Segundo o Ministério de Relações Exteriores 4,2 milhões de brasileiros residem no exterior. Em Portugal, o número de brasileiros cresceu pelo quarto ano consecutivo, atingindo em 2020 o recorde de 183.993 residentes, de acordo com o SEF - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal. O portal consular do Itamaraty registra que 1,7 milhão de brasileiros estão nos EUA e cresce o número de profissionais qualificados que deixaram o país para morar e trabalhar lá. Em 2020, foram concedidos cerca de dois mil vistos de residência para profissionais com "habilidades excepcionais", incluindo profissionais de saúde, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA.
Há um boom na saída de profissionais de saúde para o exterior. A maioria vai em busca de valorização profissional e pelo investimento em pesquisas nesses países. São médicos, enfermeiros, dentistas, fisioterapeutas. Os países desenvolvidos, estão carentes desses profissionais e ávidos por recebê-los.
Jovens cientistas também deixam o país. São líderes nas suas áreas, o tipo que não se quer ver sair do país, afirma Hugo Aguilaniu, diretor-presidente do Instituto Serrapilheira, no Rio de Janeiro. Portugal, Canadá, EUA, Emirados Árabes, Alemanha, Espanha, Austrália, Suiça, entre outros, são países que investem em pesquisas, têm Centros de Inovação respeitados internacionalmente, são atrativos para esses jovens.
A pandemia acelerou a contratação de talentos brasileiros por empresa internacionais. Os profissionais sequer precisam sair do país para trabalhar no exterior. A tão falada fuga de cérebros é também virtual, o que potencializa ainda mais esse efeito. A competição por profissionais qualificados é cada vez mais acirrada, principalmente, na área de tecnologia, mas também em marketing, infraestrutura e design. As empresas de recrutamento Robert Half, Michael Page e Randstad, entre outras, têm experiência nesse processo.
Empreendedores também vão. Instalam-se nos paises desenvolvidos e administram suas empresas à distância ou as vendem à corporações e fundos de investimentos globais. E adeus, Brasil.
São muitos os motivos para esse êxodo, mas é consensual a falta de perspectiva no futuro do país. Isso causado pelo desarranjo político brasileiro e por uma economia instável que elimina a crença de que o país poderá se tornar uma nação desenvolvida. Entre 1980 e 2021, o país cresceu menos do que a média mundial ou de outras economias semelhantes. A participação no PIB mundial encolheu pela metade nesse espaço de tempo.
Outros motivos são repetitivos em pesquisas: elevado indicador de criminalidade e corrupção; serviços públicos de saúde, educação e segurança precários, obrigando as famílias de classe média a contratar serviços privados; dificuldade em abrir e sustentar negócios; oportunidades restritas para progredir na carreira em empresas privadas e o serviço público está inchado e ineficiente.
Além desses, um motivo que se destaca: a lamentável imagem que o Brasil é um país de golpistas. Proliferam golpes de toda natureza: em cartões de créditos e caixas eletrônicos, famílias com filho 'sabidinho"; empresas com fins ou sem fins de lurcos, em que acionistas e/ou conselheiros formam conluios para atender seus interesses pessoais, podendo envolver diretores; políticos com inúmeras estratégias para praticar corrupção, entre tantos outros inimagináveis num país educado, com baixo nível de corrupção.
O exposto retrata casos e fatos que, para um número cada vez mais crescente de brasileiros, o livro publicado em 1941, "Brasil, um país do futuro", é uma ilusão que não se enxerga na realidade. O custo da boa cidadania mostra ser alto demais para muitos que aqui vivem. Não haverá futuro próspero para o Brasil enquanto representantes expressivos da sociedade cuidarem apenas do que impactarem os seus interesses, se deixando capturar pela falácia do discurso populista, gerador e estimulador de polarização. A solução para reverter os problemas crônicos do país e, consequentemente, inibir a exportação de talentos, requer o resgate da cidadania, com instituições publicas e privadas de excelência, verdadeiramente democráticas.
Eduardo Carvalho, Autor do Livro Por um Brasil digno