O Brasil não é o bicho-papão…

O Brasil não é o bicho-papão do aquecimento global. Temos problemas evidentes, mas eles estão sendo enfrentados com responsabilidade e resiliência por nossas lideranças
OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS
Publicado em 22/07/2023 às 0:00
Sede da ONU, em Nova Iorque: s países, as organizações oficiais e as organizações não oficiais podem assegurar um mundo habitável Foto: Divulgação


O Núcleo de Estudos Prospectivos (NEP), um Think Tank vinculado ao Estado-Maior do Exército, discutiu recentemente quatro temas de interesses do Exército Brasileiro e que gerarão "policy papers" para avaliação dos membros do Alto-Comando.

A discussão foi densa, com pesquisadores, mestres e doutores, civis e militares, reconhecidos estudiosos dos temas, provocando debates que merecem ser iluminados ao leitor.

Tratou-se da Estratégia e Política de Defesa: bases para o planejamento militar; do Reordenamento internacional e geopolítica da América do Sul; do ambiente informacional e a guerra do futuro; e, das Mudanças climáticas, segurança nacional e emprego militar.

Diante da exiguidade de espaço, noticiemos neste artigo as questões da mudança climática.

Segundo um dos interlocutores, a fase de contraponto à posição majoritária de combate à escalada de aquecimento global já passou e o momento é de avançar uma casa, buscando soluções ao enorme desafio.

Respeitando a posição do analista, ao avançarmos sobre as soluções, não podemos abdicar de continuar avaliando o tema, estudando-o sob vários ângulos, pois me parece ainda carecermos de melhores métricas de mensuração.

No livro FACTFULNESS (Record, 2019), os autores põem a lupa nas comparações para analisar e questionar dados rotineiramente divulgados e defendidos como inquestionáveis.

Faço isso ao buscar informações em uma tabela sobre emissão bruta de CO2 divulgada no sítio Dados Mundiais e que contempla 104 países (https://www.dadosmundiais.com/co2-por-pais.php).

No documento aparecem liderando essa negativa estatística, a China como geradora de 12,13 bilhões de toneladas, seguida dos Estados Unidos com 5,07 bilhões e da Índia com 2,90 bilhões.

O Brasil, com 863,65 milhões, encontra-se na 7ª colocação.

Com outro enfoque, o gráfico expressa números per capita e, desta feita, observa-se dentre esses países de referência os Estados Unidos, em 14° lugar, com 15,27 toneladas por pessoa, a China, em 24º lugar, com 8,51 toneladas, o Brasil, em 67° lugar, com 4,03 toneladas e a Índia, apenas em 82° lugar, com 2,03 toneladas.

Nessa abordagem o vilão é o Qatar, com emissão de 44 toneladas por pessoa. Faço uma provocação: quanto o Qatar, um país com 2,8 milhões de habitantes e 11.400 km2, pode, de fato, impactar para um desequilíbrio ambiental?

O problema do aquecimento global é muito preocupante, mas nós não podemos ser ingênuos quanto aos interesses difusos que ele pode incorporar.

A discussão passa, além de estudos científicos qualificados e sedimentados, por compreender a questão da comunicação dominante no mundo contemporâneo promovida por grandes grupos ou potências.

Exemplifico: se a opinião pública europeia, que sofre hoje com uma onda insuportável de calor, for convencida que seu sofrimento é fruto do descontrole de queimadas na região Amazônica, será difícil, mesmo que provas sejam mostradas em contrário, demovê-la dessa certeza.

Nesse contexto, o governo brasileiro vem alinhando seus esforços para combater todas as formas de ofensa ao equilíbrio ambiental em seu território, ao tempo em que busca, no âmbito externo, divulgar essa postura de enfrentamento ativo ao problema.

Como partícipe do esforço de governo, as Forças Armadas brasileiras vêm colaborando em muitas operações de garantia da lei e da ordem que têm como foco a proteção ao meio ambiente, aos povos indígenas, o combate aos crimes transnacionais, aos garimpos ilegais e ao desmatamento desordenado dos nossos biomas.

O Brasil não é o bicho-papão do aquecimento global. Temos problemas evidentes, mas eles estão sendo enfrentados com responsabilidade e resiliência por nossas lideranças.

O mundo precisa restabelecer o sentido de senso comum, vencer divisões tribais e olhar para o futuro. Os países, as organizações oficiais e as organizações não oficiais podem assegurar um mundo habitável. Trabalhem juntos.

 

TAGS
meio ambiente Amazônia ONU
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory