O prazer da existência

Um seguir adiante em caminhadas desconhecidas. Há tantas surpresas! Que todas abracem os nossos delírios em dimensões amplas e inesquecíveis. Seremos sempre um novo Eu na amplitude do Universo.
FÁTIMA QUINTASfquintas84@terra.com.br
Publicado em 12/04/2023 às 0:00


Tenho com a noite uma relação especial. O céu mais tranquilo com luzes variadas, as sombras nas nuvens e uma sensação de silêncio me conduz à vastidão do universo. Gosto de dormir tarde e os incógnitos sonhos se prolongam com a máxima espontaneidade. Relaxo e procuro meditar. As lembranças aguçam o querer, sou um intenso poço de recordações. O que já passou retorna e o traçado do tempo se delineia com o meu próprio pensamento. Aprecio retomar acontecimentos que partiram, porém deixaram marcas profundas. Vou e volto em uma toada de revivências. Escureço o quarto e, na penumbra, entrego-me aos detalhes do passado. Reavivo a mente com força total, como se o ontem me trouxesse o ânimo das aventuras já em esquecimento. Nada se perde no jogo da reestruturação. A lembrança tem o dom de descobrir a vida — são estímulos que se prolongam pelo mundo afora...

E os fatos acontecem com o máximo ensejo. Revisitar os dias representa um dos grandes estímulos do entretempo. Quantas miragens se alongam na passagem de épocas! Nada mais valioso do que reinterpretar o vivido, um imenso prazer no fluxo do real. Hoje, de um jeito; ontem, de outro e assim caminha a humanidade... Somos todos iguais à guisa de novas transparências. Os tópicos se misturam e ganham uma dimensão extraordinária. Será que o ontem se transforma em realidade invisível? A imaginação excede os limites. Jamais recua diante de um lembrar infinito. Sonhar constitui o que há de mais verdadeiro na capacidade humana; transforma situações e reelabora-as intensamente. Somos todos múltiplos nos desejos. O cérebro transborda em intensas vibrações. Nada tão belo quanto a reformulação de vivências que já se passaram. Ir adiante em futuras animações revela o poder da nossa capacidade criativa. Tenho somente duas mãos e todo o entusiasmo em recuperar vivências que se agigantam minuto a minuto.

Quantas paisagens me instigam! Não há limites para os desejos. Ainda que o viver possua grandes reparos, vale a pena retomá-los infinitamente. Exagero na dimensão da existência? Creio que não. Impossível estagnar lembranças que se acumulam na intensidade do querer de cada um. Estarei sempre pronta diante da evolução de fatos ultrapassados que se transmudam em cenários inovadores. As paisagens ganham novas interpretações, quantas e quantas... O humano detém poderes indefinidos. Ainda bem. Então, estaremos sempre alimentando revoluções mentais. Inventar e reinventar se traduzem em elementos quase divinos, um acúmulo de sensações eternizantes.

Fecho os olhos e renovo as cenas que existem. Estarei sempre pronta para dilatar a minha imaginação. Que as brisas adquiram a fluidez das eternas esperanças. Não há como limitar anseios. A meditação representa o grande trunfo de todos nós. Um seguir adiante em caminhadas desconhecidas. Há tantas surpresas! Que todas abracem os nossos delírios em dimensões amplas e inesquecíveis. Seremos sempre um novo Eu na amplitude do Universo. Assim, jamais limitarei o querer. Ao contrário: dilatarei a imensidão do incógnito em gestos inesquecíveis.

Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras
fquintas84@terra.co.br.

 

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