes os efeitos cruéis da falta de prioridade das gestões.
Um país que quer crescer e estar entre as maiores economias mundiais não pode seguir assistindo indicadores tão vergonhosos sobre a pobreza extrema. Voltamos ao mapa da fome da Organização das Nações Unidas (ONU) e nos deparamos, em meados de 2022, com 33 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, segundo estudo do Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia.
Nos setores em que atuamos no nosso grupo empresarial, o ano que se encerrou mostrou leve recuperação frente ao de 2019 - ano pré-pandemia e usado como referencial econômico diante das distorções causadas pela Covid em 2020 e 2021. Olhamos para 2023 ainda temerosos com relação à geração de emprego e de renda - pontos que são impulsionadores da retomada sustentável da economia brasileira e que garantem, de forma digna, as necessidades básicas das famílias.
Sem alimento, não há educação, não há capacidade de trabalho, não há saúde, não há nada. Precisamos firmar um novo pacto social onde a fome seja um problema da Nação. Porque é mesmo. Apenas depois de acabar com ela é que o País pode ser digno de sonhar com outras demandas - e são muitas as nossas carências. Mas nenhuma tão urgente quanto o alimento. E isso deve ser uma questão do município, do Estado, do Governo Federal, meu, seu, de todos nós. Reduzir a miséria deve ser um compromisso da Nação.
João Carlos Paes Mendonça, presidente do Grupo JCPM e do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação